05 Julho 2011
Fala o organizador do grande simpósio para os bispos sobre o escândalo de pedofilia: "A melhor resposta é a transparência".
A reportagem é de Alessandro Speciale, publicada no sítio Vatican Insider, 05-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Igreja Católica – especialmente naqueles países que ainda não foram tocados ou em que recém surgiu o escândalo da pedofilia – não deve esperar que seja a mídia ou as investigações que tragam à luz as dimensões do fenômeno e os casos mais clamorosos. Ela deve, ao contrário, ser "pró-ativa" e abrir espontaneamente seus arquivos a uma investigação independente.
Essa convicção é do professor Hans Zollner, jesuíta e psicoterapeuta. Enquanto vice-reitor acadêmico da Pontifícia Universidade Gregoriana, é ele o homem responsável por organizar o grande simpósio destinado aos bispos sobre a resposta global da Igreja ao escândalo dos abusos.
O objetivo do simpósio será o de mostrar aos prelados as "melhores práticas" adotadas em várias partes do mundo para responder e prevenir a crise. E a "abertura preventiva" dos arquivos é justamente uma dessas práticas – e será, portanto, proposta às dioceses de todo o mundo como modelo.
Quem está "fazendo escola", nesse sentido, é a arquidiocese alemã de Munique, que teve como arcebispo, por quatro anos, Joseph Ratzinger.
Nos últimos anos, explicou Zollner ao Vatican Insider, a diocese de Munique deu passos importantes. Uma das suas iniciativas foi a de abrir "todos os arquivos desde 1945 até hoje": um advogado pôde ver todos os documentos e preparou um relatório de 250 páginas sobre os números e a gestão dos casos do passado.
"É um fato, na minha opinião, exemplar – explica o psicoterapeuta jesuíta –, porque é pró-ativo. Esse modo de proceder poderia realmente ajudar muitas outras dioceses do mundo, sobretudo nos países e nos continentes em que ainda não se fala tanto do escândalo da pedofilia".
De fato, se os bispos fizerem espontaneamente "os seus deveres" perante os "50 ou 60 anos passados", trazendo à luz o que foi feito e o que não, se forem "transparentes e sinceros e responsáveis", essa será "a medida mais poderosa" para fazem com que os abusos não se repitam.
A arquidiocese de Munique, explica o Pe. Zollner, é uma das financiadoras do simpósio – há também "patrocinadores privados", mas que "não querem ser nomeados" – porque tem um interesse "missionário", isto é, que no resto do mundo também seja adotada a melhor resposta possível ao escândalo.
O simpósio quer ser "cientificamente atualizado" para oferecer aos representantes das Conferências Episcopais do mundo e aos Superiores Maiores das diversas ordens religiosas o estado da arte da resposta, da prevenção e do tratamento dos abusos. De fato, destaca o jesuíta, "são eles que devem colocar em prática aquilo que sabemos a partir da ciência", da "experiência dolorosa" do passado. Por outro lado, é isso que "a própria Igreja, isto é, que o papa e os dicastérios, especialmente a Congregação para a Doutrina da Fé, exigem deles".
Para o Pe. Zollner, um dos principais objetivos do encontro da Gregoriana é "dar voz às vítimas de um modo apropriado". "Nós – relata – trabalhamos com vítimas e nos damos conta de como é difícil se abrir. Por isso, pedimos que os participantes tenham sessões anteriores ao simpósio de encontros com as vítimas da sua região".
"Queremos nos assegurar", continua, que aqueles que participem tomem conhecimento verdadeiramente do "sofrimento, a dificuldade, a raiva, a decepção, a depressão a ansiedade das vítimas. Esse também é o motivo pelo qual quisemos lançar esse simpósio publicamente já agora: para que se tome nota disso e para dar tempo para esses passos preparatórios necessários".
A resposta vaticana à ideia do simpósio foi ótima, explica o vice-reitor: "Consultamos todas as grandes congregações, até porque, de algum modo, o simpósio cabe à sua responsabilidade" e, "acima de tudo, nos deram o seu apoio, e eu fico muito grato e contente por isso". "Tivemos, de todos aqueles com quem falamos – acrescenta –, uma ressonância unanimemente positiva. E isso também vale para a Secretaria de Estado".
Para o Pe. Zollner, a "sensibilidade" sobre esse tema tem crescido entre alguns de uma forma importante, "sobretudo neste último ano", também em áreas que não estiveram totalmente envolvidas no escândalo. Por quê? "A minha interpretação é que o compromisso pessoal e repetido do papa sobre a necessidade de mudar, de assumir a responsabilidade, de olhar verdadeiramente para a ferida aberta fez com que, no episcopado do mundo, crescesse muito a sensibilidade".
O psicoterapeuta jesuíta também adverte aqueles que querem "curar" os pedófilos. "Na psiquiatria, pode-se ver uma reviravolta", explica: se "até 15 anos atrás" havia "muito mais otimismo" sobre a possibilidade de curar "verdadeiramente um molestador", hoje "esse otimismo se reduziu muito, ou melhor, há psiquiatras que argumentam que alguns molestadores são incuráveis, e que o único modo para ajudar a eles e às possíveis vítimas é controlá-los".
Para isso, um bispo que reatribui as funções a um padre manchado pelo abuso porque um psiquiatra disse tê-lo "curado", talvez, 20 anos atrás, poderia ser de boa-fé, mas "agora muito menos". "Porém – conclui – isso aconteceu há alguns anos", justamente na Alemanha.
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Pedofilia: dioceses devem abrir seus arquivos voluntariamente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU