10 Novembro 2011
Apesar da fluidez católica, o número de católicos comprometidos em um determinado tempo não mudou dramaticamente. Os católicos dos EUA continuam mantendo um nível entre moderado e alto de compromisso com a Igreja.
A reportagem é de Michelle Dillon, publicada no sítio National Catholic Reporter, 24-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os católicos norte-americanos continuam mantendo um nível entre moderado e alto de compromisso com a Igreja. Como em pesquisas anteriores, avaliamos o compromisso dos entrevistados da pesquisa Catholics in America combinando suas respostas a três questões distintas: "Qual a importância da Igreja Católica para você pessoalmente?", "Além de casamentos e funerais, quantas vezes você vai à missa?"; e "Em uma escala de 1 a 7, sendo que 1 indica que você nunca deixaria a Igreja, e 7 indica que você deixaria a Igreja, onde você se situaria?".
Nós categorizamos os católicos altamente comprometidos como aqueles que disseram que a Igreja era a parte mais importante ou uma das partes mais importantes da sua vida, que frequentavam a Igreja uma vez por semana ou mais, e que se situavam nos níveis um ou dois da escala de sete pontos. Usando esses critérios como parâmetro, 19% dos entrevistados eram católicos altamente comprometidos, outros dois terços (66%) eram moderadamente comprometidos, e 14% tinham baixos níveis de compromisso. Claramente, para os católicos, o compromisso moderado é a norma.
A porcentagem de católicos que são altamente comprometidos com a Igreja diminuiu – de 27% para 19% – nos 25 anos desde que começamos a rastrear os níveis de compromisso dos católicos norte-americanos. No entanto, há uma relativa estabilidade nos padrões de compromisso ao longo do tempo. Em 2005, por exemplo, 21% dos entrevistados foram classificados como católicos altamente comprometidos, e esse número era de 23% tanto na pesquisa de 1993 quanto na de 1999.
Além disso, a porcentagem de católicos com um baixo nível de compromisso não aumentou ao longo dos últimos 25 anos. De fato, diminuiu ligeiramente ao longo do tempo (ver Figura 6). A relativa estabilidade no compromisso católico é ainda mais notável dado, que desde o final dos anos 1990, houve um acentuado declínio tanto na proporção de norte-americanos que se identificam com uma denominação religiosa, quanto na proporção dos que se afirmam manter uma frequência à Igreja semanal.
Em suma, enquanto números significativos de católicos podem deixar a Igreja (Pew Forum 2008), o retrato dos católicos atuais que as nossas pesquisas capturam em qualquer ponto no tempo (por exemplo, 1987, 1993, 1999, 2005) sugere que, apesar da fluidez católica (devido às pessoas que saem, ao envelhecimento dos membros atuais, o afluxo de novos imigrantes), o nível de compromisso daqueles que são católicos em um determinado momento não está mudando radicalmente. E mesmo assim, certamente, vivemos em uma Igreja em mudança e em uma sociedade em mudança, em que a religião está perdendo algumas de suas ênfases supremas.
Os altamente comprometidos
Não há uma grande variação demográfica nos padrões de compromisso católico. Homens católicos (18%), por exemplo, são basicamente tão comprometidos quanto as mulheres (21%), e proporções semelhantes de hispânicos (19%) e não hispânicos (19%) são altamente comprometidos. A variação mais notável se deve à idade ou à geração. Católicos mais velhos são muito mais propensos do que os católicos mais jovens a serem altamente comprometidos com a Igreja, com o dobro de católicos pré-Vaticano II (41%) do que católicos da geração Vaticano II (20%) e das gerações católicas mais jovens (16%), classificados como altamente comprometidos. Além disso, enquanto o nível de escolaridade não afeta o compromisso católico, a educação católica afeta. Por uma diferença de 8 a 9 pontos percentuais, os entrevistados que frequentaram uma escola de ensino fundamental ou de ensino médio ou uma faculdade católica são mais propensos do que outros a serem católicos altamente comprometidos. O estado civil também é importante. Católicos casados (23%) são mais propensos do que os que nunca se casaram (16%) e do que os católicos coabitantes (8%) a serem altamente comprometidos com a Igreja.
Como seria de se esperar, os católicos altamente comprometidos são muito mais propensos do que seus pares menos comprometidos a afirmar a importância e o significado pessoal dos sacramentos e das crenças teológicas (por exemplo, a ressurreição), a tradição apostólica da Igreja, e os ensinamentos sócio-morais da Igreja. Da mesma forma, por uma margem de pelo menos 2 para 1, eles são mais propensos do que outros católicos a endossar a autoridade magisterial do Vaticano e menos propensos do que outros católicos a enfatizar a autonomia moral dos indivíduos nas decisões referentes ao comportamento sexual.
As claras diferenças entre católicos altamente comprometidos e outros católicos não devem ser entendidas como se os católicos altamente comprometidos marcham em sintonia com a ortodoxia do Vaticano. Muito pelo contrário. Como é o caso dos católicos como um todo, muitos católicos altamente comprometidos controem uma identidade católica que permite uma grande autonomia individual com relação à prática do catolicismo.
Por exemplo, 60% dizem que é possível ser um bom católico sem obedecer a doutrina da Igreja sobre a contracepção artificial, e uma quase maioria diz que uma pessoa pode ser um bom católico sem ir à missa semanalmente (48%), ou sem que o seu casamento seja aprovado pela Igreja (48%), ou sem obedecer a doutrina da Igreja sobre o divórcio e o segundo casamento (46%) (ver Figura 5).
É interessante notar que, enquanto dois terços dos católicos altamente comprometidos valorizam o papado como um aspecto significativo do catolicismo (65%), uma proporção semelhante também valoriza o fato de que os católicos possam discordar dos ensinamentos da Igreja e ainda assim permanecer fiéis à Igreja (62%). De fato, pouco mais da metade (57%) dos católicos altamente comprometidos dizem que a autoridade magisterial reivindicada pelo Vaticano é muito importante para eles pessoalmente.
Tendo em vista os desafios estruturais enfrentados pela Igreja como um resultado da escassez de padres, aqueles que exploram as possibilidades das mudanças institucionais provavelmente irão encontrar algum apoio entre os católicos altamente comprometidos. Apesar de um clero masculino celibatário fazer parte da tradição da Igreja há muito tempo, apenas 40% dos católicos altamente comprometidos consideram esse aspecto do catolicismo como muito importante. Além disso, quase a metade, 46%, defendem um papel para as mulheres como presbíteras na Igreja, um leve aumento dos 40% encontrados na pesquisa de 2005. E dois terços (65%) dos católicos altamente comprometidos manifestam seu apoio às mulheres como diaconisas, quase o mesmo número de 2005 (68%).
Mudanças desde 2005
O perfil da identidade católica dos católicos altamente comprometidos emergentes da pesquisa de 2011 está substancialmente alinhado com os padrões da pesquisa de 2005. Em particular, a priorização de aspectos específicos do catolicismo (por exemplo, a ressurreição, 98%; os sacramentos, 96%; Maria, 93%) sobre outros aspectos (por exemplo, um clero celibatário, 40%) é consistente com as prioridades indicadas pelos católicos altamente comprometidos em 2005.
Apesar dessa consistência, há, no entanto, algumas quedas notáveis no nível de apoio para certos aspectos do catolicismo. Muitos menos católicos altamente comprometidos de hoje em comparação com os de 2005 veem a autoridade magisterial do Vaticano (57% em comparação com 71%) e os ensinamentos da Igreja que se opõem ao casamento entre pessoas do mesmo sexo (59% em comparação com 72%) como muito importantes. Também houve um declínio na proporção de católicos altamente comprometidos que consideram as devoções (de 79% em 2005 para 70% hoje) e a preocupação da Igreja pelos pobres (93% para 86%) como muito importantes. Por outro lado, um número igual de católicos altamente comprometidos hoje (75%) e em 2005 (76%) dizem que a oposição da Igreja ao aborto é muito importante para eles pessoalmente.
Além disso, existe uma notável coerência entre várias dimensões na forma como os católicos altamente comprometidos interpretam o que significa ser um bom católico. Há pouca ou nenhuma mudança desde 2005 no número de católicos altamente comprometidos que dizem que uma pessoa pode ser um bom católico sem ir à missa todos os domingos (49% em 2005, 48% em 2011); ou sem obedecer ao ensino da Igreja sobre o controle da natalidade (64% em 2005, 60% em 2011), o divórcio e o segundo casamento (43% em 2005, 46% em 2011), ou o aborto (31% em ambos os períodos), ou sem ter seu próprio casamento aprovado pela Igreja (49% em 2005, 48% em 2011).
Em meio a essa coerência, não há nenhuma mudança significativa na compreensão dos católicos altamente comprometidos a respeito das obrigações de um bom católico para com a sua paróquia. Considerando que 40% dos católicos altamente comprometidos em 2005 disseram que uma pessoa pode ser um bom católico sem doar tempo ou dinheiro para ajudar a paróquia, esse número aumentou para 56% nos últimos seis anos. Paralelamente, houve também um aumento (de 30% para 39%) na proporção de católicos altamente comprometidos que dizem que uma pessoa pode ser um bom católico sem doar tempo ou dinheiro para ajudar os pobres.
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Compromisso dos católicos nos EUA permanece estável ao longo do tempo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU