"A justiça é só uma ação justa". A metáfora da flauta de Amartya Sen

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10 Junho 2011

O filósofo prêmio Nobel Amartya Sen analisa as ações positivas para combater a liberalismo global.

A análise é de Guglielmo Ragozzino, publicada no jornal Il Manifesto, 25-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia de 1999, em visita a Roma na sua veste de filósofo moral, participou de um dia de estudo do SPI, sindicato dos aposentados da Confederação Geral Italiana dos Trabalhadores - CGIL, coordenado por Mario Sai.

Depois de uma introdução da secretária-geral do SPI, Carla Cantone, o grande estudioso indiano retomou a palavra, desenvolvendo os temas da sua "ideia de justiça". Seguiram-se as réplicas e os comentários de Ricardo Terzi, também dirigente do SPI; de Fabrizio Barca, economista e bom intérprete de sem; de Guglielmo Epifani, até há pouco tempo secretário-geral da CGIL e atualmente presidente da Fundação Bruno Trentin, defensor da universalidade dos direitos; e da socióloga Chiara Saraceno, que tem o argumento vitorioso de uma justiça muito parcial que até exclui as mulheres.

O grande público, composto principalmente de sindicalistas e aposentados, se manifestou por meio das intervenções e dos relatos de experiências "de mobilização sindical e de ação local para remediar as injustiças", desenvolvidos por expoentes locais do SPI. Sem respondeu a todas as intervenções, ao final de uma densa discussão sobre a justiça que colocava em prática as formas da democracia, feita de discussão e de participação que Sen nos ensina há alguns anos.

Por um curioso paradoxo, a alguns passos do Teatro Capranica da "Jornada de Estudos", ergue-se obscura a Câmara dos Deputados, iluminada apenas pelas bandeiras do referendo [sobre a água e a energia nuclear] que estavam à sua frente. Dois outras modos de fazer democracia: pouco distante da discussão entre um grande sábio e as pessoas informadas e generosas, prontas para aprender com ele, havia a propaganda e a participação aberta em vistas ao referendo e, por fim, a democracia um pouco asfixiada da maioria e dos decretos com confiança em anexo.

As três formas diferentes de democracia que se encontravam, tocando-se, no centro de Roma, eram um ponto de partida para entrar no espírito do discurso sobre a justiça de Sen. No centro da sua intervenção, a conhecida metáfora da flauta que Sen repetiu, se desculpando por não ter inventado uma nova.

Há três crianças que competem por uma única flauta. Uma diz: "A flauta é minha, porque só eu sei tocar". A outra objeta que a flauta é dela, porque ela é a mais pobre e não tem brinquedos. A terceira tem um argumento que parece muito forte: "É minha. Fui eu que construí".

Sen se serve da flauta e das posições A-B-C para nos fazer pensar. Ele combate – gentilmente –, como é o seu método, toda filosofia da justiça absoluta e perfeita que atribui a um modelo, ocidental mas não só, que se move de Hobbes para chegar a Rawls. As três posições têm uma forma de justiça a seu lado. É preciso escolher a menos injusta, a menos ofensiva, ou desenvolver mais um processo de aprendizado e de discussão.

E há no seu raciocínio um reenvio contínuo da elevada teoria ao mundo real da sociedade como ela é. A posição A – nobre – é a dos "utilitaristas" de todas as épocas e territórios. As outras duas, a B dos igualitários e a C dos "libertários", competem pelas escolhas socialistas. E Marx, de acordo com Sen, tendia pela posição B.

Mas Sen não se contenta. Sugere um método, uma técnica comparativa. Comparando as três soluções práticas de um problema de justiça, é possível encontrar uma posição ideal, descartar uma posição apressada e mais injusta. A justiça, se diria, também é parcialidade, confronto; não verdade inata e transcendente.

A justiça absoluta e transcendente tem, ainda, o defeito de ser nacionalista. É, de fato, muito difícil aplicá-la aos cidadãos dos outros mundos, como se fosse decisivo o fato de não ter estreitado aquele pacto primordial com o soberano do qual depende todo o curso seguinte da justiça e das liberdades individuais.

Sen tem palavras verdadeiramente especiais para descrever essa forma de justiça e de democracia do privilégio. De repente, as convicções internacionalistas de muitos de nós, de muitos do SPI e da CGIL, adquirirem uma força maior. É a força insuperável da sabedoria, da justiça benévola.

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