09 Dezembro 2011
Centenas de manifestantes na África do Sul formam a imagem de um leão para protestar contra o aquecimento global Foto: Shayne Robinson/Greenpeace/Reuters
Membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC, em inglês) e professor da Coppe/UFRJ, Emilio La Rovere participa em Durban, África do Sul, da Conferência do Clima (COP-17), de onde faz um alerta: sem acordo, os impactos das mudanças climáticas serão mais acelerados.
A entrevista é publicada pelo jornal O Globo, 09-12-2011.
Eis a entrevista.
Como o senhor recebeu a proposta brasileira de começar a negociar um acordo para 2020?
O Brasil está disposto a aceitar compromissos vinculantes para 2020, desde que todos os países façam o mesmo, de forma a conseguir um resultado que seja significativo na direção de estabilizar a concentração de gases-estufa e a temperatura em um nível razoável. Essa posição, ao meu ver, é correta. O Brasil assume um papel de liderança no sentido de uma economia verde. E tem todas as condições de conseguir vantagens competitivas importantes em uma economia de baixo carbono.
A COP-17 será um fracasso?
Sentimos um ambiente mais construtivo do que em Copenhague (COP-15, realizada há dois anos). Há mais diálogo. A União Europeia, o Brasil e a China estão tendo uma posição melhor, mas os Estados Unidos sequer aderiram ao Protocolo de Kyoto. Além disso, outros países, como Japão, Canadá e a Rússia, abandonaram o tratado.
Haverá acordo em Durban?
Haverá intensas negociações, que vão varar a noite. Só mesmo no final será possível avançar ou não. A Rio+20 (conferência que será realizada em junho no Brasil) pesa muito. Novamente há um receio grande de que uma sensação de frustração em relação ao Durban contamine o ambiente para a Rio+20. Vejo que ainda há esperança para um acordo razoável.
A proposta do Brasil poderá reverter a falta de acordo?
O desafio que o Brasil lançou para outros países dificilmente será realmente aceito. Mesmo assim, o país está no seu papel: colocar para opinião pública quem são os responsáveis por não se chegar a um acordo. Sem Estados Unidos, Rússia, Japão e Canadá não há condições mínimas de chegar ao que o Brasil está propondo.
Como o senhor analisa o "kiotinho"?
No fundo, não há diferença tão grande entre os objetivos voluntários de cada país com o acordo legalmente vinculante (do Protocolo de Kyoto). E, desde que o protocolo foi aprovado, as punições para o não cumprimento das metas é branda. Geralmente é dar mais prazo. O que está se tentando é manter a estrutura de Kyoto. A proposta da Europa de prorrogá-lo até 2015 daria mais três anos para negociações. Até lá, é evitar deserção maior de países e obviamente esperar por tempos melhores, com a recessão econômica já superada.
A recessão não diminui as emissões?
A recessão diminui a atividade econômica, mas inibe os investimento em tecnologia eficiente. Simulação de cenário do IPCC mostra que a recessão não ajuda.
Há tempo para tantas negociações, considerando os impactos do aquecimento global?
Já perdemos dois anos (desde a Convenção do Clima de Copenhague), a probabilidade é relativamente pequena. O que significa aquecimento maior do que 2 graus e, portanto, uma curva de danos maior. Os impactos começam a ser acelerados. E há risco de efeitos que realimentem o fenômeno, como o degelo do Ártico e a destruição da Tundra, liberando uma quantidade de carbono enorme. Os impactos serão cada vez maiores.
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Se houver fracasso em Durban, danos do aquecimento global serão maiores - Instituto Humanitas Unisinos - IHU