08 Janeiro 2012
Mais italiano, mais europeu, mais curial e, sobretudo, menos africano. Apresenta-se desse modo o novo colégio cardinalício depois das nomeações dos purpurados anunciados pelo Papa Bento XVI no dia da Epifania.
A reportagem é de Aldo Maria Valli, publicada no jornal Europa, 07-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Vinte e dois nomes comunicados pelo papa: 18 dos neocardeais têm menos de 80 anos e, portanto, em caso de conclave, entrariam na Capela Sistina para eleger o novo pontífice.
Dez dos 18 ocupam cargos na Cúria, e seis dos dez curiais são italianos. Trata-se de:
Entre os cardeais não curiais mas residentes (ou seja, à frente de uma diocese), destacam-se as nomeações dos arcebispos de:
Quanto à Itália, assinala-se a nomeação do arcebispo de Florença, Giuseppe Betori, para o qual Bento XVI dispensou a regra não escrita segundo a qual a púrpura não é concedida a um bispo residente, se nessa sede houver um bispo emérito (ou seja, aposentado) com menos de 80 anos. No caso de Florença, o emérito é o cardeal Ennio Antonelli, 75 anos, mas, como Antonelli tem um cargo na Cúria Romana (é presidente do Conselho Pontifício para a Família), o papa considerou que podia atribuir a púrpura ao seu sucessor.
Pareceria uma sutileza, mas o colégio cardinalício, definido como o clube mais exclusivo do mundo, é um mecanismo regulado por normas e costumes muito precisos.
Entre os novos purpurados há apenas um latino-americano (o curial João Braz de Aviz, foto), apenas dois asiáticos (além do chinês Tong Hon, o indiano George Alencherry), e três norte-americanos (além de Collins e Dolan, o norte-americano Edwin O'Brien, também ele curial). Não há nenhum africano, enquanto 16 são europeus, incluindo sete italianos e dois alemães.
Entre os que têm mais de 80 anos, destaca-se a figura do Mons. Julien Ries, sacerdote da diocese de Namur, na Bélgica, e professor emérito de história das religiões da Universidade Católica de Leuven. Nascido em 1920, é um antropólogo conhecido em todo o mundo. Autor de inúmeras obras que exploram a dimensão do sagrado, há alguns anos, doou à Universidade Católica de Milão a sua biblioteca e toda a correspondência mantida com os historiadores das religiões em mais de 40 anos de atividade.
Se o conclave ocorresse hoje, os cardeais eleitores seriam 125, isto é, cinco a mais do que o teto de 120 estabelecido por Paulo VI. Mas, até o fim de 2012, cinco dos atuais eleitores irão completar 80 anos e, assim, dentro de alguns meses, o número de eleitores voltará à norma.
Quanto a Dom Giuseppe Betori, é preciso dizer que passaram-se poucas semanas desde à misteriosa emboscada da qual ele foi objeto em Florença no dia 4 de novembro, quando um homem armado o atacou. Quem o defendeu foi o secretário, Pe. Paolo Brogi, que foi ferido no abdômen, enquanto Betori não sofreu nenhum ferimento. Por causa do ataque, foi preso um homem de 73 anos, já conhecido pela polícia por alguns roubos, que, no entanto, nos últimos dias se declarou inocente.
Betori, nascido em Foligno no dia 25 de fevereiro de 1947, foi secretário da Conferência Episcopal Italiana por mais de sete anos, na era Ruini, e viveu a delicada transição para a presidência de Bagnasco. Arcebispo de Florença desde setembro de 2008, teve que enfrentar situações delicadas, como o caso Cantini, sacerdote reduzido ao estado laical por ter se reconhecido como culpado de abusos de menores, e o caso Santoro, padre punido pelo próprio Betori por ter unido em matrimônio na Igreja um homem e uma pessoa que se tornou mulher depois de uma operação para mudança de sexo.
Se a púrpura a Betori é uma homenagem à época Ruini, a púrpura aos curiais é um reconhecimento ao trabalho realizado pelos homens-máquina que fazem funcionar a Santa Sé e o Estado da Cidade do Vaticano, enquanto a púrpura a Dom Coccopalmerio diz o quanto o papa está atento à valorização e ao respeito pelo direito canônico, em um momento em que a Igreja está lutando com os graves escândalos pelos casos de pedofilia.
É significativa também a nomeação do chinês Tong Hon, mais negociador do que o carismático cardeal Joseph Zen, que, em poucos dias, completará 80 anos. Com a China, Bento XVI quer virar uma nova página sob a marca da diplomacia.
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