15 Janeiro 2012
Na madrugada de 6 de setembro de 1971, um grupo de 111 integrantes do Movimento Tupamaro conseguiu escapar da prisão de Punta Carretas, em Montevidéu, através de um túnel de cerca de 45 metros construído durante vários meses pelos guerrilheiros, entre eles, o atual presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, e seu ministro da Defesa, Eleuterio Fernández Huidobro, que mais tarde relatou o feito no bestseller "A fuga de Punta Carretas". A operação, conhecida no país como "O abuso", ganhou menção até mesmo no Livro Guinness como recorde de uma fuga de presos no século XX.
A reportagem é de Janaína Figueiredo e publicada pelo jornal O Globo, 15-01-2012.
O cenário de uma das ações mais ousadas dos tupamaros, que na década de 80 abandonaram as armas e em 2010 chegaram ao poder, se transformou num dos shoppings mais badalados da capital uruguaia. Hoje, Punta Carretas é uma das regiões mais nobres da cidade, que pouco tem a ver com o bairro no qual os anarquistas, na década de 30, e Mujica e seus colegas tupamaros, nos anos 70, protagonizaram fugas cinematográficas.
A construção do shopping, em meados da década de 90, transformou Punta Carretas num dos bairros preferidos da elite uruguaia. A poucos quarteirões do gigantesco centro comercial vive, por exemplo, o ex-presidente Julio Maria Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000), do tradicional Partido Colorado.
Promessa de atrair imigrantes
Já o presidente Mujica, que durante a última ditadura (1973-1985) passou 14 anos preso e foi brutalmente torturado, mora numa humilde chácara de 35 hectares localizada a cerca de 20 quilômetros da capital uruguaia, na região de Rincón del Cerro.
Em termos políticos, a distância entre o ex-líder tupamaro e a elite de seu país também é grande. Passados quase dois anos de sua histórica posse, em março de 2010, Mujica continua sendo um presidente difícil de digerir para as classes altas uruguaias, que não aceitam sua aversão ao protocolo, sua linguagem popular e estilo de homem do campo. A principal base de apoio do presidente, assegura o analista político Ignácio Zuasnábar, da empresa de consultoria Equipos Mori, são as classes populares.
— Mujica é um fenômeno de representação política dos setores humildes.
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Mujica, longe da elite e sem encantar o povo uruguaio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU