12 Agosto 2011
Enquanto Londres ardia, a importância do BlackBerry na organização dos atos aumentava. Jovens usaram o sistema de mensagens do BlackBerry utilizando-se do sistema de criptografia o que tornou difícil a tarefa dos serviços de inteligência em seguir as mensagens. O surgimento, entretanto, do aparecimento desse telefone inteligente como um novo ator político durante as revoltas dos jovens enfurecidos deu lugar uma série de observações sobre os motivos tecnológicos que o levaram a cumprir esse papel. Dessa vez, foi através de mensagens do BlackBerry e não do twitter, a forma encontrada para a organização dos saques, com a convocação para que as pessoas se encontrassem em determinados pontos da cidade em determinada hora do dia ou da noite.
A reportagem é de Mariano Blejman e publicado pelo Página/12, 12-08-2011. A tradução é do Cepat.
Vejamos como tudo aconteceu. O BlackBerry é a marca de um telefone celular inteligente criado por uma empresa canadense chamada RIM (Research In Motion). Desde o começo, BlackBerry apostou fortemente no setor corporativo e ofereceu dois serviços que o tornaram um diferencial no mercado: as comunicações geradas desde e a partir do BlackBerry são criptografadas, ou seja, é praticamente impossível saber do que se está conversando. O segundo aspecto, é que como se trata de uma rede montada sobre a internet, o BlackBerry pode comprimir essa informação. Esse é o motivo pelo qual na Argentina aqueles que utilizam o BlackBerry são os únicos que podem desfrutar nesse momento de uma tarifa plana: este telefone assegura que o fluxo de dados seja muito menor que o de – por exemplo – um iPhone ou um Android.
A expansão do uso de telefones inteligentes BlackBerry entre os jovens ingleses tem a ver com uma forte política de preços baixos nesse país e com a possibilidade dos que utilizam esse telefone de se comunicarem ilimitadamente entre seus amigos. Isto é basicamente o que fazem os jovens com os seus telefones: conversar, comunicar-se, saber das agendas dos outros, onde se está indo, etc. Segundo um estudo da semana passada publicada pela consultoria OfCom, enquanto o iPhone é na Inglaterra mais popular entre os que têm 25 a 34 anos, o BlackBerry é o escolhido por 37% dos jovens de 12 a 24 anos, precisamente pelo serviço de mensagens gratuito que oferece.
Ou seja, a estrutura de comunicação juvenil na Inglaterra acontece principalmente através do serviço de mensagens do BlackBerry e depois – num segundo plano – através do Twitter ou do Facebook. Mas enquanto o Twitter é aberto, sua comunicação pode ser seguida livremente e suas mensagens podem ser rastreadas com facilidade, o sistema de mensagens do BlackBerry é criptografado, foi pensado inicialmente para que o setor corporativo pudesse sentir-se seguro na hora de negociar através do seu telefone. Faz tempo, o governo dos Emirados Árabes, decidiu suspender momentaneamento o serviço BlackBerry – em um ambiente altamente corporativo – devido ao fato de que não se podiam monitorar as comunicações. O lobby internacional e a disposição da RIM em colaborar com as autoridades fez com a medida fosse suspensa.
Antes de continuar, digamos que o problema fundamental que atingiu a Inglaterra era de uma massa frenética de jovens marginais e desfavorecidos, que pouco tem a ver com telefones inteligentes. A maioria das ações foram originadas inicialmente entre grupos de conhecidos, o incentivo para o comparecimento a lugares determinados através do BlackBerry com um formato parecido a uma notícia veio depois. Algo como "parece que estão se juntando em tal lugar", informação que posteriormente chegou ao twitter e que estimulou a que outros comparecessem.
O problema fundamental encontrado pela polícia, ligado ao BlackBerry, foi que a criptografia não permitia seguir as comunicações em tempo real. Primeiro, tentaram interromper o serviço de mensagens afetando o serviço de outros milhares de usuários e, depois, declararam que iriam colobarar na identificação de todos aqueles usuários que estiveram nos lugares dos distúrbios. Os hackeres da TriCk-TeaMpOisoN não gostaram da ideia manifestando-se através de "ataque" ao blog oficial do BlackBerry: "Vocês não devem colaborar com a polícia. Se o fizerem, muita gente inocente que estava no lugar dos atos será considerado culpada. Se pensam em dar informação das conversas, nomes dos usuários ou localização do GPS, irão se arrepender: temos sua base de usuários. Nós condenamos os atos de vandalismo, mas as pessoas inocentes devem ser defendidas", declararam.
Entretanto, o principal problema de segurança do BlackBerry não está está na vocação de serviços dos seus donos (que declararam colaborar com qualquer organismo de controle do país que o necessite), mas sim no sistema em si mesmo. Segundo um especialista de segurança consultado por este jornalista, que tem como trabalho hackear sistemas informacionais, a maior falta de segurança do BlackBerry está no fato de que o sistema de criptografia é um software privado, e não se pode saber exatamente que dados esse software está armazenando.
O sítio Zdnet publicou um artigo no qual informa uma falha de segurança nos servidores do BlackBerry: eles podem ser hackeados simplesmente enviando um arquivo com formato fotográfico ou um pdf através de sua rede. Ainda que essa seja uma informação complicada para que a polícia britânica a coloque em prática, o interessante do caso BlackBerry em Londres é a reutilização cultural de um suporte distribuído e criptografado pensado inicialmente para fazer negócios. Ao final e ao cabo, também disso se tratam essas revoltas inglesas.
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A revolução BlackBerry - Instituto Humanitas Unisinos - IHU