A mobilização de milhares de policiais da tropa de choque armados com gás lacrimogêneo e escopetas aparentemente restaurou a ordem em
Zengcheng, cidade do sul da China, após tumultos violentos no fim de semana. Mas trabalhadores migrantes e um centro de estudos governamental alertam que a tensão pode explodir de novo se Pequim não resolverem os problemas dos migrantes.
A reportagem é de
Jeremy Page, publicada pelo jornal
The Wall Street Journal e reproduzida pelo jornal
Valor, 15-06-2011.
Este centro de produção de jeans na província sulista de
Cantão, que responde por cerca de um terço das exportações chinesas, é palco da mais recente onda de protestos violentos em áreas urbanas da China nas últimas semanas, que está desafiando a capacidade do Partido Comunista de controlar a sociedade sem recorrer à força.
A tropa de choque patrulhava as ruas, com barreiras em praticamente todo cruzamento da cidade no anoitecer de ontem, checando a documentação de motoristas e pedestres no bairro Xintang de
Zengcheng, cidade com quase 800 mil habitantes, dos quais cerca de metade são trabalhadores migrantes.
A exibição de força pareceu ter contido o levante, que começou em
Xintang na noite de sexta, depois que guardas de segurança empurraram para o chão uma camelô migrante e grávida da província de
Sichuan, no oeste, enquanto tentavam tirar sua barraca de alimentos da rua.
Mas o clima continuava tenso, enquanto circulavam na internet apelos para novos protestos de migrantes exigindo que o governo solte 25 pessoas presas por envolvimento na violência de domingo.
"Pode começar de novo - as pessoas ainda estão muito furiosas", disse um migrante de
Sichan com 48 anos que pediu para ser identificado apenas pelo sobrenome,
Sun. Ele trabalha numa confecção de jeans. "O governo não se importa com nossos problemas."
Ele e outros entrevistados disseram que podem ganhar muito mais aqui - onde o salário médio de um operário de confecção é de 2.000 yuans (US$ 309) por mês - que em sua terra natal de
Sichuan, onde contaram que um agricultor ganha em média menos da metade disso.
Mas muitos reclamaram das más condições de trabalho, denunciando que comem e dormem nas fábricas e geralmente trabalham pelo menos dez horas por dia, muitas vezes sete dias por semana. Alguns disseram que seu salários nem sempre são pagos no tempo certo e reclamaram que o preço da alimentação subiu muito no último ano.
Mas havia outros que atribuíram a violência recente aos migrantes frustrados por não conseguirem encontrar emprego.
Um importante centro de estudos do governo chinês, que aconselha os líderes do país, alertou num relatório ontem que os milhões de trabalhadores migrantes da China vão se tornar uma ameaça séria à estabilidade se não forem mais bem tratados nas áreas urbanas. O estudo do Centro de Pesquisa do Conselho de Desenvolvimento do Estado constatou que, embora a maioria dos trabalhadores e empresários de aldeias rurais acredite que seu futuro é nas cidades, muitas vezes eles são tratados como "oportunistas" e têm poucos direitos. "Isso pode criar uma grave ameaça desestabilizadora se não for tratado adequadamente."
As estatísticas oficiais mostram que os protestos contra o governo têm aumentado na China nos últimos cinco anos, mas a turbulência simultânea em várias cidades chinesas nas últimas três semanas é incomum, dizem analistas.
O momento em que ocorrem os protestos também preocupa o governo chinês, que está no meio de uma repressão prolongada a dissidentes, motivada pelo surgimento de apelos na internet defendendo um levante local ao estilo dos que ocorrem no Oriente Médio.
O Partido Comunista também está tentando projetar uma imagem de estabilidade antes do 90º aniversário de sua fundação, em 1º de julho, e a mudança de liderança do ano que vem, que só ocorre uma vez a cada dez anos.
Os líderes chineses vêm pedindo desde fevereiro novas abordagens para o que chamam de "gerenciamento social". Isso significa que autoridades locais estão sob pressão para achar novos modos de evitar ou conter a tensão social.
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Trabalhadores migrantes são foco de tensão social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU