05 Novembro 2011
Uma pesquisa-choque na Irlanda: na ex-catolicíssima Eire, quase metade dos habitantes não tem uma opinião positiva sobre a Igreja.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 02-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma pesquisa do think tank religioso Iona Institute (organização não-governamental dedicada ao fortalecimento da sociedade civil mediante o apoio à religião e ao casamento) revela que três quartos dos irlandeses críticos da hierarquia eclesiástica indica os abusos sexuais do clero contra menores como causa da sua contrariedade à Igreja. Além disso, 23% dos entrevistados atribuíram seu próprio ponto de vista negativo com relação à Igreja "à história e às instituições eclesiásticas".
Um sinal de alerta para uma comunidade católica que, explica o arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, está enfrentando um difícil caminho de renovação. "Algumas pessoas fora da Irlanda ainda acreditam que o país seja um bastião do catolicismo tradicional", indica Dom Martin. "Eles se surpreendem ao descobrir que em Dublin há paróquias em que a presença na missa dominical é de 5% da população católica, e em alguns casos não chega a 2%".
A situação piorou significativamente nos últimos dois anos. De acordo com diversas pesquisas, diversos menores irlandeses teriam sido espancados, estuprados e humilhados por padres e freiras católicas, enquanto ainda se encontravam instituições "corretivas" públicas na Irlanda até os anos 1980: a afirmação é da Child Abuse Commission, que realizou a maior pesquisa de todos os tempos sobre os institutos geridos pelas ordens religiosas irlandesas, um estudo que durou nove anos e no qual foram entrevistadas milhares de vítimas de abuso.
Em particular, nas instituições públicas para meninos geridas por ordens religiosas católicas – reformatórios, escolas para "rapazes difíceis" e casas que hospedavam deficientes –, as violências eram "endêmicas", segundo a definição dada pelo juiz que coordenou o relatório, Sean Ryan.
Violências que deixaram milhares de pessoas marcadas por toda a vida. Em novembro de 2009, uma pesquisa realizada pela RedC, ainda segundo o Iona Institute, fotografava uma realidade muito diferente: dois terços dos irlandeses iam à igreja pelo menos uma vez por mês, cerca de cinco vezes mais do que os correligionários franceses. Com um notável aumento com relação ao ano anterior (2008), quando uma outra pesquisa, realizada pela Esri, tinha evidenciado uma frequência religiosa de 54%.
Para enfrentar a emergência que surgiu no biênio 2009-2011, a Santa Sé recorreu a medidas drásticas. "É a primeira vez que isso acontece na história eclesiástica", afirma a revista dos paulinos Família Cristã. "A Igreja de toda a nação, a Irlanda, as suas dioceses, seus seminários, todas as suas congregações foram praticamente comissariadas pelo Vaticano. Na linguagem eclesiástica, isso se chama de "visita apostólica", e o papa já a havia anunciado na Carta aos Católicos Irlandeses depois do escândalo dos abusos sexuais". Bento XVI nomeou nove inspetores, incluindo duas irmãs, para "purificar" a Igreja da Irlanda.
A Santa Sé, dessa forma, "pretende oferecer aos bispos, ao clero, aos religiosos e aos fiéis leigos" uma ajuda para enfrentar "adequadamente" a situação que surgiu depois dos abusos sexuais. Alguns bispos irlandeses foram forçados a renunciar. A amplitude do escândalo impressionou o papa, mas o que mais chocou a Santa Sé foram as coberturas que houve durante anos dos casos de pedofilia.
Há um ano, ocorreu uma cúpula entre todos os bispos irlandeses, o papa e alguns dicastérios da Cúria para enfrentar a tempestade. A partir dela, na prática, a Igreja irlandesa saiu comissariada. Os inspetores são um cardeal inglês, O"Connor, ex-arcebispo de Westminster, o cardeal de Boston, O"Malley, os arcebispos de Toronto e de Ottawa, e o arcebispo de Nova York. Com eles, colaboram dois religiosos, um jesuíta e um redentorista, e duas irmãs, incluindo a Madre Haron Holland, que durante anos trabalhou como superiora no Vaticano da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada.
A investigação começou com um questionário enviado a todos os religiosos para conhecer a situação da observância das linhas diretrizes da Santa Sé sobre os abusos sexuais. Julgando-se pelos 50% de irlandeses hostis à Igreja, o caminho a percorrer ainda é longo.
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Era uma vez (a Igreja) na Irlanda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU