05 Outubro 2011
Após manter refém a cúpula da Fundação Nacional do Índio (Funai), na tentativa de ampliar o território dos guarani no RIo Grande do Sul, os índios mbya-guarani garantiram para amanhã uma reunião entre 10 caciques e a presidência do órgão, em Brasília. Conhecidos pela tranquilidade, os índigenas da tribo guarani dizem que retiveram os funcionários da Funai como uma forma de apelo após muitas tentativas de que fossem ouvidos.
A notícia é do jornal Zero Hora, 05-10-2011.
Contrastando com a mobilidade inerente às tribos guarani, os mbya-guarani não almejam sair da terra ocupada na Reserva da Estiva, em Viamão. São 33 famílias vivendo em um espaço de 7,5 hectares, com direito à escola e a posto de saúde. Encontraram, em 1998, no município da Região Metropolitana, o chão que buscavam.
A tribo vinda de Tenente Portela, ocupa a reserva há 13 anos, conforme o cacique Eloir de Oliveira. Saíram do interior em busca da "terra paradisíaca", costeando o Litoral, seguindo a cultura da mobilidade característica dos guarani. No início, eram sete famílias. Com o tempo, foram crescendo e hoje somam 33.
Depois de lutar pelos seus direitos e conquistar, com a ajuda de entidades, melhorias para a aldeia se fixaram na Reserva da Estiva.
Possuem um posto de saúde e escola com Ensino Fundamental completo e Ensino Médio. As residências e os prédios funcionais ocupam uma área de quatro hectares. Nas novas casas, nas quais já moram desde julho, têm dois quartos, banheiro, sala, cozinha e varanda – todas com água encanada e esgoto. A luz ainda não foi totalmente distribuída. Apesar de não ser o ideal, somando os ganhos, não pretendem dar continuidade à mobilidade tão cedo.
Dentro da aldeia, vivem de acordo com os costumes, regras e leis da cultura guarani. Queriam mais espaço para passear, pescar, plantar, produzir, reflorestar e cultivar ervas medicinais. Sobrevivem do plantio e do artesanato.
Foi neste cenário que representantes de uma comissão de negociações montada pelos indígenas fecharam as portas do galpão comunitário da aldeia para se fazerem ouvidos.
Índios obrigaram funcionários da Funai a sentar
Os integrantes da tribo aproveitaram a visita do presidente do órgão, Márcio Augusto Freitas de Meira, que inauguraria 30 casas de madeiras, para pedir a ampliação e a demarcação das terras.
Durante as quase nove horas – das 17h de segunda-feira até as 1h40min de ontem – em que os 14 integrantes da delegação ficaram impedidos de deixar a estrutura de madeira, o parlatório foi tomado praticamente todo o tempo pelos índios.
– Depois que todos entraram fechamos as portas. Colocamos os membros da Funai sentados. Algumas mulheres se assustaram e quiseram sair, mas as tranquilizamos de que só queríamos ser ouvidos e não machucaríamos ninguém – contou o cacique.
O assistente técnico da regional da Funai do Litoral Sul, João Maurício Farias, explicou que é comum funcionários do órgão serem feitos reféns, mas que o inusitado do caso está em envolver o presidente da Funai.
– Estávamos com uma agenda positiva para cumprir aqui e fomos interrompidos por eles. Inclusive, um ato para eles exporem suas reivindicações ao presidente estava previsto para a manhã de ontem em Porto Alegre. Foi tudo cancelado – disse Farias.
Os guarani no RS
- O Estado abriga 33 aldeias guarani
- O mbya-guarani é uma das quatro etnias indígenas que englobam os povos guarani.
- Documentos históricos reconhecem a presença dos guarani em território gaúcho a partir de 1930.
- Comunidades guarani ocupam, principalmente, áreas do litoral brasileiro, desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul. Também estão presentes no Uruguai.
- A principal característica é a mobilidade. Vivem em busca da "terra paradisíaca", sempre costeando o Litoral.
Fonte: José Otávio Catafesto de Souza,coordenador do Laboratório de Arqueologia e Etnologia da Faculdade de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Ação dos guarani no RS provoca reunião em Brasília - Instituto Humanitas Unisinos - IHU