Bertone e o desconforto entre os episcopados dos países europeus

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02 Março 2012

O cardeal Tarcisio Bertone esboça um sorriso, mas parece um pouco tenso: "Estes são os documentos verdadeiros para ver e apresentar!". O secretário de Estado acaba de sair da mostra Lux in arcana, que apresenta centenas de joias do Arquivo Secreto – dos processos contra Galileu e Giordano Bruno aos interrogatórios dos Templários – e não quer falar sobre os "corvos" e sobre os vazamentos de documentos confidenciais, "desses documentos à mostra, ao contrário, chama a atenção a verdade histórica". Perguntam-se: no sentido de que os textos publicados nesses dias não são verdadeiros? "Vocês sabem disso. Vocês estão bem informados", responde ele secamente aos jornalistas.

A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 01-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

É um momento difícil no Vaticano. É evidente que a divulgação a conta-gotas dos documentos confidenciais teve e tem o objetivo de atingir o cardeal Bertone. E é uma estratégia de desgaste que está deixando a sua marca: a pressão ao redor do secretário de Estado cresce. Tanto que circula o boato de um crescente mal-estar entre os episcopados europeus, da Alemanha à França, passando pela Espanha, que se preparariam para apresentar a Roma o problema da Secretaria de Estado.

Bertone, no dia 2 de dezembro, irá completar 78 anos, a mesma idade do antecessor quando deixou o cargo, coisa que os seus adversários visam a alcançar. Em todo o caso, não é uma questão de datas: o cargo de secretário de Estado é exercido nutum Summi Pontificis, o que significa que basta apenas um aceno para o papa (nutum) para mudar a qualquer momento, se quiser, o secretário de Estado. As previsões de uma mudança de guarda "iminente" se repetem assim como os descontentamentos há pelo menos três anos, mas, enquanto isso, Bento XVI sempre demonstrou a máxima confiança no homem que é o seu colaborador mais próximo desde os tempos da Congregação para a Doutrina da Fé.

Certamente, a situação nunca esteve tão tensa. Do outro lado do Tibre, chega-se a dizer que, à investigação da Gendarmeria à caça dos "corvos", associou-se uma investigação "privada". Contam que as pessoas usam os computadores e os celulares com medo, enquanto cresce a suspeita recíproca e, com isso, os boatos venenosos. Boatos e venenos aos quais se somam problemas mais objetivos.

Por exemplo, o "compromisso" desejado por Bertone e alcançado na modificação da lei de transparência financeira, aprovada no dia 25 de janeiro, não desfez as perplexidades. Antes da aprovação final, o cardeal Attilio Nicora, presidente da Autoridade de Informação Financeira, havia se mostrado preocupado porque "a nova versão da lei reforma totalmente a organização institucional do sistema vaticano antilavagem de dinheiro, redefinindo tarefas e papeis da Autoridade e modificando a configuração". Com um relativo temor de que a intervenção "pudesse ser vista de fora, embora erroneamente, como um 'passo atrás'".

Mesmo depois do "compromisso", esse é um temor que permanece no Vaticano: em vista da esperadíssima resposta ao pedido de ingresso da Santa Sé na white list da OCDE. A tal ponto de alimentar outros boatos – publicados nesta quarta-feira pelo jornalista Gianluigi Nuzzi, no Twitter – que desejariam que Bertone se inclinasse a substituir, até o verão europeu, Ettore Gotti Tedeschi – entre os principais arquitetos da primeira versão da lei – na presidência do IOR [o chamado Banco do Vaticano].