22 Setembro 2011
É a terceira vez que Joseph Ratzinger vista o seu país natal oficialmente, mas será a primeira vez que irá a Berlim, onde, nesta quinta-feira, irá pronunciar um aguardado discurso no Parlamento alemão. Bento XVI foi à Alemanha em agosto de 2005 (por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em Colônia) e em 2006 visitou a região da Baviera.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi e está publicada no sítio Vatican Insider, 20-09-2011. A tradução é do Cepat.
Esta, que será a 21ª viagem apostólica internacional de Bento XVI, terá um programa muito intenso: o Papa visitará três dioceses alemãs. Além de Berlim, irá a Erfurt e Friburgo. Também serão importantes os encontros com os representantes das Igrejas evangélica e ortodoxa do país, além do que terá com os representantes das comunidades hebraica e muçulmana. O lema escolhido para esta viagem, "Ali onde está Deus há futuro" ("Wo Gott ist, da ist Zukunft"), foi tomado da homilia pronunciada pelo Papa em Mariazell na Áustria (2007) e insiste, como explica o porta-voz papal Federico Lombardi, na primazia de Deus e sua ajuda para a humanidade na hora de enfrentar os problemas do mundo. "Creio – indica o padre Lombardi – que esta seja uma chave de leitura bastante importante para esta viagem, que é muito rica e muito intensa. É uma viagem que prevê 17, 18 discursos e, portanto, se viu bem, depois da viagem à Terra Santa, trata-se da viagem de Bento XVI com mais discursos até agora". Também são significativos os encontros do Papa para estes quatro dias de viagem, começando pelo encontro com o presidente federal Christian Wulff (na residência presidencial do Castelo de Bellevue) e o que terá com a chanceler Angela Merkel (que deverá acontecer na sede da Conferência Episcopal da Alemanha, em Berlim).
Em Erfurt (cidade na qual Martinho Lutero fez seus estudos), Bento XVI terá um encontro ecumênico por excelência no ex-convento dos agostinianos, onde se encontrará com representantes da Igreja evangélica e participará de uma celebração ecumênica com cerca de 300 pessoas, durante a qual será lido um salmo da Bíblia seguindo a tradução de Lutero. À tarde, Bento XVI irá ao Santuário mariano de Etzelsbach, lugar caracterizado particularmente pelas perseguições comunistas contra os cristãos. A última etapa da viagem será a diocese de Friburgo, zona altamente católica da Alemanha.
Ali, o Papa e o ex-chanceler alemão Helmut Kohl (um dos principais protagonistas do processo de reunificação alemã) terão uma conversa. Cheio de significado será o encontro com os membros do Comitê Central de Católicos Alemães, que representa uma longa tradição do apostolado dos leigos na Alemanha. A vigília do Papa com os jovens de diferentes dioceses alemãs será o evento que irá encerrar o ciclo dos encontros.
É sua pátria, mas também é um país difícil para o Papa. Na Alemanha, a igreja está perdendo fiéis há muitos anos.
O escândalo da pedofilia contribuiu para acelerar esta tendência, assim como provocou propostas para que se implementem reformas estruturais que dividem os bispos, sacerdotes e fiéis. E, justamente, as crianças são uma parte importante da viagem de Bento XVI, desde a escolha do lema "Ali onde está Deus há futuro". Ao contrário de numerosas viagens internacionais anteriores, o Papa teólogo não visitará nenhuma universidade nem centro para pessoas com necessidades especiais.
Na Alemanha, um terço da população é católica, outro terço protestante e o terceiro terço ateia, muçulmana ou de outra religião. Mas, muito mais que o secularismo de todo o Ocidente, a causa são os problemas que a igreja alemã atravessa. O escândalo da pedofilia, que explodiu no ano passado em numerosos países do mundo, sacudiu o catolicismo do país, a partir da iniciativa "revolucionária" do padre Klaus Mertes, reitor do colégio berlinense dos jesuítas Canisius, que convidou os ex-estudantes para que tornassem públicas suas denúncias, dando lugar a uma tendência que se propagou em todo o país e no além fronteiras.
Durante a viagem, o Papa se reunirá com um grupo de vítimas de sacerdotes pedófilos. A questão da pedofilia acelerou os tempos para que se reformem certos aspectos do mundo católico alemão. Um documento assinado inicialmente por 144 teólogos alemães (Peter Hünermann e Hans Küng, entre outros) e depois compartilhado por muitos outros acadêmicos pede que questões como a participação dos fiéis na vida eclesiástica, as uniões entre homossexuais ou os divorciados com segunda união sejam revisadas atentamente, proposta que causou muitos problemas na Alemanha e no Vaticano. Enquanto na Áustria foi tomada uma iniciativa semelhante (Pfarrer-Initiative) que põe à prova tanto a Igreja católica austríaca como o cardeal Christoph Schonborn de Viena, a Conferência Episcopal da Alemanha abriu uma espécie de mesa redonda para dialogar, em Mannheim, com os "reformistas". A cúpula do episcopado – o presidente Robert Zollitsch, o cardeal Reinhard Marx e os bispos Overbeck e Bode – informou Bento XVI sobre os temas e as conclusões dessa discussão durante um encontro em Castel Gandolfo (em 13 de agosto passado). Os bispos alemães não estão de acordo sobre estes temas. Isso foi possível constatar na entrevista à revista Die Zeit, na qual Zollitsch abriu a possibilidade de dar a comunhão aos fiéis divorciados em segunda união.
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"A pedofilia é o nosso 11 de setembro", diz jesuíta alemão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU