13 Novembro 2011
Ofereço aqui alguns pensamentos depois de eu ter falado nesta segunda-feira, 7, na apresentação do livro de Vito Mancuso, Io e Dio.
A nota é do cientista político e leigo católico italiano Christian Albini, publicada em seu blog, Sperare per Tutti, 08-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Teatro delle Vigne estava cheio, com gente de pé. Um sinal de que as questões essenciais envolvem, se forem abordadas sem a ânsia de recorrer a respostas pré-confeccionadas. Na verdade, acho desconcertante o ostracismo de certos ambientes católicos com relação a Mancuso. Devemos debater com todos. Com serenidade, buscamos, acima de tudo, o positivo; com franqueza e respeito, declaramos o dissenso. Uma busca de fé sincera não tem medo, não se cria inimigos e não se arma.
Dito isso, o que segue são considerações: um livro de 490 páginas exigiria uma análise ampla e articulada.
Acima de tudo, as minhas impressões sobre a pessoa. Estou cada vez mais convencido de que as palavras trazem valor de quem as pronuncia. Eu tinha uma dúvida sobre Mancuso. Os seus livros me deixavam a suspeita de um excesso de intelectualismo, de uma construção. E, de fato, a sua primeira fala me pareceu um pouco cerebral demais.
Depois, no debate, ele fez surgir paixão e envolvimento. O resultado foi uma noite verdadeira, intensa. Acredito que os presentes perceberam isso.
Vito Mancuso defendeu que a Igreja e a Bíblia, pelas suas contradições, não são pontos de apoio suficientes para a fé em Deus. Ele não as rejeita; ao contrário, reivindica o seu próprio vínculo com elas, mas considera que hoje, diante do pensamento científico, do pensamento secular e da pluralidade das religiões, é necessária uma teologia filosófica que remonte a um princípio universalmente aceitável. Ele indicou isso como uma harmonia universal que pode ser reencontrada nas leis físicas, biológicas, nas formalizações filosóficas como a ética kantiana e na mensagem das diversas religiões. Uma harmonia orientada ao bem, ao amor, ao crescimento da vida.
Em termos cristãos, eu a definiria como uma criação contínua, uma evolução em direção ao Cristo cósmico, ao Reino. Uma evolução que é o agir de um Deus que ama cada partícula da realidade. A história e a mensagem de Jesus seriam, por isso, uma manifestação particular, embora a mais alta e a mais completa, dessa harmonia universal.
É uma perspectiva fascinante, que se enlaça novamente a pensadores e místicos de diversas épocas e culturas e à qual ele oferece bons argumentos. Eu também sou um defensor da criação contínua, assim como foi João Paulo II.
Acho, no entanto, que, de um ponto de vista formal, pode-se criticar a perspectiva de Mancuso no sentido de que a união de discursos científicos, filosóficos e religiosos de todas as latitudes resulte, no fim, arbitrária e muito simplista. Eles são realmente tão convergentes, ou é uma forçação? A meu ver, é possível encontrar os pontos de contato, mas as diferenças não são tão facilmente superáveis.
Além disso, de um ponto de vista substancial, eu acho que somos seres históricos, estamos dentro do tempo. Com a nossa mente, podemos tentar nos abstrair do tempo, da nossa condição histórica, mas, de fato, não podemos prescindir disso. E, da minha condição histórica, da minha existência, faz parte o fato de já ter tido câncer por duas vezes e de não saber com certeza o que estava à minha frente.
Então, para mim, com base na minha condição humana, existencial, um princípio de harmonia universal não basta. Em termos práticos: eu não sei o que fazer com ele! De Deus, aspiro a algo mais. Dito de outra forma: se a nossa condição é histórica, o caminho para Deus deve estar dentro da história.
Mancuso respondeu dizendo que vê a evolução rumo ao cumprimento da harmonia universal como um processo não retilíneo, mas que procede em "espiral", com descidas e subidas. E a tragicidade da existência, que ele não nega, faz parte das descidas. Embora ele admitiu não saber dizer por que razão é assim.
Eu acredito na sua sinceridade. Ele mencionou como a tragicidade da vida o feriu pessoalmente. Eu o senti, quando nos despedimos depois, humanamente próximo. Isso, para mim, conta muito, mais do que todas as ortodoxias e os catecismos.
Mas, sinceramente, se eu tivesse que ver Deus principalmente nessa perspectiva, eu lhe diria – como Ivan Karamazov – que devolvo com prazer o bilhete de ingresso. Não só para mim, mas sobertudo para as crianças que morrem de guerra, de fome, de doenças... Mesmo que tudo fosse em função de um bem maior, com um Deus que age assim eu não gostaria de ter muito a ver. E estou convencido de que a teologia não pode prescindir dessa dimensão histórica e existencial.
Não tenho a pretensão de que Deus me explique a dor. Não tenho a pretensão de que ele resolva todos os problemas com uma varinha mágica. Seria infantil. Mas que, de alguma forma, ele esteja dentro das cruzes da história, que ele nos faça sentir que somos amados, que não estamos sozinhos, sim. A isso eu aspiro!
E eu chego a acreditar que isso é possível, só colocando-me em oração diante do Evangelho, dos gestos e das palavras de Jesus de Nazaré. E das pessoas que conseguem amar gratuitamente como ele. Não importa se ateias, cristãs, muçulmanas ou budistas. É só a partir dessa historicidade que eu consigo admitir como possível uma verdade universal, uma verdade da qual eu posso encontrar os sinais em todos os homens e em todas as fés sinceras. E acreditar em uma Igreja tem uma dimensão institucional, sempre necessitada de reforma, mas que a ultrapassa e compreende todas as pessoas de boa vontade.
Pareceu-me que, quando Mancuso quis dizer com mais eficácia aquilo que ele entendia, ele recorreu justamente a Jesus, como Filho de Deus, e, no fim, ele foi muito mais "tradicional" do que poderíamos esperar. Eu me pergunto: ele teria chegado às mesmas conclusões se não tivesse partido de Jesus?
Paro por aqui, sem a pretensão de ter dado respostas definitivas. Obviamente, aqui dei mais ênfase ao meu pensamento, porque quem quer conhecer o de Mancuso tem à disposição os seus livros. Agradeço-lhe por essa noite.
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Mancuso e eu: estradas para Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU