Mapa revela nações que mais protegem os direitos dos homossexuais

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

12 Outubro 2011

Surpreendentemente, países como Argentina, Espanha e África do Sul superam os EUA.  Em termos de geopolítica e de casamentos gays, nas ex-ditaduras o "sim" é mais fácil.

A reportagem é de Angelo Aquaro, publicada no jornal La Repubblica, 10-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Há uma linha que une os mártires da Praça de Maio e os resistente gays de meio mundo? O que liga a África do Sul de Nelson Mandela ao Massachusetts daquele Mitt Romney que visa à Casa Branca? E Barack Obama realmente tem algo a aprender com o ex-primeiro-ministro português José Sócrates? Tudo o que você pensava saber até agora os casamentos gays é falso. Ou pelo menos discutível.

Não é verdade que o fatídico "sim" aos homossexuais é uma meta das nações reconhecidas como socialmente mais avançadas. Ao contrário. A geopolítica dos casamentos gays começa em Lisboa. O primeiro colunista abertamente gay do New York TimesFrank Bruni – foi até lá para descobrir por que esse pequeno país à beira do precipício (também econômico) da Europa conseguiu acertar um alvo até agora difícil para um gigante como os EUA. Onde Barack Obama brinca com os seus apoiadores gays ("Encontrei a líder de vocês: Lady Gaga!"), mas ainda não se pronunciou a favor dos casamentos. Fazendo, assim, com que o país escolha desordenadamente: de Massachusetts, em que se casa por decisão da Suprema Corte (e para a raiva do ex-governador mórmon Romney) até New York, que neste mês celebrou os primeiros 100 dias do "sim" aos gays.

Mas por que Portugal? Lisboa é a última capital a ter aprovado uma lei no ano passado. E, além do mais, é um país católico, que se poderia imaginar a anos luz daquela Holanda que escolheu a tolerância por princípio de Estado: das vitrines já turísticas aos cafés de maconha. E que, pela primeira vez no mundo, instituiu, há dez anos, o casamento gay. Desde então, só nove foram os Estados em que o casamento gay foi admitido. Mas aqui vêm as outras surpresas.

Os países que, como a Holanda, gozam de uma tradição de tolerância são um quarteto: Noruega, Suécia, Islândia e Canadá. Mas e os outros? África do Sul, Espanha, Portugal e Argentina. A explicação é esboçada pelo estudioso Evan Wolfson, do Freedom for Marry. "Trata-se de países onde a democracia e o respeito pela lei foram negados durante anos. E onde a sociedade civil lutou fortemente para reconquistá-los". Da Argentina da ditadura de Videla à Espanha do pós-Franco. Da África do Sul do apartheid ao Portugal livre da Revolução dos Cravos.

Mas não só. O ex-primeiro-ministro português Sócrates reconhece: "A escolha da Espanha foi muito importante para nós". A primavera (já murcha) de Zapatero teria servido como estímulo para o vizinho de península: mas também para a América Latina, que continua olhando com amor e rivalidade para a pátria-mãe. E não é por acaso que o próximo país na lista do reconhecimento ainda é de marca espanhola: o Uruguai.

A hipótese que cruza países saídos da ditadura e direitos gays é cativante. Mas há quem destaque os seus limites. Uma jurista gay e contracorrente, por exemplo, é Katherine M. Franke. A professora leciona na Universidade de Columbia e em seu livro The politics of same sex marriage politics já havia destacado alguns riscos. Além de conquistas civis. Inclinando-se sobre a instituição burguesa do casamento, os homossexuais não só venderiam a sua alma ao diabo do conformismo: mas também sancionaram a enésima desigualdade social. Ou seja, o reconhecimento dos direitos somente sob prévio contrato: eu respeito você como gay – mas se você se casar.

E pensar que as uniões que hoje dividem afundam suas raízes nos séculos. Alan Tullchin é professor da Universidade da Pensilvânia, que encontrou na França de 600 anos atrás aqueles contratos de "fraternização" (com a promessa de compartilhar "un pain, un vin et une bourse"), que serviam para repassar a propriedade em caso de morte do companheiro. Sem falar dos piratas da Ilha da Tartaruga: que se casavam entre si para permitir que os marinheiros – matelot – dividissem os tesouros.

A propósito: exatamente de matelot é que vem aquele mate, que, em inglês, designa o parceiro sexual. Masculino ou feminino: ou ambos.