08 Junho 2011
Um governo mais feminino, técnico, menos sujeito às turbulências políticas e, principalmente, com a “cara” de Dilma Rousseff. Assim é o cenário desejado pela presidente com a nomeação da senadora Gleisi Hoffmann para substituir Antonio Palocci na Casa Civil. A opinião é do jornalista André Gonçalves em artigo no jornal Gazeta do Povo, 09-06-2011.
Eis o artigo.
Palocci, um negociador político, é tido como o “idealizador” do governo do ex-presidente Lula. Foi quem delineou a política macroeconômica adotada nos oito anos de Lula. Por isso mesmo era visto como muito ligado ao ex-presidente e à antiga gestão.
Já Gleisi, uma técnica, assim como Dilma, foi escolha pessoal da atual presidente. Curio-samente, no discurso em que empossou a paranaense, a presidente não citou Lula – algo que havia feito na maioria deseus pronunciamentos oficiais até então. O mundo político interpretou a posse de ontem como o verdadeiro nascimento da “era Dilma”.
Ao tomar posse ontem como ministra, a paranaense fez questão de citar que se inspira na chefe – assim como Dilma não escondeu o apreço por características semelhantes às suas que enxerga na subordinada. “A senadora Gleisi tem sólida formação técnica e é uma grande gestora pública. Provou isso em todas as funções que exerceu. A agora ministra-chefe da Casa Civil se notabilizou pela competência como administradora”, afirmou a presidente, em discurso no Palácio do Planalto. Cinco minutos antes, a paranaense falou que pretende agir como Dilma, “porque ela age da maneira certa, com clareza, razão e sentido público”.
Dia intenso
Gleisi dividiu o dia entre a despedida do Senado e a chegada ao ministério. No Congresso, fez um discurso enxuto, de seis minutos, no qual selou uma espécie de armistício com a oposição. Na sequência, escutou uma hora e 20 minutos de apartes e elogios dos colegas senadores, o que atrasou a cerimônia de posse no Planalto.
“Quero aqui manifestar minha deferência aos integrantes da oposição. Todos foram adversários duros no debate, mas prevaleceu sempre a convivência democrática”, declarou a paranaense, acenando para o diálogo com a oposição e com a base. Também negou o rótulo de ser um “trator” governista. “Não considero essa a melhor metáfora para quem exerce a política e sempre se dispôs a debater, ouvir e construir consensos.”
Apesar de a paranaense ter sido escolhida para fazer o trabalho de coordenação, gestão e controle dos programas de governo entre os diversos ministérios, os comentários é de que Gleisi também terá relevância no trabalho de articulação política com o Congresso.
Já no Planalto, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, fez questão de esclarecer aos repórteres que uma das principais características da nova ministra: “Ela tem traquejo político, mas também é disciplinada”. A disciplina deve ser mesmo a principal exigência de Dilma. O temor da presidente durante a crise que derrubou Palocci era de que os problemas paralisassem o funcionamento do governo.
DNA de marqueteiro
Nos discursos de Gleisi e Dilma também ficou clara a intenção de valorizar ainda mais a participação feminina no primeiro escalão. A paranaense passaria a imagem de que as mães também podem ser bem-sucedidas na política. “Está na cara que essa estratégia tem o DNA do João Santana”, afirmou um senador da oposição, referindo-se ao marqueteiro da presidente na campanha presidencial.
Estratégia ou não, os comentários sobre o estilo Gleisi acabaram amenizando a perseguição ao ex-ministro Antonio Palocci. O senador Roberto Requião (PMDB), um dos 20 que assinaram o requerimento de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o crescimento patrimonial do ex-ministro, puxou o coro dos que consideram o caso encerrado.
Causa paranaense
Tanto no Senado quanto no Planalto, Gleisi foi prestigiada por dezenas de lideranças do estado e enfatizou que não deixará de atender demandas do Paraná. “Meu afastamento do Senado não me afasta dos compromissos que assumi. Estou mudando de instância, mas não de caminho”, declarou aos senadores. Para encerrar, citou um poema da conterrânea Helena Kolody: “Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem da estrela um sol. Outros nem conseguem vê-la.” A nova ministra disse que se esforça para estar no primeiro grupo.
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Um governo mais feminino e técnico? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU