25 Junho 2011
Segundo declarações do cardeal José da Cruz Policarpo em uma entrevista, o problema consiste principalmente em uma "forte tradição, que vem de Jesus".
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 25-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Haverá presbíteras "quando Deus quiser", mas neste momento é melhor "não levantar a questão". Mas não há "nenhum obstáculo fundamental" do "ponto de vista teológico" para as mulheres rezarem missa no altar. Trata-se, ao contrário, de "uma tradição" que remonta aos tempos de Jesus. A afirmação é do cardeal José da Cruz Policarpo, 75 anos, patriarca de Lisboa, recém-confirmado por mais dois anos à frente da diocese da capital portuguesa.
Policarpo concedeu uma longa entrevista à revista Oa, da Ordem dos Advogados de Portugal, republicada por uma agência portuguesa.
Nela, o patriarca explicou que, com relação ao sacerdócio feminino, "a posição da Igreja Católica se baseia muito no Evangelho, não na autonomia de um partido ou de um governo. Baseia-se na fidelidade ao Evangelho, à pessoa de Jesus e a uma tradição muito forte recebida dos apóstolos".
"João Paulo II – continuou Policarpo –, em um certo momento, pareceu resolver a questão". A referência é à Carta apostólica Ordinatio sacerdotalis (1994), um dos documentos mais curtos de João Paulo II, com o qual o papa, depois da decisão da Comunhão Anglicana de se abrir às presbíteras, reafirmava que a Igreja Católica jamais faria isso.
"Penso – disse o cardeal Policarpo – que a questão não pode se resolver assim. Teologicamente, não há nenhum obstáculo fundamental [para as presbíteras]. Há essa tradição, digamos assim: jamais se fez de outro modo".
Quando perguntado pelo entrevistador, curioso com relação à afirmação do purpurado sobre o fato de não haver razões teológicas contra as mulheres-padre, Policarpo respondeu: "Penso que não haja nenhum obstáculo fundamental. É uma igualdade fundamental de todos os membros da Igreja. O problema consiste em uma forte tradição, que vem de Jesus e da facilidade com a qual as Igrejas reformadas concederam o sacerdócio às mulheres".
O patriarca de Lisboa também explicou que considera a demanda das presbíteras como um "falso problema", porque as próprias meninas que lhe colocam a questão sacodem depois a cabeça quando ele rebate se elas estariam dispostas a se tornar sacerdotisas.
As afirmações do cardeal português devem provocar debate. Um ano depois daquela carta de João Paulo II, foi de fato posto uma dúvida (dubium) à Congregação para a Doutrina da Fé, então guiada pelo cardeal Joseph Ratzinger e pelo secretário Tarcisio Bertone. Perguntava-se se "a doutrina, segundo a qual a Igreja não tem a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, proposta na Carta apostólica Ordinatio sacerdotalis, de modo a ser mantida de modo definitivo, deve ser considerada como pertencente ao depósito da fé". A resposta, aprovada pelo Papa Wojtyla, foi "afirmativa".
A Congregação explicou que "essa doutrina exige um assentimento definitivo, já que, fundamentada na Palavra de Deus escrita e constantemente conservada e aplicada na Tradição da Igreja desde o início, foi proposta infalivelmente pelo magistério ordinário e universal" e, portanto, "deve ser mantida sempre, em toda a parte e por todos os fiéis, enquanto pertencente ao depósito da fé".
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"Não há razões teológicas para excluir as mulheres do sacerdócio", afirma patriarca de Lisboa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU