31 Mai 2011
Rezemos pelo rebanho de Toowoomba e pelo seu antigo pastor Bill Morris. Rezemos pelos porteiros no Vaticano e pelo nosso máximo pastor terreno Papa Bento XVI. Rezemos para que a porta seja mantida aberta e para que se evitem mais males ao rebanho.
A opinião é de Frank Brennan, SJ, professor de direito da Instituto de Políticas Públicas da Australian Catholic University e professor adjunto da Faculdade de Direito e do Centro Nacional de Estudos Indígenas da Australian National University. O artigo é um trecho de sua homilia proferida no quarto domingo de Páscoa, em uma igreja australiana. O texto foi publicado no sítio Eureka Street, revista eletrônica dos jesuítas da Austrália, 16-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
No evangelho de João, capítulo 10 versículos 1-10 , Jesus diz a nós, que somos as ovelhas amadas e protegidas do seu rebanho, que há uma porta, um porteiro e um pastor – e que eles estão todos lá para a nossa proteção. Precisamos suspeitar daqueles que entram em nossas vidas de outras formas que não através do porta. Aqueles que pulam as cercas podem estar vindo para nos fazer mal ou para nos desviar do rebanho e do único pastor verdadeiro.
Como membros da Igreja, somos abençoados com porteiros que nos guardam dos falsos pastores. Nós, cristãos, somos abençoados por sermos liderados e guiados por Jesus, o verdadeiro pastor, que também se descreve como a porta – a porta através da qual passamos para o nosso caminho rumo à vida com o Pai. Ele é o caminho para a verdade, a liberdade, o amor e a vida.
Como católicos, somos abençoados por fazermos parte do rebanho que tem pessoas especialmente comissionadas para atuar como porteiros e pastores em seus papéis de papa, bispo e padre. Mas nenhum deles é substituto para Jesus – a porta, o porteiro e o pastor.
Nós, católicos australianos, acabamos de passar por algumas semanas muito difíceis, enquanto os nossos bispos refletiam sobre a remoção forçada de um deles, Bill Morris, bispo de Toowoomba. Devido à falta de transparência nos processos romanos, não sabemos a verdade completa sobre a sua remoção do seu ofício. Provavelmente nunca saberemos. Eu conheci Bill como padre e bispo durante 30 anos. Ele é um bom homem – não um brilhante acadêmico, mas sim o homem pastoral mais pé-no-chão que se possa conhecer.
Limites da Igreja
Sua saída forçada de Toowoomba estava prevista há alguns anos. Na quinta-feira, nossos bispos nos disseram: "A decisão foi tomada ao final de um complexo processo que começou há 13 anos e que terminou em um impasse".
Vocês poderiam pensar que alguém na Igreja poderia ter feito alguma coisa para resolver o impasse naquele momento. Todas as instituições sociais são, naturalmente, falíveis. Assim também é a Igreja Católica. A nossa Igreja não é uma democracia e não pretende ser. Também não é igualitária. É muito hierárquica. E, geralmente, lava a sua roupa suja atrás de portas fechadas.
A Igreja é composta por muitos membros oriundos de países como o nosso, onde há leis e processos que asseguram a transparência e a justiça natural. Se alguém está para ser removido, ele espera obter um julgamento justo. Se uma queixa contra um cidadão deve ser confirmada por alguém com autoridade, o cidadão tem o direito de conhecer o processo contra eles e tem o direito de ser ouvido. Essas expectativas nem sempre se traduzem rapidamente em uma instituição antiga como a Igreja Católica.
Morris foi um bispo popular, mas, no entanto, incomodou uma minoria de paroquianos e um punhado de padres, alguns dos quais enviavam queixas periódicas a Roma. O bispo norte-americano Charles Chaput visitou a diocese e submeteu um relatório às autoridades do Vaticano que, então, alegaram que os 18 anos de liderança pastoral de Morris foram falhos e defeituosos.
Essa pode ter sido a avaliação de Chaput. Mas nós simplesmente não sabemos. Também não sabemos com que base ou a partir de que evidência a avaliação foi feita. Morris nunca viu o relatório. Morris afirma com justiça que lhe foi negada a justiça natural.
Depois da visita de Chaput, todos os padres da diocese, com exceção de três, escreveram a Roma em apoio à liderança pastoral de Morris. Assim também fizeram todos os líderes pastorais e todos os membros do Conselho Pastoral Diocesano. Morris soube que não poderia ver o relatório e que ele poderia se encontrar com o Papa Bento apenas se ele primeiro submetesse a sua renúncia. Isso certamente colocou Bento XVI, assim como Morris, em uma posição hostil.
Falta de vocações
Supervisionando uma diocese rural de Queensland, que se estende a partir da Grande Divisão até a fronteira do norte, Morris sabia que precisava tomar providências para o dia em que não houvesse padres suficientes para celebrar a missa.
Ele escreveu para a diocese em 2006 indicando que diversas respostas "têm sido discutidas em internacional, nacional e localmente", incluindo a ordenação de mulheres e o reconhecimento das ordens de outras Igrejas. Ele convidou à discussão, permanecendo "comprometido à promoção ativa das vocações ao atual sacerdócio celibatário masculino e aberto a convidar padres do exterior".
Quando questionado pela mídia, ele disse que "iria ordenar mulheres solteiras ou casadas e homens casados se a política da Igreja mudasse". Então, ele foi removido, não por ordenar uma mulher ou um homem casado – mas por ter convidado para uma conversa sobre isso!
No dia da sua remoção, seus consultores, os sacerdotes mais antigos da diocese, disseram: "Em nossa opinião, Dom Morris não foi tratado com justiça ou com respeito. Consideramos sua remoção profundamente desanimadora. Esse julgamento sobre sua liderança pastoral está em forte contraste com a nossa viva experiência do seu ministério".
Essa é uma tragédia para todos que estão comprometidos com a Igreja, exceto para aqueles que como o rapaz que escreveu no meu Facebook: "Ele [Morris] era um cowboy, não um pastor". É esse tipo de sujeito que provavelmente começou as queixas a Roma, a portas fechadas. Precisamos de mais pastores na luz e de menos cowboys no escuro. Morris foi um bom pastor mesmo para aqueles que agiam como cowboys.
Os bispos nos disseram que "as qualidades humanas de Dom Morris nunca estiveram em questão, nem há qualquer dúvida do contribuição que fez à vida da Igreja em Toowoomba e além". Eles disseram: "A decisão do Papa não foi uma negação dos dons pessoais e pastorais que Dom Morris trouxe para o ministério episcopal. Ao contrário, julgou-se que houve problemas de doutrina e de disciplina, e lamentamos que estes não puderam ser resolvidos".
Eles pretendem levantar questionamentos junto às autoridades romanas quando fizerem suas visitas "ad limina" ao Vaticano em outubro deste ano. Depois de 13 anos, a maioria dos nossos bispos ainda estão no escuro sobre detalhes importantes do tratamento dado pelo Vaticano a Dom Morris.
A Executiva dos Religiosos Católicos da Austrália participou do recente encontro dos bispos australianos. Eles fizeram as seguintes perguntas para ajudar os bispos em suas investigações em curso em Roma durante a sua próxima visita "ad limina". Eles questionaram:
Tendo ouvido seus membros que trabalham na diocese de Toowoomba, eles disseram: "Grande parte da diocese viu Dom Morris como alguém excepcional no encorajamento dos leigos a assumir uma liderança apropriada na Igreja local e como alguém vigoroso na promoção da oração e do diálogo ecumênico. Ele foi incansável em impulsionar a nossa Igreja e a nossa sociedade para a difícil e sensível área dos padrões profissionais no ministério".
"Em um tempo em que muitas pessoas boas do nosso país estão se sentindo desvinculadas da Igreja, temos, por isso, a necessidade de Bispos que sejam, em primeiro lugar, Pastores que apreciem o cuidado do Bom Pastor pelo seu povo".
Rezemos pelo rebanho de Toowoomba e pelo seu antigo pastor Bill Morris. Rezemos pelos porteiros no Vaticano e pelo nosso máximo pastor terreno Papa Bento XVI. Rezemos para que a porta seja mantida aberta e para que os cowboys possam ser interceptados antes que façam mais males ao rebanho.
Rezemos por nós mesmos, para que possamos manter a esperança de que a nossa Igreja é o lugar privilegiado onde podemos esperar encontrar a porta, o porteiro e o pastor trabalhando juntos, em verdade, por nossa liberdade, amor e vida ao máximo.
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A falta de justiça para o pastor de Toowoomba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU