03 Abril 2011
Ele diz que o seu partido já havia avisado que a central de Fukushima era perigosa. Ryoichi Hattori, de 61 anos, é um dos deputados do Partido Social-Democrata do Parlamento do Japão e percorreu as zonas afetadas uma semana depois do terremoto e do tsunami do dia 11 de março.
A reportagem é do jornal El País, 03-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Como está a situação depois do terremoto e do tsunami em plena crise nuclear?
É uma grande catástrofe. O mais urgente é limpar os restos do tsunami, que as crianças voltem ao colégio e que se resolva o problema da moradia dos desalojados. As prefeituras de Miyagi e Iwate são muito montanhosas e muitos lugares continuam inundados. Nosso partido vinha advertindo sobre o perigo das usinas nucleares, porque o Japão sofre muitos terremotos e está superpovoado.
Como o senhor vê a situação em Fukushima?
É uma central de mais de 40 anos. A Tepco decidiu ampliar a sua vida, e nós éramos contra. Também éramos contra a utilização de plutônio em seu terceiro reator. Mas a Agência de Segurança Nuclear está integrada ao Ministério da Economia, e isso não pode acontecer. A segurança das centrais era laxa, e estão muito perto do mar. Fukushima só estava preparada para um tsunami de seis metros. Técnicos da planta e dos EUA [que forneceu os reatores] haviam advertido dos problemas de segurança. Esse não foi um desastre natural, mas sim um desastre provocado pelo ser humano.
O governo foi acusado de ocultar informação.
O governo, a Tepco e a Agência de Segurança Nuclear não levaram a sério o que ocorreu. Logo depois do terremoto, os diretores da agência disseram ao primeiro-ministro Naoto Kan que a central estava sob controle. O monitoramento da radiação e a investigação sobre o plutônio [detectado em vários lugares da planta] foram muito lentas, assim como a reação do governo.
O que vocês pedem ao Executivo?
Eu fui a Minamisoma, dentro da zona de 20 a 30 quilômetros ao redor da central em que o governo recomendou que as pessoas não saíssem às ruas. Mas a comida só chegava até os 30 quilômetros, porque os motoristas não queriam entrar ou a polícia não lhes deixava. Em um asilo, estavam 180 idosos e só quatro cuidadores. Queremos que seja ampliada a área de exclusão em função da radioatividade. E que se entregue iodo a todas as crianças em um raio de 300 quilômetros.
O governo está informando de forma adequada?
O governo tem que explicar o que está acontecendo. Pode haver mais danos do que se diz. Ele deveria propôr o pior cenário, não para espalhar o medo, mas sim para estar preparados.
Como o senhor vê o papel da Tepco?
É um papel criminoso. Ela cometeu muitos erros. Embora quebre, a Tepco deve indenizar todas as vítimas.
Que consequências políticas a crise deveria ter?
Deveriam demitir os responsáveis da Tepco, do Ministério da Economia e da Agência de Segurança Nuclear. Naoto Kan já deveria ter ido embora há muito tempo.
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"A Tepco está cometendo muitos erros" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU