27 Fevereiro 2012
Morreu Giulio Girardi, um dos mais importantes e prestigiados teólogos da libertação. Seu amigo, o também teólogo espanhol Benjamin Forcano, nos comunica a sua morte: "Acabo de receber de Bruno Bellerate, cuidador de Giulio até o fim, esta notícia: 'Queridíssimos, infelizmente, hoje à noite (sábado 25), Giulio Girardi morreu. Um abraço'".
A reportagem é do sítio Religión Digital, 26-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Forcano comenta assim a sua figura: "Giulio foi, para aqueles que o conheciam, entrega absoluta à causa do Reino, concretizada nos excluídos e oprimidos. Será difícil encontrar alguém que, com tanta lucidez e amor, de pensamento, palavra e ação, tenha feito dela o centro da sua vida. E, além disso, com uma abnegação, simplicidade e generosidade que o tornam digno do retábulo dos nossos santos. Muito é o que as bases, o movimento e a teologia da libertação, em suma, a Igreja de Jesus lhe devem".
Giulio Girardi (Cairo, 23 de fevereiro de 1926) era professor universitário, sacerdote, teólogo e filósofo italiano.
Depois do nascimento, a sua família se mudou para Paris até 1931. Mais tarde, ele viveu com seus pais em Beirute (Líbano), onde estudava com os dominicanos em uma escola italiana. Em 1937, depois da separação dos pais, se transferiu com sua mãe e a irmã para Alexandria (Egito). Ali, frequentou a escola italiana dos salesianos. Em 1939, escolheu ser salesiano e foi enviado à Itália para estudar e se preparar para a vida sacerdotal com os salesianos de João Bosco. Terminou os estudos filosóficos em 1950, com doutorado em filosofia, com uma tese sobre a metafísica de Tomás de Aquino. Realizou outros estudos de teologia na Universidade Gregoriana de Roma entre os anos 1951 e 1953 e na Universidade Salesiana de Turim de 1953 a 1955. Em Turim, foi ordenado sacerdote no dia 1º de janeiro de 1955.
Professor universitário
Em 1948, foi professor de filosofia e de metafísica da Universidade Salesiana de Turim. Em 1960, assumiu o mesmo cargo na Universidade Salesiana de Roma. Participou do Concílio Vaticano II como perito. Por ter decido estar com os movimentos de base e se aproximar do marxismo, em 1969, foi expulso da universidade por "divergências ideológicas". Se mudou para Paris, onde ensinou antropologia na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica e Introdução ao Marxismo no Instituto de Ciências e Teologias das Religiões. Nos mesmos anos, ensinou Antropologia e Introdução ao Marxismo no Instituto Superior de Pastoral Lumen Vitae de Bruxelas.
Nessa época, aderiu e fomentou o movimento "Cristãos pelo socialismo" na América Latina e na Europa. Seu aberto compromisso em nível ideológico e político com os movimentos revolucionários fazem com que ele seja expulso da Universidade Católica de Paris em 1973 e, no ano seguinte, da Lumen Vitae de Bruxelas. Por solidariedade com ele, François Houtart, Gustavo Gutiérrez e Paulo Freire também se demitem.
Ele continuou lecionando na Universidade de Lecce (Puglia, Itália), ensinando História da Filosofia nos anos 1977 e 1978. Depois, na Universidade de Sassari (Sardenha, Itália), lecionou Filosofia Política de 1978 até 1996, quando deixou de ensinar.
O Concílio e seu compromisso político
Em 1962, Girardi foi convidado como especialista e profundo conhecedor do marxismo e do ateísmo moderno ao Concílio Vaticano II. Durante o Concílio, colaborou com o projeto e a redação do Esquema XIII, que serviria para a constituição pastoral Gaudium et Spes. Em 1965, começou o diálogo entre cristãos e marxistas, em diversas seções em nível nacional e internacional.
À sua busca filosófica, une-se seu compromisso cada vez mais crescente com as realidades de base na Itália e no mundo, que começam a unir a atualização conciliar com o compromisso político. Seu conhecimento da América Latina o leva cada vez mais frequentemente a viajar pelo mundo. É um dos protagonistas da teologia da libertação e seu difusor na Europa. Em 1972, participou do primeiro Encontro Continental de Cristãos pelo Socialismo em Santiago do Chile, depois de conhecer diversas realidades latino-americanas (Chile, Peru, Colômbia, México, Cuba), e levou esse movimento à Europa (1973-1980).
Em 1974, foi nomeado membro do tribunal Russel II sobre a América Latina. De 1976 até hoje, era membro do Tribunal dos Povos. Em 1977, depois de ser expulso de todas as universidades católicas onde ensinava, foi expulso dos salesianos e suspenso a divinis.
Girardi continuou seu compromisso de solidariedade com os povos latino-americanos e sua obra de animador e formador das Comunidades de Base, assim como no diálogo entre católicos e comunistas. Em 1980, pela primeira vez, visitou a Nicarágua, onde se solidarizou com a revolução sandinista e colaborou com vários movimentos ecumênicos, indígenas e populares desse país. A Frente Sandinista lhe entrega o título "Carlos Fonseca" como reconhecimento pelo trabalho feito ao lado do povo nicaraguense.
Desde 1986, viajava todos os anos para Cuba, colaborando com diversas organizações culturais e ecumênicas. A partir de 1988, se comprometeu com o movimento indígena, em especial no México, Equador e Bolívia, e, a partir de 1992, com o movimento macroecumênico "Assembleia do Povo de Deus", onde uniu ao tradicional tema da libertação a descoberta das origens étnicas e indígenas dos povos sul-americanos.
Também se interessou pelas temáticas da educação popular e pelo nascente "Movimento pela Paz". Ao longo dos anos, seu trabalho na Itália foi sobre as condições do mundo do trabalho e suas implicações para a consciência cristã, apesar das mudanças culturais.
Em 2005, entrou no movimento "Nós Somos Igreja", continuando com as temáticas políticas e sociais desenvolvidas ao longo dos anos. Juntamente a um grupo internacional de teólogos, foi promotor de um Apelo à clareza, um manifesto contra a beatificação do Papa Wojtyla, um dos poucos sinais críticos realizados contra a figura de João Paulo II.
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Morre Giulio Girardi, promotor do ''Cristãos pelo socialismo'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU