O bacteriologista alemão
Holger Rohde lidera o esforço científico para desvendar o que é, como funciona e como tratar o surto da bactéria
Escherichia coli (E.coli).
Seu laboratório no
Hospital Universitário de Hamburgo-Eppendorf (UKE), ao lado do laboratório de biotecnologia chinês
BGI, foi responsável por identificar que o surto é provocado por uma variante híbrida e supertóxica da
E.coli. O hospital centraliza o atendimento aos doentes.
Por isso, surpreende a sua sinceridade: "Meus amigos me perguntam o que fazer, e eu respondo: não sei".
A entrevista é de
Carolina Vila-Nova e publicada pelo jornal
Folha de S. Paulo, 05-06-2011.
Eis a entrevista.
SITUAÇÃO ESPECIAL
Essa não é uma situação clínica normal, mas algo especial. Estamos combinando os dados clínicos com os moleculares para tentar em parte explicar por que as pessoas ficam tão doentes.
Uma bactéria tem de aderir a uma superfície para formar colônias. Normalmente, as bactérias que provocam diarreia acabam sendo "lavadas" do intestino.
Mas esta tem uma capacidade de aderência maior e, como possui vários genes de toxinas, as produz numa quantidade excepcional.
MEDICAÇÃO
Já vimos que os antibióticos não funcionam. Ao contrário, induzem as bactérias a produzir mais toxinas, piorando o quadro do paciente. No momento não temos um tratamento antibacteriano específico, apenas um tratamento sintomático e das complicações subsequentes.
A FONTE
Essa é a pergunta de US$ 1 milhão. Como não há tratamento específico, nossa melhor chance é isolar a fonte da bactéria. Mas não temos a menor ideia. Há evidências epidemiológicas, vindas dos questionários dos pacientes, que apontam para a ingestão de alimentos crus. É apenas uma hipótese epidemiológica. E é isso que está deixando as pessoas tão ansiosas: é muito difuso, e a bactéria pode estar em qualquer lugar.
ALIMENTOS CRUS
No começo, todo mundo estava dizendo, ok, é só uma diarreia. Mas agora temos a noção do perigo. Meus amigos me perguntam o que fazer e eu respondo: não sei. Não sei nem o que eu devo fazer. Agora parei de comer todos os tipo de vegetais crus, só como os cozidos.
DANOS IRREVERSÍVEIS
Sabemos que essas toxinas produzidas no intestino provocam disfunções renais severas [ligadas à síndrome hemolítico-urêmica, ou HUS, em inglês] e que não melhoram ao longo do tratamento.
Essas pessoas terão de fazer diálise para o resto da vida. Um alto percentual de doentes também mostra danos neurológicos, com quadros parecidos com derrame.
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"Não sei o que fazer", admite pesquisador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU