02 Abril 2011
Envolto no seu volumoso macacão de proteção branco, o pequeno homem Michelin tem a voz cansada. "Não, a radioatividade não me assusta", diz. "Mas o que eu mais precisava é de uma boa noite de sono".
A reportagem é de Pietro Del Re, publicada no jornal La Repubblica, 31-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Kazuma Yakota, 39 anos, tosse frequentemente, uma tosse nervosa, talvez por causa do pó venenoso que respira há algumas semanas, desde que, junto com algumas centenas de homens, está trabalhando na central de Fukushima na tentativa de impedir que a catástrofe nuclear em curso assuma proporções bíblicas.
"Gostaria também que nos fornecessem refeições quentes: não aguentamos mais as barrinhas energéticas e as comidas enlatadas". Como todo herói verdadeiro, Yakota não se lamenta do essencial, ou seja, do perigo que ele corre expondo-se a fortes doses de substâncias contaminantes.
Ele pede apenas pequenas coisas, acessórios para a atividade que desempenha, assim como uma janta decente e um colchão para repousar depois do trabalho. "Espero que os meus pedidos sejam ouvidos e que sejam tomados procedimentos o quanto antes".
Eis a entrevista.
Senhor Yakota, o senhor dirige os esquadrões de segurança da usina danificados pelo duplo cataclismo do dia 11 de março. Mas onde vocês se refugiam assim que o turno de trabalho acaba?
Dormimos em um edifício de dois andares dentro da própria central, que foi construído em julho passado especificamente para resistir às radiações. É aqui que estabelecemos o nosso quartel general.
E os muros deste edifício lhes protegem de verdade?
Não, infelizmente. Nesse espaço encouraçado, também medimos frequentemente níveis de radioatividade preocupantes. Dormimos em condições muito precárias. No lugar do colchão, temos uma esteira de chumbo que devemos nos proteger das radiações nucleares, reduzindo assim o risco para a saúde. Os técnicos as estendem nas salas de reuniões, nos corredores ou perto dos banheiros. Assim que retornam do trabalho, caem adormecidos sem nem trocar de roupa. Todos no chão, uns ao lado dos outros.
Vocês, voluntários, se sacrificam pelo bem alheio, como já ocorreu depois do acidente de Chernobyl, onde dezenas de "liquidadores" morreram por ter intervindo na fase de emergência ou por ter trabalhado na descontaminação ou na realização do sarcófago. Em que consiste o trabalho de vocês como superbombeiros?
Os homens devem principalmente limpar a central dos detritos provocados pelas explosões. Depois, devem colocar novos cabos elétricos para religar a energia necessária para o resfriamento e, enquanto isso, irrigar de água os reatores para evitar o sobreaquecimento das barras de combustível nuclear. Mas se trata de uma corrida contra o tempo. E todos os dias surgem novas dificuldades.
Como a de trabalhar em condições de risco proibitivas... Vocês estão protegidos adequadamente?
Temos um macacão, algumas luvas duplamente protegidas e uma máscara de proteção para o rosto. Além disso, os homens possuem uma lanterna, porque frequentemente são obrigados a trabalhar na escuridão.
Quais são os seus turnos de trabalho?
Os esquadrões ficam na central cerca de 48 horas. Depois, têm direito a um breve repouso fora dali. Buscamos não ficar de modo estável na usina, já que estamos permanentemente expostos a enormes doses radioativas. Todas as manhãs, nos reunimos para analisar o estado dos reatores, depois cada um recebe uma tarefa a ser desenvolvida. Frequentemente, trabalhamos ininterruptamente das 10h às 17h. Alguns de nós fazem o turno da noite, para controlar a evolução da situação até a manhã seguinte.
Mas quem compõe esses esquadrões de voluntários?
Na grande maioria, residentes que também foram vítimas do terremoto. Muitos deles não têm mais a casa, levada pelo tsunami. São pessoas que perderam tudo: o trabalho, a família, os amigos. Agora, estão colocando todas as suas energias nisso. O restabelecimento da central ou, pelo menos, a sua segurança tornou-se a sua nova razão de viver.
Como vocês se organizam para as refeições?
Comemos duas vezes por dia. De manhã, fazemos o café-da-manhã com biscoitos vitaminados e sucos de fruta. De noite, jantamos com arroz instantâneo e atum ou frango enlatado. Durante os primeiros dias da crise, até a água era racionada, e cada socorrista recebia apenas um litro e meio de água por dia. Agora, todos sabem que algumas substâncias radioativas podem ser facilmente eliminadas pela urina. Com tão pouco água à disposição, somos obrigados a lavar as mãos com álcool. E nenhum de nós pode tomar banho ou trocar de roupa. Depois, há um outro problema dentro do quartel general: não podemos ativar o sistema de ventilação por causa do nível de radioatividade externo e temos que vestir a máscara também fora das horas de trabalho.
Mas por que é tão difícil fornecer mais água, uma comida melhor do que a que vocês têm e roupas limpas?
Os helicópteros não podem sobrevoar a central por causa da forte radioatividade que se desprende para o alto. Por enquanto, a Tepco se virou com poucos e esporádicos ônibus que chegam até o interior da usina. Mas estou certo de que está buscando outros sistemas para nos suprir com o necessário. Desde os primeiros dias, em que jantávamos só pão seco e em que o sonho de todos nós era uma xícara de chá quente, a empresa já fez milagres.
Quantos vocês são ao todo?
Antes que a explosão danificasse o reator 2, a Tepco empregava cerca de 800 pessoas, incluindo os físicos nucleares. Os cerca de 50 técnicos que se ocupavam do esfriamento do reator foram então evacuados da usina, que ficou sem controle por diversos dias. Hoje, incluindo os voluntários locais e os 170 trabalhadores enviados pela empresa Hitachi, contam-se cerca de 500 empregados, que, obviamente, não são suficientes para desenvolver o enorme trabalho que permanece por ser feito. Mas é muito difícil contratar técnicos que tenham as competências apropriadas e que sejam capazes de intervir em um cenário desse tipo. São poucos aqueles capazes de restaurar o sistema de resfriamento dos reatores.
Na semana passada, dois operários foram atendidos com urgência depois de terem sido gravemente contaminados pela água que saiu de um reator, porque não tinham botas suficientemente altas. Você não acredita que esse episódio desencorajou novos candidatos?
É verdade, as condições de trabalho dentro da central tornam-se cada vez mais perigosas. Por isso, será sempre mais difícil encontrar outros técnicos que aceitem colocar a sua vida em risco.
Depois do acidente de Fukushima, o limite das radiações permitidas aos empregados nas emergências subiu de 100 para 250 millisievert por ano. Agora, já expostos a pouco mais de 100 millisievert em um ano, aumentam consideravelmente os riscos de contrair um câncer ao longo da vida, ainda mais que a radioatividade é absorvida nas células de uma vez por todas. Por que, então, essa nova norma?
Você não deve perguntar isso para mim, mas sim a quem decidiu legislar nesse sentido. Eu sei apenas que faço o meu melhor para impedir que os meus colaboradores se exponham mais do que o devido às radiações nucleares. Até porque não posso me permitir que adoeçam, visto que antes que os problemas da central se resolvam, passarão, sem dúvida, outros meses, senão outros anos.