Por: André | 23 Março 2012
A comunidade indígena equatoriana chega à capital após duas semanas de marcha para exigir do Governo Correa mudanças na mineração em larga escala e leis sobre o acesso à água e redistribuição das terras.
A reportagem é de Paúl Mena Erazo e está publicada no jornal espanhol El País, 22-03-2012. A tradução é do Cepat.
A capital equatoriana será hoje (22 de março, quinta-feira) cenário de massivas mobilizações a favor e contra o Governo de Rafael Correa. A marcha convocada pela maior organização indígena do país chega a Quito após duas semanas percorrendo o Equador contra a política governamental de mineração em larga escala e por leis que garantam o acesso à água e à redistribuição das terras. Em contrapartida, partidários do Executivo se concentram nos arredores do Palácio do Governo e em outros locais da capital em apoio ao presidente.
Cerca de 2.700 membros da Polícia equatoriana vigiam as ruas e praças de Quito. Os indígenas prevêem entrar em grande número na capital pelo sul e norte da cidade, enquanto que a ministra coordenadora da Política, Betty Tola, anunciou que cerca de 60.000 partidários do governo se reunirão nesta quinta-feira. Ambos os setores disseram que suas manifestações serão pacíficas.
Na noite desta quarta-feira, o presidente Correa foi à Praça da Independência, em frente ao Palácio do Governo, para agradecer aos seus simpatizantes que já se encontravam no local. “Somos a imensa maioria e esta revolução ninguém para”, reiterou o presidente, que, no entanto, abriu a possibilidade de um diálogo com os dirigentes indígenas. “Jamais fechamos as portas ao diálogo”, assinalou Correa, mas advertiu que não receberá “os politiqueiros oportunistas” que, segundo o governo, rodeiam a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), organizadora da mobilização.
Os dirigentes indígenas, por sua vez, prepararam uma série de questões que procuram entregar nesta quinta-feira [ontem] ao governo e à Assembleia Nacional. Portanto, o presidente da Assembleia, Fernando Cordero, da situação, anunciou que receberá durante a tarde deste 22 de março os dirigentes indígenas para tomar conhecimento de suas demandas. Os indígenas exigirão que se cumpra a norma da Constituição equatoriana que dispõe sobre a consulta às comunidades sobre projetos de exploração de recursos não renováveis que se encontram em suas terras. Estas consultas não são vinculantes, mas os dirigentes da Conaie reiteraram que esperam que nelas se busquem consensos antes que “imposições” do governo.
Correa reiterou nas últimas horas que seu governo alavanca uma mineração responsável social e ambientalmente, repetindo sua frase de que “não podemos ser mendigos sentados sobre um saco de ouro”. O presidente socialista assinou no começo deste mês um contrato com a chinesa Ecuacorriente para a exploração de cobre na província [Estado] de Zamora Chinchipe, justamente o local a partir do qual partiu a marcha indígena rumo a Quito no dia 08 de março passado. O governo está prevendo até meados do ano a assinatura de um novo contrato para outro megaprojeto mineiro, desta vez com a canadense Kinross para a extração de ouro na mesma Zamora Chinchipe, no sudeste do Equador. No final do dia se saberá se a mobilização indígena dará lugar a um processo de diálogo com o governo. No passado, protestos indígenas efetuados neste e em governos anteriores desembocaram em mesas de diálogo, as quais, no entanto, não conseguiram se fixar no tempo. Enquanto isso, os dirigentes da Conaie esperam que um possível diálogo produza resultados.
A Conaie teve um papel determinante na queda dos presidentes Abdalá Bucaram (1997) e Jamil Mahuad (2000), mas ficou fragilizada após sua participação no governo do também defenestrado Lucio Gutiérrez. E agora, depois de ter apoiado Rafael Correa no início de seu mandato, os dirigentes indígenas buscam recuperar sua força.
O presidente da Conaie, Humberto Cholango, ressaltou o apoio que a marcha indígena recebeu de vários dirigentes aborígenes da Serra e Amazônia equatorianas, e frente às acusações do governo de que a mobilização procura desestabilizar o Executivo, o líder indígena reiterou que “não há nenhuma desestabilização, não há nenhuma tentativa de ruptura da ordem constitucional”.
As marchas e contramarchas desta quinta-feira no Equador coincidem com a comemoração do Dia Mundial da Água, e acontecem em um clima político com vistas às eleições presidenciais e legislativas que acontecerão em fevereiro de 2013. E tal foi a atenção que os protestos indígenas causaram, que Manu Chao e Calle 13 chegaram a se manifestar, na terça-feira passada em um concerto em Quito, contra o que chamaram de “mineração poluidora”.
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Os indígenas marcham sobre Quito em protesto contra a política de mineração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU