Por: André | 17 Março 2012
O arcebispo de Regensburg está na posição mais avantajada para suceder Levada como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A decisão de Bento XVI virá depois da Páscoa.
A informação é de Marco Tosatti e está publicada no sítio Vatican Insider, 14-03-2012. A tradução é do Cepat.
Depois da Páscoa, e assim que retornar de sua viagem ao México e Cuba, Bento XVI enfrentará um dos problemas que mais lhe importam: a sucessão de William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. É um dos postos mais importantes no organograma da Cúria e da Igreja, e Bento XVI bem sabe disso, ele que dirigiu a Congregação durante um quarto de século. Caso se atender a alguns rumores no Vaticano, parece quase fato consumado: o sucessor de Levada será o cardeal Gerhard Ludwig Müller, arcebispo de Regensburg.
Gerhard Ludwig Müller é um homem de uma personalidade notável, que exerce uma certa influência sobre Bento XVI. Sem fazer parte do círculo mais íntimo de amizades do Papa, tem uma presença significativa, sobretudo do ponto de vista acadêmico. Além disso, jogou, e o segue fazendo, um papel notável na criação e no trabalho para criar uma fundação que nasceu na Alemanha para editar a publicação das obras literárias de Joseph Ratzinger/Bento XVI.
Müller é um grande admirador e amigo de um dos personagens mais emblemáticos (e talvez problemáticos) da Teologia da Libertação: Gustavo Gutiérrez. Expressou, em 2008 durante um evento público em Lima, palavras muito elogiosas e calorosas para com ele e para com a Teologia da Libertação, enquanto se celebrava o reconhecimento “honoris causa” que a Pontifícia Universidade do Peru outorgou a Gutiérrez, na mira da Santa Sé justamente neste último período. O arcebispo de Regensburg nunca escondeu sua admiração por seu amigo peruano, que hoje tem 83 anos.
Müller, além disso, conta com apoios importantes na Cúria. Entre eles se encontram alguns diplomatas da corrente “filogermana” que levou o próprio Ratzinger a enfrentar o então secretário de Estado Angelo Sodano pela questão da presença católica nos consultórios femininos da Alemanha. Também lhe apreciam alguns cardeais próximos ao ex-secretário de Estado e inclusive o cardeal Paolo Sardi, presidente da Soberana Ordem Militar de Malta. Durante muitos anos, Sardi, como diplomata, se encarregava de escrever os discursos do Papa em italiano. E, last but not least, a candidatura de Müller teria o apoio de Joseph Clemens, que foi durante muitos anos o secretário de Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Em 2003, Ratzinger, que já estava pensando em sua aposentadoria, se encarregou de encontrar para ele um posto de secretário em uma das Congregações. Em novembro de 2003, João Paulo II o nomeou secretário do Pontifício Conselho para os Leigos. Clemens sempre manteve uma ótima relação com Bento XVI (é uma das poucas pessoas que podem presumir convidar o Papa para jantar com certa frequência) e, certamente, sua opinião pode ter algum peso.
Seria preciso se perguntar, ao ver todas as forças que estão em jogo, por que não se tomou uma decisão. E por que, justamente em uma conversa pessoal com Müller, Bento XVI lhe tenha dito que uma decisão sobre a Doutrina da Fé não viria antes da Páscoa. A explicação que se dá no Vaticano é que o Papa ainda não está completamente convencido. E também indicam que, talvez, isto poderia ser atribuído às opiniões que alguns expressaram sobre a extensa produção de Gerhard Müller (cerca de 400 publicações acadêmicas!). Por exemplo, em seu livro Dogmatica Cattolica oferece uma imagem da virgindade de Maria que não se relaciona com “as características fisiológicas do processo natural do nascimento de Jesus, mas com o influxo de salvação e de redenção da graça de Cristo para a natureza humana”.
Em outro livro, ao tratar do tema da transubstanciação, desaconselha o uso do termo “corpo e sangue”, porque poderiam induzir a confusão. “Corpo e sangue de Cristo não significam as partes físicas do homem Jesus durante a sua vida ou em seu corpo glorificado. Corpo e sangue significam aqui antes uma presença de Cristo sob o signo do pão e do vinho”. E, ao falar da Dominus Jesus, o documento de Ratzinger no qual se sustenta que as comunidades eclesiais que não preservaram um episcopado válido (muitas confissões reformadas) não são igrejas, sustenta que defender esta opinião é um “mal-entendido”.
Mas, caso Müller não for o próximo prefeito da Fé, quem é o candidato melhor posicionado no momento? Segundo os norte-americanos, que por estas semanas estão realizando a Visita ad Limina em Roma, parece que a sucessão de Levada recairia num anglófono, posto que a “frente” de batalha doutrinal da Igreja se desenvolve, sobretudo, nos Estados Unidos e no mundo anglo-saxão em geral. Em Roma, entre as pessoas que contam com o apreço e a atenção do Papa, encontram-se, por exemplo, o prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, Raymond Leo Burke. Também se cogita o nome do arcebispo de Detroit, Allen Henry Vigneron, grande especialista em filosofia e teologia, como um dos possíveis candidatos ideais.
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Arcebispo de Regensburg pode ser o novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU