A ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora
Marina Silva criticou ontem a concentração de poderes do senador
Luiz Henrique (PMDB-SC) na relatoria do texto do novo
Código Florestal, em tramitação no Senado.
Luiz Henrique é relator do projeto em três comissões: Constituição e Justiça, Agricultura e Ciência e Tecnologia.
A reportagem é de
Cristiane Agostine e publicada pelo jornal
Valor, 28-09-2011.
"Estão se repetindo os mesmos erros da Câmara, concentrando poderes em um único relator", disse Marina, ao participar de um debate sobre o
Código Florestal no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. A ex-senadora comparou
Luiz Henrique a
Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator do projeto na Câmara e afirmou que está sendo criada uma "situação desbalanceada" com o "peso excessivo" do senador na tramitação do texto.
Marina pediu mudanças imediatas no texto, durante a tramitação nas comissões em que Luiz Henrique é o relator. Depois de passar pelas três comissões, o texto seguirá para a Comissão de Meio Ambiente, que terá como relator o senador e aliado da ex-senadora,
Jorge Viana (AC). "Se não houver mudanças na tramitação, como é que o
Jorge Viana vai conseguir apresentar um substitutivo que tenha força para derrubar o relatório de
Luiz Henrique?", comentou, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique.
Na semana passada, o relatório de
Luiz Henrique foi aprovado na CCJ em votação simbólica, sem discutir questões sobre a constitucionalidade do texto do novo
Código Florestal. Viana disse que buscará um acordo com
Luiz Henrique para elaborar um relatório para ir ao plenário, mas
Marina vê com desconfiança essa tentativa de negociação. "Prefiro assumir uma derrota do que ter a falsa sensação de vitória", comentou.
Em seu relatório,
Luiz Henrique manteve os pontos principais do texto de
Aldo Rebelo, inclusive a autorização para que os Estados determinem níveis de preservação ao meio ambiente.
Marina defendeu pontos que não devem ser negociados no Senado, como não permitir a anistia aos
desmatadores, não permitir a diminuição da proteção em reserva legal e em área de proteção permanente e evitar se tenha uma lei "identificada apenas com o agronegócio e não com a proteção das florestas". A ex-ministra repetiu por algumas vezes que "ninguém deve querer faturar em cima da nova legislação ambiental"
A ex-senadora participou do debate ontem, de cerca de duas horas, a convite do ex-presidente tucano. Os dois trocaram e trocou diversos elogios e afagos.
Marina dividiu a mesa com
André Nassar, ligado à Unica e diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais, e com
Fernando de Castro Reinach, secretário do conselho de desenvolvimento científico e tecnológico do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Nassar, representante do agronegócio, provocou a ex-ministra do Meio Ambiente. "Sou contra a recuperação da reserva legal. É mais importante recompor o que está em pé", declarou
Nassar. "É preciso reformar o código, porque o Estado pede outras coisas do setor produtivo. É preciso fechar as lacunas que prejudicam os produtores", comentou. Em contraponto a
Nassar,
Reinach apresentou propostas para a preservação ambiental e criticou o relatório de
Aldo Rebelo. "O código atual é suficientemente ruim para ser mudado, mas o novo, proposto pelo Aldo, é tão ruim quanto o anterior", declarou, recebendo algumas palmas.
Marina disse que não queria criticar nem rotular o agronegócio, para não atrapalhar a discussão sobre o novo
Código Florestal, mas disse que era preciso que o "agronegócio com pensamento estratégico" apareça e se coloque na discussão. A ex-ministra lembrou de sua experiência no governo para mostrar como foi difícil a negociação com os grandes produtores rurais em temas que envolviam a preservação ambiental. "Negociávamos por muito tempo, mas depois os retrocessos voltavam à mesa", comentou. "Existem aqueles que querem retroceder e isso faz com que a competição seja feita pelo caminho de baixo", disse.
Fernando Henrique finalizou o encontro e disse que chamará os relatores
Luiz Henrique e
Jorge Viana para discutir mudanças no texto. "Até votarem o projeto, há tempo de mudá-lo", disse.
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Relator do Código Florestal concentra poder, diz Marina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU