23 Setembro 2011
"Eu não vim aqui para buscar determinados objetivos políticos ou econômicos, como fazem justamente outros homens de Estado, mas sim para encontrar as pessoas e falar de Deus". Essas foram as primeiras palavras pronunciadas por Bento XVI no Castelo de Bellevue, no coração de Berlim, depois da cerimônia de boas-vindas em sua honra.
A reportagem é do sítio Vatican Insider, 22-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Poucos instantes antes, o presidente alemão, Christian Wulff (católico divorciado e em segunda união), tinha dirigido ao papa uma calorosa recepção. Uma acolhida que, no entanto, não escondeu os problemas abertos na Igreja e na sociedade alemã contemporânea.
A Alemanha, lembrou Wulff com orgulho, "que há 22 anos, assistiu ao milagre de uma revolução pacífica e à restauração da unidade" da Alemanha e da Europa. Sem o seu corajoso antecessor João Paulo II, sem os operários católicos da Polônia e sem as Igrejas cristãs da RDA, que deram um teto a quem buscava liberdade, essas conquistar não teriam sido possíveis desse modo".
Mas Wulff também lembrou que a Alemanha atual é "um país em que a fé cristã não pode mais ser dada por óbvia, em que a Igreja deve se recolocar em uma sociedade pluralista", e isso, acrescentou, "também se percebe aqui em Berlim, onde teve início a sua viagem".
"Com quanta misericórdia a Igreja – se perguntou o presidente – trata as rupturas nas histórias de vida das pessoas? Como trata as fraturas na sua própria história e os erros dos seus líderes? Que lugar têm os leigos com relação aos sacerdotes, as mulheres com relação aos homens? O que a Igreja faz para preencher a lacuna em seu interior entre católicos, protestantes e ortodoxos?". "Estou feliz – acrescentou – que a Igreja Católica na Alemanha tenha iniciado em seu interior um processo de diálogo. Ao longo de muitas conversas, eu aprendi que não só os leigos estão comprometidos para alimentar fortes esperanças para esse processo. E a Igreja precisa de todos eles".
Wulff também apreciou a decisão do Papa Ratzinger de visitar Erfurt, "um lugar importante para a ação de Martinho Lutero", porque "o que separa, precisa de uma justificação, não só o que reúne".
No seu discurso, o pontífice abordou questões importantes. "Há a necessidade de uma base vinculante – disse o papa – para a nossa convivência, senão cada um vive sozinho, seguindo o seu próprio individualismo. A religião é um desses fundamentos para se conquistar uma convivência. A liberdade precisa de um vínculo original com uma instância superior. O fato de que há valores que não são absolutamente manipuláveis é a verdadeira garantia da nossa liberdade. Quem se sente obrigado à verdade e ao bem logo estará de acordo com isto: a liberdade só se desenvolve na responsabilidade diante de um bem maior. A liberdade não pode ser vivida na ausência de relações".
Ratzinger, depois, deslocou-se para o campo da solidariedade. "Na convivência humana – observou – não há liberdade sem solidariedade. O que eu estou fazendo às custas dos outros não é liberdade, mas sim ação culpada que prejudica os outros e a mim mesmo. Só posso me realizar verdadeiramente como pessoa livre usando as minhas forças pelo bem dos outros também. Isso vale não apenas para o âmbito privado, mas também para a sociedade. Segundo o princípio de subsidiariedade, a sociedade deve dar um espaço suficiente para as estruturas menores, para o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, deve ser um suporte, de modo que elas, um dia, possam se sustentar sozinhas também".
Não faltou uma referência ao passado da Alemanha: "A República Federal da Alemanha se tornou aquilo que é hoje através da força da liberdade moldada pela responsabilidade diante de Deus e de uns perante os outros. Ela precisa dessa dinâmica que envolve todos os âmbitos do humano, para poder continuar se desenvolvendo nas condições atuais. Ela precisa disso em um mundo que precisa de uma profunda renovação cultural e da redescoberta de valores fundamentais sobre os quais possa construir um futuro melhor. Espero – concluiu Bento XVI – que os encontro durante as várias etapas da minha viagem – aqui em Berlim, em Erfurt, em Eichsfeld e em Friburgo – possam dar uma pequena contribuição para isso".
Bento XVI recebeu, depois, a chanceler alemã, Angela Merkel, na sede da Conferência Episcopal Alemã, em Berlim. A conversa ocorreu em duas fases: primeiro, Merkel e o papa sozinhos, e depois também com o marido da chanceler, casada em segunda união com Joachim Sauer, professor universitário de química.
Posteriormente, a chanceler apresentou ao papa alguns colaboradores e houve uma troca de presentes. Às 16h30, irá ocorrer o esperado discurso ao Parlamento alemão.
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Papa na Alemanha: "Estou aqui para encontrar as pessoas e falar de Deus" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU