28 Março 2011
Depois do acindente de Fukushima, a indústria nuclear optou por negar a evidência. A central funcionou perfeitamente, mas sofreu uma cadeia de desastres naturais incomparáveis e não há o que melhorar, foi a mensagem da maior parte do setor. Ao contrário, Eduardo Gallego, professor de engenharia nuclear na Universidadade Politécnica de Madri e vice-presidente da Sociedade Espanhola de Proteção radiológica, optou pelo realismo e em admitir sem alarmismo a gravidade do acidente, Eduardo Gallego em entrevista para o El País, 27-03-2011, disse que o "Japão precisa reconhecer os seus erros".
Eis a entrevista. A tradução é do Cepat.
Como vê os trabalhos em Fukushima?
O doente continua na UTI e a situação é muito grave. Há dados positivos, como a notícia de que foi bombeada água para os tanques de refrigeração e água doce a um dos reatores, mas não acabou. A recuperação do sistema de refrigeração é lenta. Recuperaram o fornecimento da energia elétrica, mas é preciso testar o sistema antes de acioná-lo. Os operários trabalham em condições severas e podem receber altas doses de radiação.
Não levaram muito tempo para restaurar a eletricidade?
As fotos mostram que a área está toda cheia de entulhos, barro, ferro... Ainda há dificuldades se aproximar com veículos. As explosões avariaram os sistemas todos e agora se devem fazer novas instalações elétricas. Isso leva tempo.
O Japão pecou pelo excesso de confiança?
Eu não sei se a culpa é da TEPCO, dos sismólogos ou das autoridades que concederam a licença, mas o Japão terá de reconhecer os seus erros. Isso não aconteceria se não se cometessem erros, um mínimo de avaliação de risco.
A central não deveria estar ao nível do mar?
Claro. Lemóniz está de 14 metros acima do nível do mar e Vandellòs a 21. Isso na Espanha, onde não há tsunamis. Por que o Japão não fez o mesmo? Estavam confiantes de que os diques resistiriam a qualquer onda, mas não foi assim.
O terremoto foi acima do projetado para a usina resistir?
Em 2007, um terremoto excedeu as bases do projeto da usina nuclear de Kashiwazaki Kariwa. Sensatamente, isso deveria ter obrigado a revisão de todas as centrais nucleares do Japão, e também em outros países. Parece que não aprendemos a lição.
O acidente no Japão é mais grave do que o de Harrisburg?
Muito, muito mais. Eu não tenho nenhuma dúvida. Em Harrisburg o vazamento foi anedótico: gases nobres e algo de iodo. Aqui estão grandes vazamentos, problemas graves de contaminação, o que obrigou-os a sair correndo várias vezes, e pontos quentes a dezenas de quilômetros da usina. Em Harrisburg evacuaram a população em menos de uma semana.
Mas o Japão qualifica o acidente como nível 5 (na escala INES, que varia de 0 a 7), o mesmo de Harrisburg.
Com os critérios da escala INES, o lógico é que termine no nível 6. O Japão demorou em passar do nível 4 ao 5 e o mesmo está acontecendo com o 6.
Como ficará a região junto à usina?
Estão medindo a radiação, mas em poucos pontos e quase nada na área evacuada. Ao noroeste da planta, mesmo fora da zona de exclusão há pontos em que é necessário retirar as pessoas ou realizar procedimentos de descontaminação.
Deve-se criar uma zona de exclusão?
É razoável. Pelo menos temporariamente. As pessoas não podem viver lá se não se detalha o que é que está acontecendo, mas isso exige que se meça cada metro e é uma tarefa de meses. Deveriam pedir ajuda internacional. Há duas equipes da OIEA, mas os países nucleares têm equipes móveis que poderiam ajudar. Senão, as pessoas não vão poder regressar às suas casas.
Como isso afetará a segurança nuclear no mundo?
Teremos que avaliar tudo, até mesmo a proteção física contra possíveis ataques. Nós descobrimos que não é necessário o rompimento da contenção para se causar danos em uma planta nuclear. A perda de fornecimento elétrico [para resfriamento] já é um problema.
As usinas nucleares espanholas e europeia passam no teste de resistência?
Eu acho que podem superar, mas isso depende de como serão feitos. Vai ser preciso reavaliar muitas coisas e estou convencido que será preciso investir mais. Assim é esta indústria.
Elevar os custos de segurança ficará mais caro e dificultará o renascimento da energia nuclear?
Sim, a energia nuclear se tornará menos competitiva, mas o pior é que aconteçam acidentes.
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"O Japão precisa reconhecer os seus erros" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU