Por: André | 20 Dezembro 2011
A partícula de Deus. É o que os cientistas estão buscando. Na realidade, é um exagero jornalístico. O que buscam é uma partícula que dê razão definitiva à teoria da evolução. Isso pode ser comprovado pela ciência. O Pe. Ramón María Nogués é o exemplo perfeito de que ciência e religião podem andar de mãos dadas na compreensão da realidade.
A entrevista é de José Aguado e está publicada no jornal espanhol La Razón, 18-12-2011. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
O que é a religião?
É uma tentativa de estabelecer contato com a realidade última da vida, o que chamamos Deus. É, além disso, uma criação humana que pode responder a uma inspiração ou a grandes tradições. Embora seja verdade que há grandes tradições que não se referem a Deus.
Como se diferencia a religião de outras narrações?
Não é fácil distingui-la, mas as religiões têm graus de maturidade e superam as colocações fundamentalistas e sectárias que suscitam reservas. As religiões têm uma tradição histórica que foi se polindo com o passar do tempo graças à aceitação do diálogo com a cultura ou com a ciência.
Não há conflito entre ambos?
Não, não é uma relação conflitiva. Na cultura moderna há muitas linguagens sobre a realidade. Caso forem rigorosas, ao final são compatíveis. O conflito vem quando a relação entre ambas se faz em relações de poder, sobretudo entre pessoas.
Mas a ciência foi tirando terreno da religião.
Na história da Europa muitos aspectos que eram monopolizados pela religião foram ocupados pela ciência, como a cosmologia ou a ciência da vida. Mas isso não é ruim: a religião não se pergunta pelo como, mas pelo horizonte, pelo sentido. Cada um tem que estar em seu lugar. Assim, a ciência não tem que se dedicar a comprovar a existência de Deus.
A religião está no cérebro?
A religião é um produto humano e parte da nossa experiência mental e cultural. É possível que se encontrem estruturas cerebrais que sejam significativas em experiências religiosas. É o que se denomina neurorreligião. Os místicos, por exemplo, estão na fronteira da doença: nas epilepsias leves se produz uma atividade cerebral de alta intensidade, como ocorria com Santa Teresa. Produz-se uma exaltação das possibilidades mentais, que dá estas excelências não apenas religiosas, mas também estéticas.
Deus já não dá medo.
Para as novas gerações a ideia de Deus já não está unida ao medo. Antes se utilizava o temor para falar de Deus de maneira incorreta, mas agora Deus se afastou dessa ideia. Contudo, na Europa estamos regredindo com a expressão religiosa e é preciso refletir. A perda de importância da religião, como experiência, não é uma vantagem. O sentido religioso enriquece a vida, dá resposta às últimas perguntas. Dá valor à experiência humana.
Você está em um ponto intermédio entre a ciência e a religião?
E me movimentei com comodidade. Quase sempre coincidi com colegas não religiosos, no sentido de crer em Deus. Mas são rigorosos, são prudentes e se baseiam nas comprovações. A crença em Deus não tem comprovações. O seu é um agnosticismo negativo. Estão em prudente espera.
Há ateus mais radicais.
Eu creio que os círculos dos ateus militantes estão diminuindo. Também, quando os leio, por exemplo, Richard Dawkins, e vejo a quem vão “arrebentar”, creio que não falam de mim. Criticam certos aspectos religiosos, mas não falam de mim.
É mais simples viver com fé?
A vida tem um enigma, uma pergunta. A fé é consoladora, mas não torna a vida mais fácil. O religioso bem vivido leva a assumir a insegurança, mas ela pode ser vivida de maneira mais controlada do que sem horizonte. Uma vida religiosa é vivida com a dificuldade de qualquer pessoa, mas é feita com uma consolação interior, com uma paz interior.
Há vida mais além.
Creio que na palavra de Jesus, que vem para dizer que a morte não é a última palavra. A vida é um processo aberto, mas se deve evitar imaginar o que vem depois porque se abre uma paisagem de ridicularidade: nós não podemos representar algo que está fora do espaço e do tempo. Eu creio que é uma questão de confiança.
Nem todos os cristãos fazem a mesma reflexão.
Cada um faz o que pode. Desde os que ilustram as formas imaginativas mais simples até os mais críticos. Mas a confiança de ambos é a mesma.
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“A ciência não tem que se dedicar a comprovar a existência de Deus” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU