12 Fevereiro 2012
A explosão dos venenos no Vaticano é sinal do esfacelamento. A guerra das fotocópias testemunha o outono de um reino, caracterizado por um monarca que se sente psicologicamente seguro apenas com o seu braço direito, mas que tem consciência da sua incapacidade de guiar com mão de ferro a máquina curial. Ao redor disso, está a pletora dos curiais irritados e insatisfeitos, que enviam para o exterior documentos secretos como sinais de fumaça para manifestar que assim não é possível seguir em frente.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 11-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não é possível ler o último relatório sobre o "fim do Papa Ratzinger" sem cruzá-lo com a penosa história da caçada contra Viganò – culpado por ter denunciado corrupções – e sem voltar com a mente para uma outra ameaça de morte: a do "corvo" contra Bertone.
É sempre o secretário de Estado que está no olho do furacão. A "nota" secreta sobre a viagem do cardeal Romeo à China que, como uma bomba cluster, semeia ódio e maldade contra figuras-chave do pontificado ratzingeriano, traz à tona brutalmente a profunda crise que aflige o governo de Bento XVI.
O secretário na mira
Uma primeira observação: a missão do cardeal Romeo na China, os seus comentários em um círculo reservado, as suas possíveis avaliações sobre o desinteresse do pontífice para o governo cotidiano da máquina vaticana, as suas especulações sobre a duração do reinado de Bento XVI – cruzados com elementos grandiloquentes como uma conspiração assassina contra o romano pontífice – são o pretexto para atingir dois figurões caros ao papa.
Romeo não é o objetivo: os mísseis são dirigidos contra Bertone (foto) e o papável número um, Scola. Dizer que o Papa Ratzinger "literalmente odeia" Bertone é falso. Mas é o meio para lembrar que Bento XVI, várias vezes, se sentiu incômodo com a gestão do seu secretário de Estado, embora se, por causa da idade, o pontífice se sinta "seguro" apenas com o fiel Bertone, com quem estabeleceu um vínculo de muitas décadas e de total sintonia psicológica quando era secretário da Congregação para a Doutrina da Fé.
Assim, a carta, divulgada pelo Vaticano, serve para lembrar que, em 2009, os bem-informados da Cúria e da diplomacia internacional estavam a par (segundo documentos da Wikileaks) do mar de críticas dirigidas contra Bertone pela "fraqueza de liderança" no Vaticano.
Foi em abril de 2009 que se realizou em Castel Gandolfo uma reunião entre o papa e os cardeais Scola, Schönborn, Bagnasco e Ruini em que os purpurados presentes – com a ausência de Bertone – põem explicitamente o problema do funcionamento da Secretaria de Estado. Mas o papa não quer nem sabe como substituí-lo – a "nota" enfatiza isso bem – e assim a máquina vaticana continua a sua marcha entre um pane e outro.
A corrida do arcebispo
Scola (foto) é o segundo objetivo a ser atingido. Uma chibatada calculadíssima. A sua transferência de uma sede patriarcal à liderança da diocese de Milão foi tão contra as tradições e a ansiedade de Ratzinger para apresentá-lo como seu protegido doutrinal foi tão evidente que o autor anônimo do documento começa a reunir todos os ressentimentos contra um futuro papa já "anunciado" e contra a reconquista italiana do trono papal. O estilo do documento pode até ser delirante, como declara o porta-voz papal Lombardi (que, além disso, deve reconhecer a existência do texto), mas os adversários a serem prejudicados são escolhidos cuidadosamente.
Igualmente, os "12 meses" atribuídos ao reinado de Ratzinger são uma referência oblíqua às dificuldades causadas ao pontífice pela sua cardiopatia e por um estresse persistente tratados com medicamentos. A ponto de fazê-lo aparecer um dia em ótima forma e, em outro, exausto.
Outra observação: o alemão do documento é excelente, e é difícil que seja de Castrillón Hoyos, enquanto o italiano das instruções sobre as investigações a serem feitas é cambaleante. Castrillón, no entanto, conhece o alemão e tem bons vínculos com ambientes católicos ultraconservadores na Alemanha. Graças a esses contatos, ele já alertou Bento XVI uma vez a respeito de material calunioso antiratzingeriano que circulava na Alemanha.
A vingança de Castrillón
A "nota" – que pode ter encontrado uma primeira inspiração em ambientes lefebvrianos – permite que Castrillón novamente se torne útil ao papa. O Fatto considera que o documento foi "entregue" (fisicamente) pelo cardeal colombiano. Castrillón-pasticcion – como o chamou o cardeal Re por causa do desastre combinado com o revogação da excomunhão do bispo negacionista lefebvriano Williamson – perdeu depois desse episódio a liderança da Comissão Ecclesia Dei, encarregada de negociar com os seguidores de Lefebvre e saiu do círculo dos íntimos ratzingerianos. Assim, ele esperava voltar novamente ao jogo.
Corrida à sucessão
O que mais chama a atenção nessa situação é a frenética atividade de comunicação ao externo de várias gargantas profundas monsenhorinas. Sintoma de um desejo de mandar para os ares – em uma guerra de todos contra todos – a gestão bertonesca, considerada ao mesmo tempo pouco eficiente e aventureira (veja-se a utopia do Polo Sanitário centrado no San Raffaele).
Mas também quem tema que, sendo ele afastado, tome à frente um homem forte, muito conservador, por enquanto quieto nas sombras: o cardeal Mauro Piacenza, de 67 anos. Chefe muito poderoso da Congregação para o Clero.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Intrigas sagradas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU