02 Março 2011
O "Átrio dos Gentios" que irá ocorrer em Paris, nos dias 24 e 25 de março, além de representar um debate de porte mundial entre laicos e crentes, terá um hóspede de exceção: o Papa Bento XVI. O pontífice falará ao vivo de uma tela colocada em frente à igreja de Notre Dame, na conclusão dos dois intensos dias, na noite do dia 25.
A reportagem é de Armando Torno, publicada no jornal Corriere della Sera, 02-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Indubitavelmente, é um gesto cheio de significados, até porque irá se dirigir idealmente a todos aqueles que participaram dos encontros, além das suas ideias ou da fé que professam. Além disso, as manifestações de Paris representam o início de um novo projeto cultural para a Igreja. Com isso, se realiza um convite – mas também um desejo – do próprio pontífice. A Sorbonne, o Institut de France, a Unesco, a própria catedral celebrada por arte, literatura, música e alquimia se tornarão as caixas de ressonância de um debate global.
E tudo chega em um momento em que a fé precisa de milhares provas, e o espírito laico se põe novamente perguntas, enquanto os cenários internacionais continuam mudando, e o saber do homem está revolucionando meios de difusão, valores, perspectivas.
O diretor dessa nova fase é o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, que, depois do "Átrio dos Gentios" de Bolonha – um prólogo de sucesso de todo o projeto – está agora pensando em eventos nas grandes cidades do mundo. O seu nome, dentre outras coisas, é conhecido também porque, nestes dias, ele está sendo continuamente citado pela mídia pelo possível encargo de dirigir a diocese de Milão. Não é um mistério: o cardeal Dionigi Tettamanzi, até o final do ano, deveria deixar a cátedra de Ambrósio e, há alguns meses, estão em curso aquelas "nomeações" que vivem de hipóteses e de desmentidas até que se chegue à decisão do Papa Bento XVI.
Certamente, Ravasi também se manifestou em diversas ocasiões e quase traçou o perfil ideal do futuro arcebispo de Milão. Se tivéssemos que recolher os fragmentos por ele proferidos, poderíamos resumir em três momentos as suas observações. O primeiro: a diocese de Milão deveria representar a grande interlocutora do mundo laico, renovando uma tradição que se orgulha de ilustres antecessores, verificando as exigências para as incessantes mudanças que se realizaram nas últimas décadas. Os grandes problemas do nosso tempo, dos limites mudados da vida aos novos cenários econômicos, financeiros, científicos e políticos, poderiam aqui encontrar um laboratório de debate para serem depois apresentados à Igreja.
O segundo se refere ao Encontro Mundial das Famílias, que irá ocorrer em Milão em 2012. Será uma ocasião preciosa, e o evento irá fornecer também a oportunidade para melhor compreender o estado dessa realidade que, sem pretensões, continua sendo um ponto de referência prática e econômico, além de social e religioso (a Itália pôde gerir melhor a crise graças à solidariedade desenvolvida dentro dos núcleos familiares). Sem contar que a família se transformou e, até no mundo católico, é outra coisa com relação às concepções de algumas décadas atrás.
O terceiro é o apontamento de 2013 para os 1.700 anos do chamado Édito de Constantino, promulgado em Milão em 313, com o qual era concedida a liberdade de culto aos cristãos. Talvez, é melhor falar de um rescrito nascido de um acordo, sobre o qual reflexões e comunicações teriam espaço para enfrentar os problemas relativos à liberdade religiosa no mundo, sobretudo as relações entre fé e política, mas também o empenho dos próprios católicos.
E tudo isso sem esquecer que, no pano de fundo, está a Expo 2015, que poderia se transformar em uma tribuna formidável para um arcebispo que desejasse comunicar e debater. Esse perfil ideal, para evitar equívocos, foi proferido pelo cardeal Gianfranco Ravasi em diversas ocasiões, também para responder a solicitações da sociedade civil. É inegável que se percebe o estilo do homem de cultura que está trabalhando no "Átrio dos Gentios", ou seja, em um laboratório onde se pensa e se projetam cenários distantes da lógica do "particular", preocupação italiana há já cinco séculos ou quase, durante os dias de Francesco Guicciardini.
Nem deve se esquecer que a Igreja, graças também ao convite de um pontífice como o atual, está repensando o papel da cultura, e uma diocese como Milão saberia assumir uma parte de destaque. O que dizer a propósito? Podemos pegar emprestado aquilo que Dostoiévski escreveu em diversas ocasiões, sem jamais se cansar ou se arrepender: a beleza salvará o mundo. Basta mudar o nome e organizar os verbos: a cultura está se tornando indispensável para salvar o mundo.
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''Átrio dos Gentios'' para laicos e crentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU