13 Novembro 2011
"A questão social brasileira é chaga secular, e mudanças são processos lentos, mas não vagamos "como uma onda no mar", como alguns afirmam", escreve Eduardo Fagnani, professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-11-2011.
Eis o artigo.
Muito se falou sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Poucos leram o documento, mas criticaram o fato de o Brasil subir só uma posição no ranking global (84ª posição) de 187 países.
Alguns ignoraram a advertência do próprio Pnud de que "é enganoso comparar valores e classificações do IDH 2011 com os de relatórios publicados anteriormente. Isto porque, além da inclusão de 18 novos países e territórios, os dados e métodos sofreram ajustes e algumas mudanças".
Em artigo publicado nesta Folha, um ex-economista do Pnud (Flavio Comim, "IDH, como uma onda no mar", 6/11) desconsiderou o seguinte alerta da instituição em que trabalhou: o IDH 2011 "mostra que o Brasil faz parte do seleto grupo de apenas 36 dos 187 países que subiram no ranking entre 2010 e 2011, seguindo os dados recalculados para a nova base deste ano. Os outros 151 permaneceram na mesma posição ou caíram".
O IDH reflete as alterações na renda nacional, na expectativa de vida e nos anos de estudo.
Em sua obra clássica, o economista Gunnar Myrdal sublinha o papel central da renda para o bem-estar social.
Entre 1980 e 2003, a renda per capita brasileira cresceu míseros 6%; na China, ela setuplicou; na Índia, dobrou. Isso explica "o vigor da juventude" do IDH desses países -e o nosso atraso relativo.
Após 25 anos, desde 2006 voltamos a trilhar o caminho do crescimento, com reflexos positivos no mercado de trabalho e na redução da pobreza e da desigualdade.
Apesar das restrições financeiras e dos problemas estruturais da saúde, o SUS tem feito progressos.
A taxa de mortalidade infantil caiu de 47% para 16% entre 1990 e 2010 (Nordeste: de 76% para 24%). A expectativa de vida progrediu: "no caso brasileiro, essa evolução do IDH do ano passado para este ano contou com um impulso maior da dimensão saúde -medida pela expectativa de vida-, responsável por 40% da alta", afirma o Pnud.
Na educação, universalizamos o acesso: 98% das crianças de seis a 14 anos estão na escola. O desafio presente é melhorar a qualidade.
A educação infantil poderá contribuir para isso. O filho do rico entra no ensino fundamental alfabetizado pela pré-escola. O filho do pobre deveria ter o mesmo direito.
Na última década, a proporção de crianças de zero a cinco anos que está na escola aumentou de 23% para 38%. A escolaridade média é baixa (7,4 anos), mas, desde 1999, a proporção de pessoas de 18 a 24 anos (PEA) com 11 anos de estudo subiu de 22% para 41%.
Em suma, a questão social no Brasil é uma chaga secular. Mudanças são processos lentos que exigem continuidade e investimentos - e, de fato, gastamos pouco em saúde e em educação. Porém, não vagamos "como uma onda no mar", como afirma o especialista.
Em 1988 a sociedade optou pela cidadania social. Essa decisão soberana foi cerceada pelos donos do mundo e por seus experimentos fracassados. A partir de 2006, retomamos a rota traçada em 1988. Seus resultados estão disponíveis para aqueles que não se contentam com manchetes de jornais.
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Quem leu o relatório sobre o IDH? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU