19 Março 2012
A desaceleração da economia da China tornou-se o principal foco de preocupação para a América Latina entre os participantes da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), neste fim de semana em Montevidéu, Uruguai.
A informação é do jornal O Estado de S. Paulo, 18-03-2012.
Outros riscos que também estão no radar dos líderes latino-americanos incluem a forte entrada de capital estrangeiro, devido à grande injeção de liquidez pelos bancos centrais de países ricos, e a crise da zona do euro, embora a recente troca da dívida da Grécia, com novos desembolsos de ajuda financeira, tenha arrefecido o sentimento de pânico em relação à Europa.
"A China é agora o grande tema que os países latino-americanos têm de se preocupar", afirmou à Agência Estado Phil Suttle, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), entidade mundial que representa os bancos e credores privados. "Uma desaceleração da economia terá um efeito negativo sobre os preços de commodities e isso tem um peso muito grande para a América Latina."
Um estudo do BID a ser divulgado hoje também chama a atenção para os riscos que a China poderá trazer ao crescimento da América Latina. O cenário-base que os economistas do BID traçam para 2012 ainda embute expansão de 8,5% para a segunda maior economia mundial e não leva em conta a nova meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês de 7,5% já anunciada pelo governo.
Mas, num cenário negativo, onde a Europa entraria numa recessão, os economistas do BID estimam que o PIB chinês poderia recuar até 3 pontos porcentuais. Se um choque dessa magnitude afetasse o PIB chinês, os preços das commodities cairiam mais de 30%, na projeção do BID, o que afetaria não apenas exportadores de metais, como Chile, Peru e Brasil, mas também os que vendem commodities agrícolas aos chineses, como o próprio Brasil e a Argentina.
"Se o crescimento da economia chinesa ceder para um patamar ao redor de 7,5%, os preços do cobre, do minério de ferro, da soja e de outras commodities devem sofrer uma queda, prejudicando as economias latino-americanas", disse Suttle, do IIF. Ele não crê, contudo, numa desaceleração drástica da China no curto prazo, o que dá tempo e espaço para os países latino-americanos preparem-se para o ciclo menos expansionista.
O diretor para Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Nicolás Eyzaguirre, também não vê a China como um risco grande no curto prazo, mas considera a economia asiática um risco real no médio prazo. "Um possível ciclo de excesso de investimento na China é uma preocupação para o médio prazo", disse Eyzaguirre em entrevista a jornalistas durante a reunião do BID. De qualquer forma, ele vê a ameaça de desaceleração da China como fonte de preocupação para os exportadores da América Latina.
Há o consenso de que o perigo mais imediato para os países da América Latina reside na enxurrada de capital estrangeiro que vem causando excessiva valorização das moedas latino-americanas e prejudicando as indústrias da região. "O forte fluxo de capital destinado aos mercados emergentes que estamos vendo neste momento não deverá acabar no futuro próximo e isso é uma ameaça real para a América Latina", disse Suttle.
Na opinião do presidente do BID, Luis Alberto Moreno, é legítimo que os países latino-americanos, cujas moedas sofrem valorização excessiva por causa da entrada de um enorme fluxo de capital, adotem medidas para proteger suas economias. "As medidas que o Brasil, por exemplo, vem adotando são muito pragmáticas, isto é, as medidas visando combater o fluxo de capital de curto prazo, dinheiro que simplesmente busca a arbitragem de taxas de juros, afetando a moeda brasileira."
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Desaceleração chinesa preocupa América Latina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU