A cúpula do
G-20, na quinta e sexta-feira da semana passada, não causou grande expectativa nem seu fracasso surpreendeu o economista romano
Francesco Saraceno. PhD em Teoria Econômica pela Universidade de Roma, ex-aluno de Columbia, onde obteve um segundo PhD em Desequilíbrios Macroeconômicos,
Saraceno foi membro do Conselho Econômico italiano entre 2000 e 2002, e foi um dos analistas que assessoravam os primeiros-ministros da época,
Giuliano Amato e
Silvio Berlusconi. O segundo acaba de renunciar ao mandato. O primeiro é um dos cogitados para liderar um governo interino.
A entrevista é de
Andrei Netto e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 10-11-2011.
Essa experiência faz de
Saraceno um dos importantes analistas econômicos da Itália hoje, ainda que ele viva em Paris e esteja vinculado ao
Observatório Francês de Conjunturas Econômicas. Para o expert, a Itália não sofre mais problemas econômicos que há seis meses. A diferença, diz ele, é a crise política. Se ela se prolongar, adverte, o país terá sérios problemas.
Eis a entrevista.
Qual é o estado real da crise na Itália? É correto afirmar que o país já sofreu o contágio pela crise das dívidas soberanas?
Não. Eu creio que o problema na Itália é mais político que econômico neste momento. Se a Itália sair dessa crise política em breve, vai evitar um contágio econômico, porque ainda não estamos em um ponto de não retorno. Se se prolongar pelas próximas duas, três semanas, aí sim será diferente. Mas por ora a tendência é de que a taxa de juros não supere os 8% e volte a baixar assim que a crise política se resolver.
O sr. não vê agravamento da conjuntura econômica na Itália, então.
A Itália não está em uma situação pior do que estava antes do verão europeu (inverno no Brasil). Não houve uma mudança substancial na situação econômica do país. Nos últimos dias eu estou pessimista sobre tudo, mas a verdade é que a Itália não é a Grécia. Não há nenhuma razão fundamental para que os investidores se preocupem com a dívida italiana. Ou pelo menos não há mais razões do que as que existiam há vários meses. O que há hoje é um sentimento de que a Itália possa ser vítima de uma falta de ação política.
Qual é o grau de responsabilidade de Berlusconi na crise?
Berlusconi não é inteiramente responsável pela dívida, em especial porque o orçamento da Itália está em equilíbrio há muito tempo. Mas é fato que nos últimos 15 anos ele governou 10. Logo sua responsabilidade é parcial. Uma grande parte da falta de competitividade da Itália é sua responsabilidade. Digamos que perdemos 10 anos porque o governo não encontrou soluções para os problemas estruturais do país.
Qual é o seu prognóstico sobre a crise política e econômica na Itália?
É difícil dizer e não temos bola de cristal para fazer previsões. Mas há basicamente dois cenários possíveis. Um primeiro no qual uma coalizão de centro-esquerda assume sem uma maioria no Parlamento muito forte. E o segundo cenário é um governo de união nacional, como se está tentando fazer, até o fim da legislatura atual, que se estenderia até 2013. Em qualquer das hipóteses, não seria um governo muito forte, mas atenderia os desejos da
União Europeia e dos mercados.
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"Situação econômica da Itália não teve mudança substancial" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU