23 Novembro 2011
Há algum tempo eu havia escrito alguns apontamentos para um artigo quase sério depois de ter ido à missa e ter sofrido durante uma homilia. O início da celebração havia sido muito bonito, tínhamos entrado em um singelo crescendo em direção ao momento central; mas mais de 15 minutos de homilia, talvez não do mesmo grau de intensidade, me haviam feito experimentar um processo inverso.
A reportagem é de Marco Tosatti e está publicada no sítio Vatican Insider, 22-11-2011. A tradução é do Cepat.
Havia escrito o que vocês podem ser mais abaixo com a intenção de não publicá-lo; um escrito destinado ao lixo, melhor dito, aos "arquivos" dos escritos nunca publicados. Mas, há alguns dias, me caiu diante dos olhos uma notícia de agência, protagonista: o presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, biblista de renome, inventor do Pátio dos Gentios, e disse a mim mesmo: então...
O cardeal Gianfranco Ravasi, convidado – na qualidade de biblista e intelectual – para abrir, na Pontifícia Universidade Gregoriana, um curso sobre a palavra, afirmava: "A palavra está sofrendo. Também para a comunidade eclesiástica, a Igreja e sua comunicação. A palavra é traída e humilhada". Inclusive no púlpito. Ravasi chama à causa diretamente os sacerdotes. Porque "com frequência, os sermões são tão incolores, insípidos, inodoros, que são irrelevantes". Em compensação, "é necessário recuperar a palavra que "ofende’, fere, inquieta, julga", a "palavra saudável, autêntica, que deixa marcas". É preciso não esquecer que hoje, goste-se ou não, quem escuta "é filho da TV e da internet".
E continua: Ravasi recorre a Voltaire e a Montesquieu, e diz que com eles "a eloquência sacra é como a espada de Carlos Magno, longa e plana: aquilo que não pode dar em profundidade, o dá em comprimento". O tom do cardeal é leve, mas cortante. "O sacerdote não deve aceitar que a palavra seja humilhada. Está claro que a capacidade de falar é, em parte, dom natural, mas também existe a formação, o aspecto pedagógico, os instrumentos técnicos com os quais se dotar. E isto é algo que hoje falta nos seminários".
Para terminar: "Umberto Eco estima que hoje os jovens utilizam apenas 800 palavras. Isto impõe a quem fala essencialidade, força, narração, cor".
Então, tomei coragem e trouxe à tona o meu pedido, que espero seja formalmente correto, porque não tenho experiência no campo; é a primeira vez que escrevo a um papa.
"Santidade,
Permito-me fazer-lhe um pedido, simples, mas apenas até certo ponto.
Tem a ver com as homilias. Aquelas que ouvimos, cada domingo, quando vamos à missa.
É um pedido que, na realidade, contém várias sugestões, propostas e ideias; e como é costume ao se dirigir a você, com toda humildade, naturalmente.
A primeira ideia é um tanto radical. Proclamar um período (você pode decidir sua duração) de jejum de homilias. Isto é: estabelecer que, durante um ano nas igrejas (com exceção, obviamente, do Papa e dos bispos) não se façam homilias. Não me peça explicações nem razões. Não desejo ofender os sentimentos (bons) de ninguém. Peça explicações, caso desejar, a Giulio Andreotti, que – se não me falha a memória – procura(va) ir nas missas matutinas, exatamente para não ouvir homilias. Eu creio que, se a homilia fosse substituída por um breve momento de recolhimento e de meditação das palavras ouvidas nas Leituras, poderia ser benéfico para todos.
Segunda sugestão. Isto, obviamente, com um tom de brincadeira. Obrigar os sacerdotes a fazerem um curso de jornalismo e, em particular, de jornalismo de agência ou televisivo. Mais de uma vez nos disseram, durante a nossa presença já de longa data em redações, que em 50 linhas se pode descrever a história de uma vida. É possível que seja impossível escrever, no mesmo espaço, uma reflexão sobre o Evangelho do dia?
Terceira possibilidade (também tem um tom de brincadeira, mas...): solicitar à Congregação correspondente a redação de um documento em que estabeleça taxativamente que o tempo dedicado à homilia não deve ultrapassar os cinco minutos. Um santo, ou um padre da Igreja, disse certa vez: "nos primeiros cinco minutos fala Deus, nos outros cinco fala o homem, nos restantes mais de cinco minutos fala o diabo". Tendo a acreditar que, na realidade, depois dos primeiros cinco minutos em muitos púlpitos continua falando o homem; e, lamentavelmente, nem todos estão à Sua altura, ao escrever e pronunciar os discursos. E a experiência nos torna palpável – sem culpa de ninguém, os sacerdotes estão animados pelos melhores sentimentos, e estão cheios de santo entusiasmo – que uma homilia que se alonga, se perde, divaga, toca muitos pontos diversos, o que, muitas vezes, não ajuda a manter a concentração e a tensão espiritual criadas pelas Leituras. Pelo contrário. Naturalmente, estariam isentos o Papa, os cardeais, os patriarcas e os arcebispos metropolitanos. Sobre os bispos e os abades, pode-se discutir...
Esperamos que estas linhas sejam lidas por alguém.
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"Proponho um ano sem homilias nas Igrejas" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU