02 Junho 2011
"Afirmar a ausência do Estado, é uma vísão minimalista, pelo fato de que o projeto de expansão agrícola da Amazônia, foi muito bem `planejado`", escreve Afonso Chagas, mestrando do PPG em Direito da Unisinos, em comentário que nos foi enviado e que publicamos a seguir.
Eis o comentário.
Em pelo menos três das reportagens ou do título dado a elas (Mortes têm origem na ausência do Estado durante a expansão da Amazônia; Assassinato expõem corrida pela Amazônia e Temos de repensar a estratégia de avançar sobre a Amazônia), duas delas ligadas à Imprensa paulista, demonstra ainda, por parte de jornalistas e editores, uma visão parcial e descontinuada sobre a Amazônia.
Afirmar a ausência do Estado, é uma vísão minimalista, pelo fato de que o projeto de expansão agrícola da Amazônia, foi muito bem "planejado", tanto é que hoje, se tomarmos os estados da Amazônia legal, nunca o agronegócio encontrou tanto trânsito livre, principalmente o governamental, para se instituir e agir, não só em relação à "impunidade consentida", mas sobretudo em polposos financiamentos governamentais. A presença de "enclaves" internacionais (Cargill, Monsanto, Bunge, Tractbel) e outros, não ocorreu sem um maciço implemento estatal, via BNDES.
Segundo, a dita "corrida pela Amazônia", se efetivou e efetiva ainda hoje sobre outros moldes (os grandes projetos do PAC, sobre infra-estrutura) configuram que esta "corrida" não existe mais, ela já se concretizou em "chegada".
O que se disputa na Amazônia não é mais estratégia de consolidação, mas modelo de inserção à economia de mercado (estrangeiros, inclusive chineses, já há um bom tempo estão alojados na Amazônia), logo, não há ausência, mas favorecimento de governo em todas as suas instituições.
E terceiro, a hipocrisia de um governo (executivo) de fazer algo "simbólico" mediante o clamor midiático e social por vias transversais. Estes assassinatos do mês de maio, é a última reedição de uma obra antiga na Amazônia.
A Amazônia em todos os seus Estados, tem os mesmos aparelhos estatais de qualquer outro Estado da federação, legislativo, policial, judiciário e em todos, perpassa ainda esta perspectiva patrimonialista, patriarcal e podemos dizer "sulista" de encarar a terra, a natureza, os povos da terra e os movimentos sociais que ainda resistem.
Qualquer "força-tarefa" ou esforço de rever estratégia de colonização ou "corrida para a Amazônia" deve, a meu ver, ser precedido deste contexto, visão e talvez "mea-culpa".
Sojicultoures, grandes pecuaristas e mandantes de muitas mortes, se criaram à partir desta região e visão "centro-sulista" da Amazônia.
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Visão parcial sobre a Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU