25 Fevereiro 2012
Enviado a Lima pelo cardeal secretário de Estado vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, o primaz da Hungria, Péter Erdő (foto), fez o que pôde, mas a sua missão não terminou em glória. Ele devia realizar uma investigação sobre a Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP), cujas autoridades não quiseram se adequar aos estatutos segundo a Constituição Apostólica Ex corde ecclesiae, texto que rege todas as instituições católicas de ensino superior.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal Il Foglio, 24-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Segundo a Santa Sé, a conduta mantida pelas autoridades universitárias nega o espírito original da universidade, fundada em 1917 pelo sacerdote Jorge Dintilhac e que se tornou de direito pontifícia em 1942.
A disputa é antiga. No Vaticano, chamam a instituição de "universidade rebelde". Nas suas salas de aula, estudaram personagens representativos da dissidência social e política do Peru, da esquerda radical e do "progressismo católico". Um dos catedráticos mais conhecidos era Gustavo Gutiérrez Merino: sacerdote dominicano conhecido como o pai da "teologia da libertação" e cuja obra foi levada mais de uma vez sob o olhar do Vaticano, mas sem nunca ter sido condenada pelo ex-Santo Ofício.
Erdő se apresentou em Lima nos últimos dias pedindo explicações e deixando claro que, se as autoridades universitárias não aceitassem a autoridade vaticana, a própria universidade sofreria uma pesada desclassificação: substancialmente, não poderia mais ostentar o título de "católica" e muito menos o de "pontifícia".
O reitor da universidade, Marcial Rubio (foto), no entanto, deu a entender a Erdő que não teme as "ameaças" vaticanas e até convidou o purpurado a voltar atrás: Lima prefere não modificar nada e permanecer independente de Roma, apesar de se declarar universidade "pontifícia".
Nas últimas horas, a rejeição de Marcial Rubio irritou muito a Secretaria de Estado vaticana. Rubio foi imediatamente convocado a Roma. Bertone reiterou a necessidade de que os estatutos da PUCP sejam "regularizados o quanto antes, adequando-os à Constituição Apostólica Ex corde ecclesiae". E pôs sobre a mesa uma data que pende como uma espada de Dâmocles sobre a cabeça da própria universidade: a Páscoa. Até o domingo de Páscoa, 8 de abril, "as autoridades acadêmicas competentes devem apresentar os estatutos para aprovação, com as emendas indicadas à universidade ainda no fim julho passado", disse Bertone. É difícil dizer como isso vai acabar.
Até porque, exatamente em janeiro passado, veio da Igreja peruana um sinal pouco encorajador para a Santa Sé. Os bispos locais, reunidos em assembleia, elegeram como presidente da Conferência Episcopal Dom Salvador Piñeiro García-Calderón, arcebispo de Ayacucho, preferindo-o ao candidato do Vaticano, o cardeal Juan Luis Cipriani Thorne, arcebispo de Lima.
Cipriani foi um dos principais acusadores da conduta, a seu ver, errônea da PUCP. Sua derrota nas eleições mostrou que a maior parte dos bispos locais não está do seu lado. E talvez nem do lado do Vaticano.
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A Universidade Católica do Peru e o emissário de Bertone - Instituto Humanitas Unisinos - IHU