09 Outubro 2011
Temendo um regime radical sunita, os cristãos da Síria estão entre os mais árduos defensores de Bashar Assad. Segundo uma série de seguidores e líderes cristãos, a queda do líder sírio poderia significar o fim do cristianismo nas terras de São Paulo e do túmulo de São João Batista, dentro da Mesquita dos Omíadas.
A reportagem é de Gustavo Chacra e está publicada no jornal O Estado de São Paulo, 09-10-2011.
"Todos os dias, das 5 horas às 7 horas, rezamos pela estabilidade de Assad no poder. Queremos tranquilidade. O que os EUA e a França querem? Diga a eles que vivemos bem. O nosso presidente é muito bom. O Exército está preparado para respeitar a religião cristã", afirmou a madre Frevonia Nabham, uma cristã grego-ortodoxa, chefe do convento de Sadnaya, o mais importante do país. Ela fez questão de mostrar os quadros de Assad, um muçulmano alauita de viés laico, em meio a imagens de santos na parede. George, um cristão siríaco-ortodoxo de Damasco, disse que "os alauitas, como Assad, entendem as liberdades dos cristãos". "Mas isso acabará se os sunitas chegarem ao poder. Estamos com muito medo do que pode acontecer se Bashar for derrubado. Gostamos muito dele e o defenderemos até o fim."
Assim como o Líbano, a Síria é um dos últimos redutos onde os cristãos ainda são fortes no Oriente Médio. Os do Iraque passaram a ser perseguidos depois da ocupação americana e a queda de Saddam Hussein; igrejas são queimadas no Egito; e os palestinos de cidades como Belém imigram culpando a ocupação israelense da Cisjordânia e o radicalismo do Hamas na Faixa de Gaza. A preocupação com o destino dos cristãos levou até mesmo o patriarca da Igreja Cristã Maronita no Líbano, Beshara Rai, a defender Assad em uma série de declarações. Os patriarcas cristãos ortodoxo grego, católico grego, siríaco e assírio de Damasco manifestaram abertamente apoio ao líder sírio. Caldeus, fugindo do Iraque, também dizem que a Síria é seu último refúgio. Armênios fazem questão de afirmar que os sírios e os libaneses os receberam depois do genocídio turco.
Conspiração. Entre os cristãos da Síria, que representam cerca de 10% da população, ganha força uma teoria da conspiração, propagada pela imprensa oficial, envolvendo um suposto plano de França, EUA, Arábia Saudita e Israel para expulsar os cristãos do mundo árabe. E, segundo eles, além de Assad, quase ninguém apoia estes cristãos sírios, palestinos, libaneses e iraquianos - no Líbano, porém, o líder sírio sofre oposição de algumas facções políticas cristãs.
"(Nicolas) Sarkozy disse que nos dá passaporte e visto (para os cristãos). Quem disse que queremos? Somos cristãos e estamos bem aqui, com Assad. Não queremos os EUA e a Europa se metendo nas nossas vidas. Somos cristãos e sírios. Mas os americanos e franceses querem nos tirar daqui. Querem limpar esta região dos cristãos", afirmou Youssef Massad, líder dos moradores da cidade de Maloulla, um dos centros do cristianismo oriental que ainda mantém o aramaico como idioma das conversas do dia a dia.
Procurada, a missão francesa na ONU afirmou que essas declarações são absurdas. Historicamente, a França sempre defendeu o cristianismo no Líbano e na Síria.
Para os cristãos sírios, o Brasil é fundamental para a salvação deles neste momento porque o país contém uma das maiores comunidades de imigrantes sírios em todo o mundo. "Avise aos brasileiros que os cristãos da Síria apoiam Bashar", disse o cristão Michel Khoury em Damasco.
Massad, dos cristãos de Maloulla, também atacou os opositores. "Falo de boca cheia. Eles pedem liberdade? Para quê? Querem democracia? Para quê? Eles não dão liberdade nem mesmo para as famílias deles. Minha mulher e minha filha podem se vestir do jeito que quiserem. E as deles?", questionou em clara alusão aos radicais islâmicos sunitas – como tem sido pintada a oposição síria internamente.
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Comunidade cristã síria apoia Assad - Instituto Humanitas Unisinos - IHU