Insatisfação pode provocar nova greve em Suape

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

03 Abril 2011

As reclamações vão da falta de chuveiro e vestiário a desvio de função. De perseguição religiosa a salário menor que o prometido. Os conflitos nas obras da Refinaria Abreu e Lima e da Petroquímica Suape - ambas da Petrobrás e incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - no complexo industrial portuário de Suape, na região metropolitana do Recife, começaram a vir à tona em janeiro.

Desde então, foram 34 dias de greve, um alojamento da Odebrecht incendiado e um trabalhador ferido, Tiago Ramos de Souza. Atingido por um tiro no rosto, ele passa bem.

A reportagem é de Angela Lacerda e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 03-04-2011.

As insatisfações persistem. Os trabalhadores querem abono dos 13 dias parados na última greve e se preparam para novo embate no dissídio coletivo da categoria, dia 1.º de agosto. Uma das metas será a unificação de salários e benefícios das construtoras no País. "As empresas são as mesmas, mas o trabalhador do Nordeste e do Norte recebe menos que o do Sul e Sudeste", destaca o integrante da comissão de negociação dos trabalhadores, José Adalberto Silva.

A última paralisação, encerrada na quarta-feira, uniu os 34 mil empregados da refinaria e da petroquímica em torno das reivindicações de 100% sobre as horas extras do sábado e vale-alimentação de R$ 160. A greve foi considerada ilegal pelo Tribunal Regional do Trabalho da 6.ª Região, que concedeu as reivindicações econômicas. A proposta das empresas era 80% e R$ 130.

Os dois lados entrarão com recursos, provavelmente na próxima semana. Os trabalhadores não aceitam compensar os dias de greve e a classe patronal não aceita a decisão sobre horas extras e vale-alimentação.

Encarregado de obras de alvenaria do consórcio Conest (Odebrecht e OAS) - responsável pela construção das unidades de hidrotratamento e de destilação atmosférica da refinaria, com 4.822 empregados -, José Adalberto Silva atribui à falta de infraestrutura a principal causa dos problemas.

"Eles botaram a carroça na frente dos bois quando iniciaram uma megaobra como a refinaria sem a devida infraestrutura", afirma ele, que não exime a Petrobrás de responsabilidade. "A Petrobrás contratou empresas e consórcios para construir a refinaria e a petroquímica, mas, se acompanhasse o processo, não teria chegado a esse ponto."

A Petrobrás não se pronuncia sobre prejuízos causados pelas paralisações nem sobre possíveis impactos nos custos das obras. O consórcio Conest ainda avalia os impactos e a Odebrecht Engenharia Industrial - responsável pela construção das unidades de PTA, PET e POY que constituem a Petroquímica Suape - antecipa que deverá haver alterações nos custos e prazos das obras da petroquímica, embora ainda não tenha concluído o levantamento do prejuízo.

Reclamações

Cícero diz que trabalha como carpinteiro, mas recebe como ajudante. Júnior Pedro reforça: "Minha função é de ajudante, mas na prática trabalho como profissional". Josinaldo, marteleteiro, acredita que o Conest está descontando os dias parados porque recebeu só R$ 8,00 na última quinzena.

Evandro Santos, 27 anos, veio do Maranhão e reclama: "Sou armador, estava desempregado e vim em outubro com a promessa de fazer muita hora extra. Em vez de hora extra, estou tendo desconto sem saber do quê".

"Os banheiros são químicos, não tem vestiário, trabalho o dia todo e volto para casa, à noite, sujo e suado", diz José Amaro, carpinteiro. "Sou evangélico e me sinto discriminado", diz Cristiano, que trabalha na área do almoxarifado e afirma não poder fazer suas orações.