02 Março 2012
O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, um dos arquitetos da moeda única europeia, entrou no debate sobre a importância de fornecer mais ajuda à Grécia. Esta semana, ele insistiu para a Alemanha permanecer comprometida com a unidade europeia, que, segundo escreveu, continuava sendo uma questão de guerra e paz 67 anos após o fim da 2.ª Guerra Mundial.
"A discussão atual na Europa e a crise na Grécia não nos devem levar a perder de vista ou mesmo questionar ou recuar do objetivo de uma Europa unida", escreveu Kohl num comentário publicado no diário de maior circulação na Alemanha, Bild.
A reportagem é da revista Der Spiegel e reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo, 02-03-2012.
Num esforço para preservar seu legado, o ex-chanceler, que está com 81 anos e fragilizado, fez vários apelos para o governo alemão mostrar maior liderança e solidariedade com os Estados-membros da zona do euro em dificuldade durante a crise.
Seu último comentário coincide com um racha na coalizão de centro-direita de sua antiga protegida, a chanceler Angela Merkel, sobre a permanência da Grécia na zona do euro.
Merkel foi obrigada a repreender o ministro do Interior, Hans-Peter Friedrich, por ter dito a Spiegel que a Grécia devia ser encorajada a se desligar da moeda única. Ela enfrentou também uma revolta na bancada na votação parlamentar de segunda-feira sobre o segundo pacote de salvamento grego.
A confortável vitória por 496 a 90, com cinco abstenções, foi reforçada pelo apoio da oposição de centro-esquerda, mas somente 304 dos 330 deputados que formam a coalizão de Merkel apoiaram a moção.
Dezessete rebeldes da coalizão votaram "não" dessa vez, ante 13 que desafiaram Merkel em setembro passado numa votação para aumentar o fundo de salvamento da zona do euro.
Analistas disseram que o resultado a enfraqueceria politicamente e dificultaria sua concordância com um fortalecimento das defesas financeiras da Europa, justo quando aumenta a pressão internacional sobre a Alemanha.
Poder
"Merkel está perdendo seu poder de convencer, e os membros do Bundestag (o Parlamento alemão) estão perdendo sua crença de que tudo sairá conforme os planos", disse Gero Neugebauer, um professor de política da Universidade Livre de Berlim, à agência Reuters.
Líderes da oposição chegaram a dizer que a rebelião sinalizava o começo do fim de seu governo.
No texto publicado, Kohl repetiu seu mantra de que o euro era nada menos que uma barreira à guerra. Essa visão, ele argumentou, ainda se aplicava, apesar das décadas de paz desfrutadas pela Europa.
"Os espíritos malignos do passado não foram de maneira nenhuma banidos, eles sempre podem voltar. Isso significa: a Europa continua sendo uma questão de guerra e paz e o desejo de paz continua sendo a força motriz por trás da integração europeia", escreveu Kohl.
Ele bateu firme na nova geração de líderes europeus que, diferentemente dele, nasceu após a 2.ª Guerra.
"Para os que não passaram pessoalmente por aquilo e que, especialmente agora, na crise, estão perguntando que benefícios traz uma Europa unida, a resposta, apesar do período de paz europeia sem precedente que já dura mais de 65 anos e apesar dos problemas e dificuldades que ainda precisamos superar é: paz." "A Europa é nosso futuro", escreveu Kohl. "Não há alternativa à Europa, e temos todas as razões para ser otimistas de que nossa Europa sairá fortalecida da crise atual - se quisermos que ela saia. Não nos deixemos enganar."
Membros da coalizão de Merkel relativizaram a incapacidade que ela teve de manter uma "maioria de chanceler" simbolicamente significativa - uma maioria absoluta das 620 cadeiras do Parlamento - na votação de segunda-feira.
No entanto, a oposição diz que Merkel se enfraqueceu. "A coalizão está se desintegrando", disse o líder do Partido Social Democrata (SPD), Frank-Walter Steinmeier. "A autoridade de Merkel foi severamente danificada", disse a secretária-geral do SPD, Andrea Nahles.
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União europeia é questão de guerra e paz, afirma Kohl - Instituto Humanitas Unisinos - IHU