22 Outubro 2011
Crise econômica global acelera discussão na União Sul-Americana de Nações sobre instituição financeira regional para auxiliar país em crise sem ortodoxia do FMI. Brasil defende ampliar fundo já existente, enquanto Venezuela e Equador desejam criar um super organismo. Não há prazo para discussão ser concluída.
A reportagem é de André Barrocal e publicada pela Agência Carta Maior, 21-10-2011.
O sonho do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de ter no Banco do Sul uma opção continental ao FMI não vingou, mas o debate sobre uma instituição regional que possa socorrer país em crise financeira está vivo na União Sul-Americana de Nações (Unasul). A discussão no bloco ganhou fôlego este ano, depois da instalação do conselho de ministros da Fazenda e de duas reuniões recentes sobre a crise econômica global.
Hoje, há duas propostas na mesa – uma brasileira, outra de Venezuela e Equador –, as quais se distinguem basicamente por suas ambições.
O Brasil defende aproveitar um organismo que já existe, o Fundo Latino Americano de Reservas (FLAR), abri-lo para novos sócios e capitalizá-lo. Criado em 1978 para ajudar gerir as reservas de dólares dos sócios e apoiar o que estiver com problemas financeiros, o fundo tem sete membros – Venezuela, Uruguai, Peru, Equador, Costa Rica, Colômbia e Bolívia – e US$ 2,3 bilhões em caixa.
Na proposta brasileira, o país entraria no FLAR junto com Argentina, Paraguai e Chile, que fariam aporte equivalente ao caixa atual, dobrando o fundo de tamanho. “Manter a região como uma região estável [financeiramente] tem um valor importante para o Brasil”, disse à Carta Maior o secretário de Assuntos Internacionais do ministério da Fazenda, Carlos Cozendey, ao justificar por que o assunto interessa ao Brasil.
Já equatorianos e venezuelanos sonham mais alto. Defendem criar uma super entidade, com volume de recursos e poderes bem maiores do que FLAR ampliado proposto pelo Brasil. Gostariam de uma gestão coletiva de todas as reservas de dólares sul-americanas – só Brasil e Argentina têm mais de US$ 400 bilhões. Imaginam, até, que a instituição poderia dar origem, no futuro, a uma moeda continental, que permitiria aos países não precisar mais de dólar, ao menos em transações regionais.
O motivo? “Eliminar a intermediação dos Estados Unidos”, disse Pedro Páez Pérez, que dirige comissão ligada ao presidente do Equador, Rafael Correa, e que discute uma nova arquitetura financeira na América do Sul.
Segundo Pérez, que esteve no Brasil há duas semanas participando de seminários sobre a crise internacional, esse grande "FMI regional" teria hoje pelo menos US$ 720 bilhões (metade do Brasil) e poderia proteger, de fato, o continente e fazer frente ao "FMI original". Apesar de o assunto ter ganho corpo na Unasul recentemente e fazer parte do plano de trabalho do conselho de ministros da Fazenda do organismo, não há perspectiva de prazo para que seja tomada uma decisão.
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Unasul debate "FMI regional", e Brasil se opõe a Venezuela e Equador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU