15 Agosto 2011
Duas semanas atrás, eu falei sobre uma conferência ecumênica no Lambeth Palace, sede da Comunhão Anglicana, sobre o destino do cristianismo na Terra Santa. Eu encerrei com uma advertência provocativa do patriarca católico Fouad Twal, de Jerusalém, de que a Terra Santa corre o risco de se tornar uma "Disneylândia espiritual", com grandes atrações históricas, mas vazia de uma presença cristã viva.
A análise é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 12-08-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Primeiro, uma correção é necessária. Eu escrevi que a parcela cristã da população do Mandato Britânico da Palestina em 1948 era de 30%, mas esse foi o resultado da minha mistura de duas estatísticas diferentes apresentadas na conferência de Londres. Um palestrante disse que a porção cristã era de 30% no final do século XIX, e outro que era de 22% em 1948. Eu confundi os dois e lamento o erro (como veremos a seguir, mesmo esses 22% são contestados).
Grande parte da reação ao artigo veio de amigos de Israel, preocupados que a crise enfrentada pelos cristãos palestinos esteja sendo exagerada, a fim de vilipendiar a política israelense. Notavelmente, o Conselho Judeu de Assuntos Públicos (JCPA, na sigla em inglês) enviou junto um esboço de um documento de base vindouro sobre a população cristã palestina.
O documento reconhece sobriamente que os cristãos palestinos enfrentam pressões reais como resultado do conflito israelense-palestino, incluindo restrições sobre vistos e viagens, reunificação familiar, falta de oportunidades econômicas e separação residencial dos locais de trabalho devido à barreira de segurança.
No entanto, o texto do JCPA faz as seguintes afirmações:
- O número real de cristãos palestinos não está atualmente em queda. Um declínio começou há várias gerações e acelerou depois de 1948, mas a população se estabilizou desde 1967.
- Os números que apoiam a impressão de um declínio dramático são muitas vezes distorcidos. Por exemplo, a parcela cristã da Palestina sob o mandato britânico, de acordo com dados das Nações Unidas citados pelo JCPA, estava mais próxima de 7,8% – e não 22% e certamente não 30%. Por isso, a queda em termos percentuais desde a criação do Estado de Israel não é tão marcante como alguns sugerem.
- O declínio na parcela cristã da população palestina se deve a três fatores: a emigração, uma baixa taxa de natalidade entre os cristãos e um crescimento dramático da população muçulmano nos arredores. Os dois últimos estão, basicamente, além do controle israelense.
- O próprio Israel tem uma população cristã em crescimento, de até 346% desde 1948 e de 114% desde 1967. Em muitos anos durante esse período, o crescimento cristão em termos percentuais ultrapassou o crescimento judeu.
Em conclusão, o documento chama a ideia de que o cristianismo palestino está à beira da extinção de "mito".
Está além da minha capacidade avaliar as diversas estimativas estatísticas da população cristã palestina ou de suas linhas de tendência. Eu posso apenas observar que as realidades, tanto históricas quanto atuais, são, em certa medida, pontos de debate.
Duas outras notas sugeridas pelo documento de fundo do JCPA.
Primeiro, o texto afirma que tanto os próprios cristãos palestinos, quanto os seus apoiadores entre as igrejas cristãs liberais do Ocidente são muitas vezes relutantes em atribuir qualquer uma das suas dificuldades ao extremismo islâmico. Quando o fazem, diz o documento, eles geralmente culpam Israel por radicalizar seus vizinhos muçulmanos.
A carta que eu mencionei acima, do Patriarca Gregorios III aos líderes ocidentais, oferece um exemplo sobre esse ponto. Nela, ele afirma que, se as autoridades ocidentais querem que os cristãos permaneçam no Oriente Médio, elas deveriam pressionar Israel a sair da Cisjordânia.
Uma percepção generalizada de que os países muçulmanos enfrentam sanções, mas nunca Israel, escreveu Gregorios, "alimenta o fundamentalismo e o extremismo e, por sua vez, repercute sobre nós, enquanto cristãos, especialmente no Iraque e no Egito".
Em segundo lugar, Israel não é o único país do Oriente Médio onde a população cristã está experimentando um crescimento.
Estatísticas fornecidas no Sínodo para o Oriente Médio de outubro passado mostram que, das 16 nações que compõem o Oriente Médio, sete viram picos em sua população cristã desde 1980: Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã, Qatar e Iêmen. Todos fazem parte da Península Arábica.
Em alguns casos, os novos cristãos dessas nações são refugiados. Isso é verdade no Kuwait, por exemplo, onde muitos cristãos caldeus fugiram da insurreição no Iraque. Mais frequentemente, o aumento da população cristã foi impulsionada por um fluxo significativo de novos migrantes da Ásia e da África (nomeadamente, Filipinas, Índia, Paquistão e Nigéria), atraídos por oportunidades de emprego no setor de serviços e na indústria petrolífera.
Em geral, esses emigrantes cristãos não são considerados cidadãos dos Estados em que se estabelecem, mas "trabalhadores convidados", e muitas vezes enfrentam restrições significativas em sua possibilidade de praticar a sua fé abertamente. No entanto, eles fazem parte da mistura de hoje no Oriente Médio.
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Migrantes provocam crescimento da população cristã no Oriente Médio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU