12 Mai 2011
O papa pode demitir William Morris, mas não pode parar os católicos que querem debater a ordenação sacerdotal de mulheres e de homens casados
A análise é de Hugh O`Shaughnessy, publicada no sítio do jornal The Guardian, 10-05-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A decisão do Papa Bento XVI, neste mês, de demitir William "Bill" Martin Morris, bispo da diocese australiana de Toowoomba, de cerca de 190 milhas quadradas no interior de Brisbane, foi uma decisão muito, muito triste. Morris foi acusado pedir um debate aberto sobre a ordenação de mulheres e a extensão do clero casado a toda a Igreja. Em sua carta pastoral do Advento de 2006, ele havia pedido esses debates e acrescentou que deveria haver uma discussão semelhante para que os católicos aceitem as ordens anglicana, luterana e da Igreja Unida, um grupo de congregacionalistas, presbiterianos e metodistas australianos.
É um segredo aberto que há um crescendo de debate sobre essas questões no mundo católico. Os precedentes para essa ação são bem conhecidos. Há milhares de padres casados nos ritos do catolicismo oriental, todos vivendo – sem dúvida felizes – com suas esposas, em completa harmonia com Roma. Esse foi o caso por talvez dois milênios. E, no que se refere ao clero feminino, a consagração de várias mulheres às ordens sagradas durante a ditadura stalinista, sob a qual a Tchecoslováquia viveu depois da Segunda Guerra Mundial, embora nunca oficialmente divulgada, também nunca foi declarada inválida pelo Vaticano. E, deixando os tchecoslovacos de lado por um momento, Maria Madalena não foi uma espécie de heroína nos primeiros dias da Igreja?
Não obstante, o arcebispo Charles Chaput, de Denver, foi enviado por Roma para investigar. Finalmente, Morris, 67 anos, foi demitido sem ver o relatório secreto de Chaput, tendo sido rejeitado o seu recurso para poder renunciar aos 70 anos. Nem sequer lhe foi permitido ver o inquérito sobre o abuso de algumas crianças em uma das escolas de sua diocese.
Com imensa dignidade, Morris se manteve firme em meio à ira escandalizada dos católicos da Austrália e além. Ele diz : "Eu nunca vi o relatório, e, sem o devido processo, tem sido impossível resolver essas questões, negando-me a justiça natural sem qualquer possibilidade de defesa apropriada e de advocacia em meu nome. O Papa Bento XVI confirmou isso para mim dizendo: `O Direito Canônico não prevê a possibilidade de um processo por parte dos bispos, aos quais o sucessor de Pedro nomeia e pode remover do ofício". Morris, obviamente, afirma que os bispos são as últimas pessoas na Igreja para receber a justiça. "Eu realmente acho que a Igreja vai melhor quando é mais transparente", diz ele, calmamente.
Escrito no Eureka Street, uma publicação online dos jesuítas australianos, Andrew Hamilton comentou :
"Segundo a teologia católica recebida, o papa é diretamente responsável apenas perante Deus quando ele age para fortalecer a fé e a ordem da Igreja universal. Mas isso é perfeitamente compatível com um processo dentro do qual a sua decisão final é tomada somente depois de uma revisão dos relatórios e das recomendações feitos por seus funcionários. A pessoa cujo futuro depende da decisão deveria ter o direito de ver o relatório e as provas em que ele se baseia e de argumentar sobre o seu caso".
E acrescenta:
"Deveríamos pensar nos outros bispos australianos. A resignação forçada de Dom Morris pode apenas aprofundar a percepção pública de que eles são gerentes de filiais de uma grande corporação internacional. Se eles se desentenderam e disserem algo crítico sobre o que aconteceu em Toowoomba, eles serão acusados de encorajar e exacerbar a divisão. Se eles não disserem nada, serão vistos abandonando um dos seus sem timidez nem complacência... Não é fácil ser bispo".
Felizmente, Morris não está sozinho. E a questão também não está fechada. Markus Buechel, bispo da diocese suíça de St. Gallen, disse que há uma pressão enorme sobre os bispos para discutir a ordenação de mulheres. "Já não podemos fugir disso", disse ele.
Isso, sim, é uma boa notícia.
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Bispo australiano removido não está sozinho no debate sobre a ordenação de mulheres - Instituto Humanitas Unisinos - IHU