12 Outubro 2011
O novo livro de Marco Politi, Crisi di un papato, apresenta um retrato distorcido de Bento XVI, "oscilante entre o autocrata que não ouve ninguém e decide sozinho, e o velho professor indeciso, que só quer se refugiar em sua biblioteca para estudar". Em ambos os casos, uma imagem "inadequada e culpada".
A análise é de Lucetta Scaraffia, membro do Comitê Italiano de Bioética e professora de história contemporânea da Universidade La Sapienza de Roma. O artigo foi publicado no jornal Il Sole 24 Ore, 09-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Não é fácil falar de um livro em que eu sou citada várias vezes, mas sempre de modo a aparecer diferente o que eu escrevi: qualquer um teria a suspeita de que todo o discurso é conduzido com esse método. E a leitura do texto o confirma: mesmo que o autor seja jornalista e não historiador, tendo por dever disciplinar a revelação das suas fontes disciplinares, basta um rápido olhar para se dar conta de que se trata de um triunfo do preconceito.
Politi, de fato, parte da ideia de que foi um erro eleger Joseph Ratzinger ao sólio pontifício e continua tentando demonstrar que seu pontificado é uma sequência de desastres: naturalmente, as fontes das quais ele se serve são escolhidas sob medida para corroborar essa hipótese inicial. Pode-se ver isso do fato de que são citados, entre aspas, os pareceres de muitos prelados, vaticanos ou não, todos rigorosamente anônimos – só sabemos o seu grau na hierarquia eclesiástica – e evidentemente escolhidos entre os opositores do papa.
O autor também traz, de segunda mão, dados precisos sobre as votações no conclave que, como se sabe, não é possível controlar: qualquer fonte que ele tenha usado, admitindo-se que exista realmente, é, sem dúvida, tão envenenada a ponto de transgredir o juramento feito na Capela Sistina. Será, portanto, confiável? Duvido muito.
Assim como penso que não é um método histórico recomendável examinar apenas os episódios em que Bento XVI encontrou oposições e críticas – o que, de resto, não deve surpreender em um mundo secularizado, como o próprio papa disse em viagem a Berlim – e ignorar qualquer outro fato diferentes, como por exemplo as viagens aos Estados Unidos, à Grã-Bretanha ou à Alemanha, iniciadas em meio a críticas e oposições e encerradas com um inegável sucesso, também pessoal, do pontífice.
E também não me parece bem escolhido o retrato do pontífice, oscilante entre o autocrata que não ouve ninguém e decide sozinho – além disso, sempre com base em uma ideia de Igreja hipertradicional –, e o velho professor indeciso, que só quer se refugiar em sua biblioteca para estudar. Em ambos os casos, inadequado e culpado, mas não se entende muito bem se de muita autoridade ou de fraqueza.
São muito poucas as citações dos escritos ou dos discursos de Bento XVI, isto é, daquilo que ele pensa de verdade, enquanto abundam as opiniões anônimas denegritórias sobre ele. Em essência, um panfleto previsível, não diz nada de novo, mas se limita a recolher os pareceres críticos publicados nestes anos. Certamente, não um balanço sério. Mas que talvez será um sucesso editorial: as pessoas adoram encontrar confirmação dos lugares-comuns que compartilham e se sentir progressistas ao condenar um papa que, por exemplo, é contrário ao divórcio, à contracepção, ao orgulho gay.
Certamente, não está em questão a legitimidade da crítica ao pontífice ou um balanço histórico, e não teológico, das suas ações, mas sim de fundamentação e de solidez dos argumentos adotados.
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"Um panfleto cheio de preconceitos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU