29 Junho 2011
Na semana passada, eu escrevi sobre a fermentação em torno da identidade católica nas ordens religiosas. Outra parte da vida eclesial que está experimentando tensões de identidade nestes dias são as instituições de caridade católicas, e uma nova prova disso veio em um discurso proferido na terça-feira passada pelo arcebispo de Denver, Charles Chaput, à Associação Nacional dos Trabalhadores Sociais Católicos dos EUA.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 24-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma forma tipicamente clara, Chaput ofereceu um sinal desde o início: "Se o nosso trabalho social não for profunda, confiante e explicitamente católico em sua identidade, então devemos parar de usar a palavra `católico`", disse ele. "É simples assim".
Chaput advertiu que "um novo tipo de Estados Unidos está emergindo no início do século XXI", um tipo que ele acredita que será muito menos amigável para a fé religiosa. Nesse ambiente, afirmou, "ninguém na obra social católica pode se dar ao luxo de ser indiferente acerca de sua fé".
Especificamente, Chaput insistiu no fato de que as instituições de caridade católicas "têm o dever de encarnar fielmente as crenças católicas sobre o casamento, a família, a justiça social, a sexualidade, o aborto e outras questões importantes".
Chaput admitiu que as instituições de caridade católicas não são obrigadas a fazer proselitismo, e que pode haver razões prudenciais sólidas, em dadas circunstâncias, para não se falar abertamente sobre questões de fé. Além disso, ele disse que não há nenhum método especificamente cristão para as obras de caridade, e que os ministérios católicos deveriam aprender com o melhor que as ciências sociais têm a oferecer.
Dito isto, Chaput oferecidos nove ideais para as instituições de caridade católicas:
"Todo ato da obra social da Igreja deve funcionar fielmente dentro da missão e das estruturas da diocese local, com respeito especial pelo papel do bispo."
"Todo ministério social católico (...) deve permitir a possibilidade de professar verbalmente o Evangelho, dentro do permitido pela prudência."
"Nenhum trabalhador das instituições de caridade católicas deve se engajar em proselitismo coercitivo."
"Todo ministério social católico deve insistir nas melhores habilidades profissionais e deve usar o melhor meio profissional – desde que essas habilidades e meios reflitam a verdade do ensino moral católico."
"Toda instituição de caridade e organizações católicas similares devem sempre oferecer oportunidades para a oração aos funcionários e voluntários."
"Todo ministério social católico deve testemunhar a verdade de Jesus Cristo à comunidade em geral, incluindo os direitos dos pobres, dos sem-teto, dos deficientes, dos imigrantes e do nascituro."
"Toda organização de caridade católica deve procurar aprofundar uma conscientização do ensino social católico."
"O trabalho social católico deve envolver tanto um alcance eficaz aos indivíduos que lutam com a pobreza, quanto uma crítica franca das causas estruturais da pobreza, por meio das lentes do ensino social católico."
"Os ministérios sociais católicos devem acolher as oportunidades para trabalhar com outros indivíduos, grupos e entidades sociais, mas também permanecer alertas ao risco de que essa cooperação pode facilmente transformar as organizações católicas em subcontratantes de grandes doadores – doadores com uma antropologia muito diferentes e, portanto, noções do autêntico desenvolvimento humano muito diferentes".
Resumindo o espírito do seu discurso, Chaput encerrou com uma anedota sobre a romancista católica Flannery O`Connor. Segundo Chaput, ela estava uma vez em um jantar com um colega escritor que exaltava o belo simbolismo da Eucaristia. O`Connor supostamente respondeu: "Bem, se é um símbolo, ao inferno com ele!".
Tal insistência não apologética sobre a realidade da fé é o que está no núcleo do que eu me refiro ao falar sobre o "catolicismo evangélico", uma poderosa corrente na Igreja de hoje e que tem poucos expoentes tão incansáveis quanto Chaput.
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O "catolicismo evangélico" da ação social da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU