04 Novembro 2011
Os indignados de Londres não conseguiram derrubar o capitalismo, mas pelo menos conseguiram causar alguma confusão na Igreja da Inglaterra. Acampados há duas semanas na praça da Catedral Saint Paul, no coração do centro comercial da capital, as poucas centenas de manifestantes venceram, na terça-feira, 1º de novembro, uma importante batalha contra os dignitários religiosos: estes desistiram na última hora de lançar um procedimento de expulsão, autorizando de facto a permanência do acampamento.
A reportagem é de Eric Albert, publicada no jornal Le Monde, 03-11-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa mudança de linha de última hora veio depois da renúncia de dois dos padres da catedral, incluindo o reitor, que rejeitavam o fato de que se usasse a violência para liberar a praça. Tudo começou quase por acaso. No sábado, 15 de outubro, 2.000 manifestantes tentaram "ocupar a Bolsa de Londres". Mas o edifício, situado perto de Saint Paul, podia ser facilmente cercado pelas forças policiais. Não podendo alcançar seu objetivo, inspirando-se no movimento que veio da Espanha e de Wall Street, eles começaram um sit-in na praça da catedral.
Um golpe de sorte: contrariamente às aparências, trata-se essencialmente de uma propriedade privada, pertencente à Igreja da Inglaterra. Inicialmente, a hierarquia da catedral Saint Paul decidiu acolher os manifestantes: concordando com a ideia de fundo – a denúncia dos desvios do capitalismo –, ela não via nenhum motivo para removê-los, ainda mais que não eram numerosos.
O arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, além disso, nos últimos anos, multiplicou os ataques aos banqueiros e à cultura dos bônus: "A sociedade corre o risco de funcionar cada vez menos bem se não reduzir o nível das desigualdades", declarava ele ainda em 2009.
No entanto, a militância dos dirigentes de Saint Paul logo diminuiu. Vendo aumentar o número das barracas e diminuir o de turistas (o bilhete de entrada custa 15 euros), Graeme Knowles, deão da catedral – um posto muito cobiçado, cujo titular deve ter a aprovação da Rainha –, começou a elevar os tons. Inicialmente, a mensagem foi educada: "Não seria hora de vocês irem embora?".
Mas como os manifestantes davam de ombros, a catedral tomou uma decisão histórica: pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, fechou as portas. Oficialmente, os riscos de incêndio eram muito altos. Falso, replicam os manifestantes, que afirmam ter seguido ao pé da letra as indicações dos bombeiros e reorganizado as barracas.
Para Saint Paul, a conclusão lógica era lançar um procedimento de expulsão. Mas, diante do risco de violência que isso acarretaria, o reverendo Giles Fraser, número três da hierarquia da catedral, anunciou com grande fracasso a sua renúncia na quinta-feira, 27 de outubro, declarando em uma entrevista ao The Guardian: "É em um acampamento assim que eu poderia imaginar o nascimento de Jesus". O deão, por sua vez, renunciou na segunda-feira, depois de ser alvo de manifestantes.
Diante da crise e dessa publicidade negativa, o bispo de Londres, Richard Chartres, na terça-feira, fez um gesto de conciliação: interrompeu o processo judicial de expulsão. A corporação da City, que é proprietária das avenidas ao longo da praça, também suspendeu a sua ação judicial.
O acampamento celebrou. "A nossa causa se espalha", disse um manifestante. "A Igreja deveria estar entre os indignados e ajudar as pessoas", lamenta Dennis Nadin, padre anglicano aposentado que veio para trazer seu apoio. Um outro acampado, presente desde o início da ocupação, acrescenta: "Agora estamos prontos para ficar durante meses". Essa perspectiva poderia se tornar um pesadelo para a Igreja da Inglaterra.
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Igreja da Inglaterra decide tolerar os "indignados" na praça da catedral de Londres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU