"Vitória contundente", "Cristina arrasou" e "Quatro anos a mais" foram algumas das manchetes na Argentina sobre os resultados das eleições presidenciais de domingo, quando
Cristina Kirchner - segundo 98% das urnas apuradas - foi reeleita para um novo mandato de quatro anos, com 53,96% dos votos.
A reportagem é de de
Ariel Palacios e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 25-10-2011.
A marca supera os 45% obtidos em sua primeira eleição, em 2007, e ultrapassa amplamente os 22% conseguidos por seu marido,
Néstor Kirchner, em 2003, quando o casal chegou ao poder.
Cristina, candidata da Frente pela Vitória (uma sublegenda do partido peronista) também obteve a maioria da Câmara de Deputados e do Senado.
Os analistas políticos destacam que, com essa vitória - e com o novo peso do governo no Parlamento - encerra-se o "kirchnerismo" (a vertente peronista criada pelo ex-presidente Néstor Kirchner) e surge o "cristinismo", que terá a presidente Cristina como figura central nos próximos anos.
O filósofo
Ernesto Laclau, mentor ideológico da presidente, considera que o cristinismo poderia representar um "kirchnerismo mais aguçado". Segundo ele, o kirchnerismo é uma etapa "transcendental" do peronismo. Nesse contexto, afirma, o cristinismo, com a colaboração de grupos como "
La Cámpora" (a juventude kirchnerista), poderia "dar um passo além" do kirchnerismo.
Segundo o colunista político
Julio Blank, do jornal
Clarín, o kirchnerismo, que continha o aparato peronista, sai de cena e entra o cristinismo, que seria "uma tribo heterogênea onde convivem movimentos sociais, grupos de intelectuais, artistas e acadêmicos, sindicatos, patrulhas perdidas da esquerda dos anos 70 e fragmentos das formações políticas tradicionais". "Todos eles, bem azeitados com o talão de cheques estatal. E com uma única chefe, sem estado-maior".
O segundo colocado foi o socialista
Hermes Binner, que conseguiu 16,87% dos votos.
Binner, famoso por sua honestidade - e ausência de carisma - seria o novo referencial da oposição, já que teve uma performance superior à de seus concorrentes. Ele anunciou ontem que pretendia "dialogar" com o governo.
Parlamento leal
Na Câmara de Deputados,
Cristina terá uma maioria definida como "compacta". O reforço do governo no Legislativo não será apenas quantitativo, mas também qualitativo. A base governista será composta por deputados escolhidos a dedo pela presidente, ao contrário de outras ocasiões, quando os governadores ou as autoridades provinciais do peronismo definiam os candidatos. Desta vez, Cristina decidiu colocar somente pessoas de lealdade inquestionável. Ela pretende evitar dissidências como as ocorridas nos últimos anos, especialmente com a partida dos setores da "esquerda pura" do peronismo que, desencantados com os Kirchners, deixaram o governo.
De olho na formação de uma tropa de choque no Parlamento, a presidente endossou a candidatura de vários jovens de "
La Cámpora", de fervorosa lealdade a Cristina e Néstor Kirchner. Os resultados ontem indicavam que cinco deputados de "La Cámpora" tinham sido eleitos. Outros integrantes do grupo serão postos em altos cargos dos ministérios, no controle da caixa previdenciária e em estatais.
Conforme estimativa do
Clarín, o governo terá 131 deputados, entre os peronistas e os aliados de primeira hora. Na contramão, a oposição, que antes da eleição tinha, no total, 136 cadeiras, terá 126 a partir de 10 de dezembro - data da posse dos eleitos no domingo.
No Senado, o governo Kirchner e seus aliados contarão com 38 votos. Os demais 34 senadores estarão divididos entre os vários partidos da oposição.
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Argentina avança para o "cristinismo", afirma Ernesto Laclau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU