04 Outubro 2011
Como na Praça Tahrir, esta é a revolução dos jovens sem futuro. No início, ele não foi levado a sério, mas agora o movimento está desembarcado em outras metrópoles americanas. É preciso salvar os grandes bancos de si mesmos, eliminar os benefícios fiscais mais irrazoáveis.
A reportagem é de Nicholas D. Kristof, publicada no jornal La Repubblica, 03 -10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O movimento "Occupy Wall Street" (Ocupar Wall Street) tomou posse de um parque no distrito financeiro de Manhattan e o transformou em uma base revolucionária. Centenas de jovens gritam palavras de ordem contra os "bankster" (banqueiros-gângsters) ou os magnatas das grandes corporações. De vez em quando, alguns deles tiram suas roupas também, atraindo ainda mais a atenção e as câmeras dos telejornais.
O movimento "Occupy Wall Street" foi inicialmente tratado como uma piada, mas, passadas duas semanas, está cada vez mais ganhando corpo e conquistando seguidores. E protestos e ocupações semelhantes estão se multiplicando um pouco em todos os lugares, em Chicago, San Francisco, Los Angeles e Washington.
Postei alguns tuítes nos quais apontei que esse protesto me lembra um pouco o protesto da Praça Tahrir, no Cairo, e isso fez levantar mais do que uma sobrancelha. É verdade, não há sombra de balas, e o movimento não tem a intenção de destituir algum ditador. Mas saiu a campo o mesmo tipo de jovens humilhados e revoltados. Estamos assistindo ao mesmo uso prático do Twitter e das redes sociais para engrossar as fileiras dos participantes. Mais do que qualquer outra coisa, percebe-se uma mesma sensação de frustração geral com relação ao sistema político e econômico, que os manifestantes consideram fracassado, corrupto, irresponsável e que age impunemente, sem ter que responder pelos seus próprios atos.
Os manifestantes chamam a atenção pelo seu uso inteligente da Internet e se organizaram de uma forma impressionante. O movimento é carente nas suas próprias reivindicações: ele não tem nenhuma reivindicação concreta. Os participantes buscam causas diversas, e às vezes até quixotescas. Há, por exemplo, um manifestante que quer fazer com que o retrato de Andrew Jackson seja removido das notas de 20 dólares, porque ele foi cruel com os índios norte-americanos.
Por isso, vou tentar ser útil.
Eu não compartilho os sentimentos de hostilidade para com o mercado de muitos manifestantes. Os bancos são instituições valiosas, que, quando funcionam como devem, mobilizam os capitais fazendo-os render melhor e melhoram os estilos de vida. Na realidade, os bancos socializaram o risco e privatizaram os lucros. Converter os empréstimos em títulos negociáveis, por exemplo, enriqueceu enormemente muitos banqueiros, deixando os governos definitivamente endividados, e os cidadãos sem casa. Vimos também que os bancos geridos de modo inadequado e considerados "grandes demais para falir" podem ser perniciosos aos interesses do público em vez de se colocarem ao seu serviço, e, nos últimos anos, os bancos fizeram isso muito francamente.
É escandaloso e profundamente irritante ver os banqueiros salvos graças à ajuda dos contribuintes se lamentarem agora por causa das regulamentações que deveriam servir para esconjurar o próximo resgate ao extremo. E é importante, portanto, que os manifestantes evidenciem as crescentes desigualdades: parece ser justo que 1% dos norte-americanos mais ricos possua, em conjunto, uma rede de negócios maior do que os 90% da população restante considerada em seu conjunto?
Àqueles que têm a intenção de canalizar a sua frustração anódina em alguma demanda prática, eu daria algumas sugestões específicas. A imposição de um imposto sobre as transações financeiras. Tratar-se-ia de uma taxa de valor modesto sobre as negociações financeiras, modelada ao longo das linhas daquilo que James Tobin, o economista norte-americano que ganhou um Prêmio Nobel, sugeriu. O objetivo desse procedimento seria o de amortecer as manobras especulativas que provocam uma perigosa instabilidade.
Elimine qualquer escapatória e expediente, tipo os "incentivos reconhecidos aos gestores de um fundo, com base no desempenho geral registrado pela atividade de investimento" ou as "ações dos fundadores", que poderiam ser considerados os desagravos fiscais mais irrazoáveis e menos escrupulosos da América.
Proteja os grandes bancos de si mesmos. Isso significa dar passos à frente nas cláusulas para o capital fixadas pelo Basileia II e adotar a Volcker Rule, que limita a possibilidade para os bancos de se comprometer em investimentos arriscados e especulativos.
Outra proposta sensata, assumida pelo presidente Barack Obama e por diversos especialistas internacionais, é o imposto sobre os bancos: este poderia ser estabelecido em função das dimensões e da influência de um instituto bancário, de forma que os banqueiros possam pagar pelos seus "maus feitos", um pouco o equivalente financeiro do imposto sobre a poluição.
Boa parte dos slogans gritados pelo movimento "Occupy Wall Street" é bastante insensata, e também se poderia dizer o mesmo dos slogans moralistas de uma Wall Street que se considera superior a qualquer outro. Mas se uma multidão de algumas centenas de jovens manifestantes podem fazer com que o nosso sistema financeiro se torne mais justo e seja levado a responder pelas suas ações, que lhe seja dado um poder maior.
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Os jovens revolucionários, do Cairo a Wall Street - Instituto Humanitas Unisinos - IHU