06 Março 2012
Sobre a já iminente viagem do papa ao México, já paira o fantasma do Pe. Maciel, o religioso mexicano fundador dos Legionários de Cristo, falecido em 2008 aos 83 anos, depois de ser punido por Bento XVI por uma série de delitos a tal ponto de de ser comparado com uma espécie de demônio.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 01-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Abusos sexuais, uso de drogas, corrupção, uso inescrupuloso do poder dentro da ordem religiosa por ele fundada em 1941, mentiras, plágios, e até mesmo a existência de duas famílias, uma na Espanha e um na Cidade do México. Só depois de uma investigação promovida pelo então cardeal Ratzinger em 2005, não sem enfrentar diversas resistências na Cúria, já que Maciel gozava de uma reputação de ferro graças à amizade com João Paulo II, foi imposta ao religioso mexicano uma vida de penitência e de reclusão. A punição veio em 2006, embora o sacerdote jamais tenha sido reduzido ao estado laical, nem sofreu um processo. O caso era bastante complicado e difícil de gerir.
No México, embora Bento XVI irá prestar homenagem ao Cristo Rey e à Virgem morenita, símbolo da religiosidade de um continente inteiro, assoma-se do passado a silhueta do Pe. Maciel, inevitável, assim como muitas interrogações. Uma acima de todas: por que a Igreja, diante de um caso tão anormal, reagiu tão tardiamente? E, acima de tudo, por que, em todos esses anos, ela jamais recebeu as vítimas que sofreram violências sexuais e psicológicas, incluindo até dois filhos biológicos de Maciel? Ao longo das suas viagens aos Estados Unidos, a Malta, à Austrália, à Alemanha, à Grã-Bretanha, Bento XVI sempre incluiu um encontro com as vítimas dos abusos.
Ele rezou com elas. Ouviu as suas histórias dramáticas, consolou-as, assegurando que os erros cometidos no passado pela Igreja já não se repetiriam. No México, as vítimas do Pe. Maciel esperam um gesto semelhante, um abraço paterno, uma carícia consolatória.
Trata-se de ex-legionários, que desejam se reconciliar com a Igreja. Pessoas que sofreram enormemente, também para trazer a verdade à tona. Suportaram todos os tipos de humilhação, até do Vaticano: quando foi apresentada a primeira denúncia, em 1997, ninguém queria lhes dar crédito. Ninguém queria ouvi-los, e foram tratados como marginalizados.
Neste momento, na agenda papal, não está previsto nenhum encontro com eles. Obviamente, ele poderia ser inserido na última hora, sem aviso prévio com antecedência, como foi feito em Malta e na Alemanha. No entanto, no México, há muita expectativa para ver se o papa vai romper o silêncio sobre o caso Maciel.
Exceto alguns pronunciamentos dos bispos mexicanos, feitos a título pessoal, ainda não houve um posicionamento amplo, coletivo e definitivo. Vários bispos eram amigos pessoais de Maciel, como por exemplo o cardeal Rivera Carrera, e isso gera constrangimentos.
"Mas se o papa entrou em contato com outras vítimas, por que não deveria fazer o mesmo com as vítimas do Pe. Maciel no México?", escreveu recentemente Bernardo Barranco, sociólogo, presidente do Centro de Estudos Religiosos no México, prestigiado instituto que, no passado, se ocupou integralmente do caso do Pe. Maciel. Sim, por quê?
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Bento XVI: uma viagem ao México com o fantasma do Pe. Maciel - Instituto Humanitas Unisinos - IHU