Quatro décadas de luta pró-natureza na Agapan

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24 Abril 2011

O currículo é impressionante. Se a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) não existisse, os rios gaúchos seriam mais poluídos. O Estado teria menos pássaros e mamíferos selvagens. As cicatrizes das pedreiras se espalhariam impunes pelos morros. Mas a Agapan surgiu e continua aí, quatro décadas após ser fundada pelo mais notório ambientalista gaúcho, José Lutzenberger.

A reportagem é de Humberto Trezzi e publicada pelo jornal Zero Hora, 25-04-2011.

Foi em 27 de abril de 1971 que o já famoso bioquímico e outros defensores da natureza, como o veterano Augusto Carneiro (hoje com 88 anos e ainda militando na agremiação), fundaram aquela que se tornou uma das primeiras entidades ambientais do Brasil. Mais antiga, inclusive, que o mundialmente conhecido Greenpeace.

– A gente era visto como um bando de cabeludos com propostas exóticas. Porto Alegre não tinha flores na primavera, porque as pessoas podavam árvores direto, sem cuidado. Hoje somos, provavelmente, a capital mais arborizada do país – descreve o biólogo Francisco Milanez, que ingressou com 13 anos na Agapan, e nela permanece, aos 54 anos.

O atual presidente da entidade, o advogado Eduardo Finardi, resume para os mais jovens, de forma didática, como era o Rio Grande (e, por extensão, o Brasil), nos tempos pré-ambientalismo:

– Não existia legislação anti-agrotóxicos. Colocava-se nas lavouras veneno com capacidade deformante. Desmatava-se até a beira dos rios, fazendo com que, a cada chuva, milhões de toneladas de solo fértil escorressem para a água. Hoje tudo mudou, não só por causa da Agapan, mas muito em função dela.

Fiscalização e atos contra desmatamento nos anos 70

Nos anos 70 e 80, muitos simpatizantes da Agapan se deslocavam pelo Estado no Trovão Azul, o ônibus da faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fiscalizavam reservas ambientais, promoviam atos contra o desmatamento. Um deles, Carlos Alberto Dayrell, ficou famoso por subir numa árvore na Avenida João Pessoa, conseguindo impedir que ela fosse derrubada, em 1975. Outra causa vencida por Milanez, Finardi e outros militantes foi a implantação do Parque Estadual de Itapuã, no limite de Viamão com Porto Alegre.

Atuação diminui a partir dos anos 90

A partir do auge, quando ocorreu a conferência mundial de ambientalistas Rio-92, as lutas pró-natureza se tornaram mais macro – e, talvez, mais distantes das questões diárias, refletem ambientalistas consultados por ZH. As bandeiras passaram a ser grandes causas, como a luta anti-nuclear ou questões tão abrangentes que tornam o foco um pouco difuso, como as mudanças climáticas.

A partir do auge, quando ocorreu a conferência mundial de ambientalistas Rio-92, as lutas pró-natureza se tornaram mais macro – e, talvez, mais distantes das questões diárias, refletem ambientalistas consultados por ZH. As bandeiras passaram a ser grandes causas, como a luta anti-nuclear ou questões tão abrangentes que tornam o foco um pouco difuso, como as mudanças climáticas.

O quadro de afiliados da Agapan continua, como naquela época, com 1,8 mil sócios, mas poucos contribuem em dia. A mobilização mais intensa da entidade, hoje, é contra o novo projeto de Código Florestal. Os principais alvos são os limites para plantio nas margens dos rios e a possível anistia a quem desmatou até 2008, prevista no projeto.

Outra causa é a explosão imobiliária na orla do Guaíba. Mesmo que tenha sido permitida a construção de prédios comerciais nas proximidades do Estaleiro Só, os ambientalistas consideram uma vitória ter conseguido impedir edifícios residenciais nas proximidades da água. O Plano-Diretor, aliás, é front permanente da entidade.