15 Junho 2011
"Espero a dissolução da morte, mas não uma outra vida em um mundo que não há de vir": assim termina o "Creio laico" que Piergiorgio Odifreddi, matemático e ateu combativo, propõe na página 182 de Caro Papa, ti scrivo. Un matematico ateo a confronto con il papa teologo (Ed. Mondadori, 190 páginas).
A reportagem é de Luigi Accatoli, publicada no jornal Corriere della Sera, 14-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não surpreenderia muito se, um dia, Piergiorgio Odifreddi se convertesse ao cristianismo, ao qual pertencia quando jovem: raramente se havia visto um ateu declarado dedicar tanto tempo discutindo com os crentes. Depois de Il Vangelo secondo la Scienza (Einaudi, 1999) e Perché non possiamo essere cristiani (Longanesi, 2007), ele havia se empenhado em debater por um mês inteiro, fazendo a pé o Caminho de Santiago, as razões da fé e da ciência com Sergio Valzania e Franco Cardini (La via lattea, publicado pela Longanesi em 2008). Agora, aumenta as apostas e defronta-se com o Papa Ratzinger.
Bento XVI, por enquanto, não se encontrou com ele, mas não se exclui que, um dia, o encontro ocorra. A carta que ele lhe escreve toma como "referência" a obra-prima juvenil do papa teólogo, Introdução ao cristianismo (Ed. Loyola, 2005). Ratzinger, nesse trabalho, se confrontava com a ciência, e eis que Odifreddi enfrenta as opiniões afirmadas pelo teólogo e busca refutá-las como matemático. Tende, enfim, a realizar – assim se expressa a orelha da capa – uma introdução ao ateísmo semelhante à de Ratzinger ao cristianismo.
Odifreddi lamenta o fato de o papa não ter recebido, em 2008, os participantes do Festival de Matemática – como ele lhe havia pediu por carta – e lamenta que o cardeal Gianfranco Ravasi não tenha convidado a ele, Odifreddi, para as primeiras rodadas do Átrio dos Gentios. A carta ao papa parece se pôr como um apelo direto à máxima instância para ter uma interlocução.
Ora, é verdade que Odifreddi – como acusa Ravasi – olha para o cristianismo "com ironia e sarcasmo", mas também é verdade que o debate a seu modo ocorre. Esse livro confirma a atitude já conhecida com alguma correção na direção de um maior respeito, talvez por causa do interlocutor que ele escolheu, ou talvez justamente para propiciar um futuro encontro.
Várias vezes Odifreddi "toma nota" de argumentações válidas que ele encontra no volume ratzingeriano e lhe presta "a honra de armas", seja pela "coragem" de enfrentar os "enormes problemas" que a modernidade apresenta à fé cristã, seja pela "tentativa" de fazer com que o crente e o não crente se encontrem "no campo das dúvidas recíprocas". E esse campo Odifreddi aceita.
Mas o que também lhe move, nos 20 capítulos, é uma dezena de contestações radicais.
Sobre o "design inteligente" e o evolucionismo que o papa condenaria sem ter um verdadeiro "conhecimento". Assim como mostraria ter "uma imagem desinformada e inadequada de todo o empreendimento científico". Sobre a indevida confiança que Ratzinger presta a Heidegger, que o levaria a considerar que "a ciência não pensa". Sobre o "conceito de verdade e de realidade" da ciência de hoje, o papa assinalaria como enfraquecido, enquanto é "exatamente" o conceito da antiguidade.
Sobre poligamia e homossexualidade, sobre a castidade e a lei do celibato: argumentando que "contra a natureza" são as últimas e não as primeiras. Sobre a "historicidade dos Evangelhos" e sobre a possibilidade, para nós, de ter acesso ao "Jesus histórico". Sobre a "mensagem" de Jesus, que parece ser a Odifreddi "como uma estranha mistura de ingênua sabedoria, charlatanismo tolo e agressividade apaixonada". Se o papa ou Ravasi aceitarem o confronto, significa que eles são bons lutadores.
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Ciência e fé: tentativas de diálogo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU