O Vaticano pediu, neste sábado, que as diversas dioceses da Igreja criem uma "resposta global" para enfrentar os abusos sexuais cometidos por sacerdotes contra menores, como explicou o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, durante a apresentação do Simpósio Internacional "Rumo à cura e à renovação", que irá analisar o problema dos abusos dentro da Igreja.

A reportagem é do sítio Religión Digital, 18-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O congresso se dirige a bispos das diversas dioceses do mundo e aos superiores de todas as ordens religiosas e tem como objetivo ajudar os prelados a "responder adequadamente aos possíveis casos de abusos sexuais dentro da Igreja", segundo o padre Federico Lombardi.

Nesse sentido, o porta-voz do Vaticano destacou que, por meio desse congresso, "a Igreja quer responder de forma séria e transparente" a esses casos, embora tenha reconhecido que "não é fácil" e que será um processo "longo" que a Igreja "já começou".

Além disso, o porta-voz do Vaticano destacou que a Igreja demonstra "sua transparência" com esse congresso e ressaltou que espera que o evento "ofereça um serviço a toda a sociedade", porque esses casos "não ocorrem só dentro da Igreja".

O padre Lombardi declarou que esse congresso pretende ser "uma ajuda" para as conferências episcopais e as ordens religiosas para preparar um documento, exigido pelo Vaticano, que especifique o procedimento a ser seguido pela autoridade eclesiástica nesses casos e deverá ser enviado à Congregação para a Doutrina da Fé antes do mês do maio de 2012.

Para a redação desse documento e para enfrentar os casos de abusos sexuais dentro da Igreja, o prefeito do dicastério vaticano, cardeal William Levada (foto), lembrou em uma carta circular enviada às conferências episcopais alguns princípios que deviam inspirar a atuação dos bispos, como o dever de "ouvir as vítimas" e colaborar com as autoridades civis, e até mesmo "denunciar os crimes" às autoridades competentes.

As dioceses

Por sua vez, o promotor de Justiça do dicastério vaticano, monsenhor Charles Scicluna, reconheceu que esses princípios "estabelecidos pelo Vaticano não são vinculantes para os bispos", embora tenha destacado que é uma "grande responsabilidade moral" do bispo seguir "a práxis mais adequadas para enfrentar esses casos" e "ouvir os especialistas e as vítimas".

Além disso, monsenhor Scicluna lembrou que a congregação irá "revisar" as "linhas-guia" que as conferências episcopais deverão redigir antes de maio de 2012 para comprovar "que o procedimento corresponde com os princípios estabelecidos pelo Vaticano".

No entanto, monsenhor Scicluna destacou que "agora praticamente todos os bispos conhecem as indicações do Vaticano" e lembrou que foi "essencial o exemplo do pontífice" nos últimos meses ao enfrentar "de forma séria e transparente" esses casos e iniciar "uma renovação completa da Igreja".

Além disso, o monsenhor Scicluna destacou que "a Igreja não pode dar uma resposta global e exata a todas as dioceses" com relação ao tratamento dos casos porque os bispos "também dependem das legislações civis de cada território".

Monsenhor Scicliuna recordou também o papel dos núncios apostólicos como representantes do papa em cada Estado e encorajou os fiéis a "acudi-los" para lhes apresentar "os problemas nas dioceses ou com um bispo", porque "eles são representantes do Vaticano e do papa concretamente".

"Fenômeno triste"

Além disso, monsenhor Scicluna alertou que "o triste fenômeno dos abusos sexuais dentro da Igreja" é um trauma, "particularmente para as vítimas, porque incide sobre o dom maior, que é a sua própria fé".

Por isso, monsenhor Scicluna destacou a importância de uma formação "séria e coerente" nos seminários para "prevenir esses casos" e lembrou que o congresso que será realizado em fevereiro de 2012 tentará também "informar" os bispos sobre os procedimentos a ser seguidos em outras dioceses para enfrentar esses casos.

Centro de e-learning

Assim, a Pontifícia Universidade Gregoriana, em colaboração com inúmeros dicastérios do Vaticano, irá criar em 2012 um centro de e-learning, que estará ativo por três anos e em que os bispos poderão encontrar os documentos necessários da Santa Sé sobre o assunto, assim como "inúmeros recursos que as dioceses podem incluir para enfrentar esses casos".

O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom William Levada, abrirá o congresso no dia 9 fevereiro de 2012, que contará com a participação de mais de 200 representantes das dioceses e das congregações religiosas de todo o mundo.

Além disso, muitos especialistas, incluindo psicólogos, advogados e teólogos, vão participar desse congresso para oferecer sua experiência no tratamento das vítimas.